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São Paulo, terça-feira, 16 de dezembro de 2003

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JANIO DE FREITAS

Jóias no varejo

Cristovam Buarque, ministro da Educação, gosta de fazer frases. Depois de um discurso que nem lhe fora pedido em apoio às expulsões no PT, saiu-se com o acaciano comentário de que a história julgará as atitudes dos petistas de um e de outro lado presentes no julgamento.
Não é preciso esperar tanto. O julgamento, naquele tribunal, foi tanto dos julgados como dos julgadores. A diferença ficou nas penas. A dos julgados foi formal, a dos julgadores foi moral.
Talvez a largueza de tempo imaginada por Cristovam Buarque se deva ao seu ritmo, pessoal ou ministerial. Levou 11 meses, praticamente um quarto de mandato governamental, para apresentar uma proposta de melhoria do provão.
A propósito, aí está o resultado de mais um provão. Mais uma vez os cursos de faculdades privadas exibem falta de qualidade injustificável. É assim desde o início do provão, e nada foi feito -o que iguala a inutilidade do provão à dos dois ministros que dele se ocuparam, Paulo Renato Souza e Cristovam Buarque.
Apesar dos três, as universidades federais confirmam sua qualidade superior. Seguidas pelas estaduais e municipais.

Identidades
Mônica Bergamo informa que Tarso Genro, a ser capa de uma revista de Luiz Carlos Mendonça de Barros, elogiou ao próprio a privatização das empresas de telefonia feita pelo mesmo Mendonça de Barros.
Com tanto conhecimento pessoal e da privatização, Tarso Genro bem que poderia aproveitar a entrevista para explicar o motivo da viagem secreta de Mendonça de Barros à Espanha, por ocasião das privatizações em que a fatia mais vantajosa caiu exatamente em mãos espanholas.
Tarso Genro inspirou, com justiça, a frase mais impressionante de todo o caso da repressão e expulsão no PT. A frase foi de sua filha, a deputada (expulsa do PT) Luciana Genro, quando informada por um repórter de que seu pai não iria ao julgamento: "Ainda bem, porque, se fosse, votaria pela expulsão".

Cidadã especial
O destino dos presentes dados a governantes, em especial a presidentes, é assunto de limites imprecisos, entre os casos em que devem ser depositados como bens da Presidência e aqueles que poderiam ficar com o presenteado. Lula diz que passou adiante "dois pangarés", que não o eram, a ele presenteados em feira no Rio Grande do Sul. Cavalos, no caso, não seriam bens pessoais. Entre os outros motivos, porque a presentes de valor superior a R$ 100 não são admitidos, na administração pública, como pessoais.
Jóias presenteadas a Marisa Silva, na viagem ao Oriente Médio, tornaram-se assunto jornalístico, a propósito do destino mais adequado. Presidente da Comissão de Ética Pública, José Geraldo Piquet Carneiro emitiu uma apreciação tomada como sentença definitiva. Marisa Silva, segundo Piquet Carneiro, "é uma cidadã comum e, nessa condição, é livre para aceitar presentes de qualquer valor de quem quer que seja" (texto da Folha de sábado). Marisa Silva reside em palácio presidencial, tem gabinete no Planalto, tem funcionários na Presidência à sua disposição, usufrui da gordíssima verba de representação da Presidência para apresentar-se com a elegância de sua preferência -e não há "cidadã comum" que desfrute de uma só, uma que seja, de tais regalias.
Marisa Silva talvez possa ou deva ficar com a jóia e outros presentes que não tenham sentido na Presidência. Mas não pelo argumento insustentável com que o presidente da Comissão de Ética Pública a favorece.


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