São Paulo, segunda, 16 de novembro de 1998

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Oposição inicia busca de adesões para CPI

BERNARDINO FURTADO
da Reportagem Local

A oposição pretende começar hoje à tarde a recolher assinaturas de senadores para requerer uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) destinada a investigar o processo de privatizações no governo Fernando Henrique.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), líder da bancada do partido e do bloco de oposição no Senado, disse ter redigido ontem o esboço do requerimento, que será submetido hoje à direção nacional do PT.
A base principal do requerimento serão os trechos gravados por meio de grampo telefônico de conversas do presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), André Lara Resende, com Pérsio Arida, sócio do banco Opportunity, e com o ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros (Comunicações).
Segundo Suplicy, o requerimento vai atribuir à CPI quatro objetos de investigação:
1) A forma como o BNDES concedeu empréstimos a juros menores dos que os de mercado para que grupos comprassem estatais nos leilões de privatização;
2) A ação do Planalto, do Ministério das Comunicações e do Banco do Brasil para que os fundos de pensão de estatais, como a Previ (dos funcionários do BB), participassem dos leilões de modo a assegurar determinados resultados;
3) A legalidade das intervenções do governo retratadas nos diálogos telefônicos de Lara Resende com Mendonça de Barros e Arida;
4) O processo de concentração de poder, patrimônio e renda nas mãos dos beneficiários do processo de privatização, ou seja, os compradores das antigas estatais.
Suplicy disse que antes de começar a recolher assinaturas dos colegas de Senado, vai discutir o texto do requerimento com senadores de outros partidos, como o PMDB.
A idéia, segundo ele, é conseguir previamente o mais amplo apoio possível para o requerimento, já que a Constituição exige a adesão de um terço dos senadores.

"Processo incontrolável"
A divulgação do conteúdo das fitas com as conversas grampeadas foi recebida pela oposição como o início de "um processo incontrolável de revelações de fatos".
Os líderes dos partidos têm um encontro marcado para hoje, mas ontem, em conversas telefônicas, definiram duas linhas de atuação: investigar o processo de privatização, chegando até a uma CPI, e requerer ao Ministério Público a abertura de um inquérito civil público contra o ministro das Comunicações por ter admitido que para "estimular a competitividade", na privatização da Vale do Rio Doce, incentivou a formação de um segundo consórcio.
"Essa coisa de organizar um consórcio mostra que o ministro agiu como se estivesse vendendo um apartamento seu", afirmou o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ).
Para o deputado José Genoino (PT-SP), as gravações "colocam em xeque" a privatização da Telebrás. "Na verdade, agora sabemos, todo o modelo de privatização é uma grande negociata", afirmou.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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