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JANIO DE FREITAS
Jóias no varejo
Cristovam Buarque, ministro da Educação, gosta
de fazer frases. Depois de um
discurso que nem lhe fora pedido em apoio às expulsões no PT,
saiu-se com o acaciano comentário de que a história julgará as
atitudes dos petistas de um e de
outro lado presentes no julgamento.
Não é preciso esperar tanto. O
julgamento, naquele tribunal,
foi tanto dos julgados como dos
julgadores. A diferença ficou
nas penas. A dos julgados foi
formal, a dos julgadores foi moral.
Talvez a largueza de tempo
imaginada por Cristovam
Buarque se deva ao seu ritmo,
pessoal ou ministerial. Levou 11
meses, praticamente um quarto
de mandato governamental,
para apresentar uma proposta
de melhoria do provão.
A propósito, aí está o resultado de mais um provão. Mais
uma vez os cursos de faculdades
privadas exibem falta de qualidade injustificável. É assim desde o início do provão, e nada foi
feito -o que iguala a inutilidade do provão à dos dois ministros que dele se ocuparam, Paulo Renato Souza e Cristovam
Buarque.
Apesar dos três, as universidades federais confirmam sua
qualidade superior. Seguidas
pelas estaduais e municipais.
Identidades
Mônica Bergamo informa que
Tarso Genro, a ser capa de uma
revista de Luiz Carlos Mendonça de Barros, elogiou ao próprio
a privatização das empresas de
telefonia feita pelo mesmo Mendonça de Barros.
Com tanto conhecimento pessoal e da privatização, Tarso
Genro bem que poderia aproveitar a entrevista para explicar
o motivo da viagem secreta de
Mendonça de Barros à Espanha, por ocasião das privatizações em que a fatia mais vantajosa caiu exatamente em mãos
espanholas.
Tarso Genro inspirou, com
justiça, a frase mais impressionante de todo o caso da repressão e expulsão no PT. A frase foi
de sua filha, a deputada (expulsa do PT) Luciana Genro, quando informada por um repórter
de que seu pai não iria ao julgamento: "Ainda bem, porque, se
fosse, votaria pela expulsão".
Cidadã especial
O destino dos presentes dados
a governantes, em especial a
presidentes, é assunto de limites
imprecisos, entre os casos em
que devem ser depositados como bens da Presidência e aqueles que poderiam ficar com o
presenteado. Lula diz que passou adiante "dois pangarés",
que não o eram, a ele presenteados em feira no Rio Grande do
Sul. Cavalos, no caso, não seriam bens pessoais. Entre os outros motivos, porque a presentes
de valor superior a R$ 100 não
são admitidos, na administração pública, como pessoais.
Jóias presenteadas a Marisa
Silva, na viagem ao Oriente Médio, tornaram-se assunto jornalístico, a propósito do destino
mais adequado. Presidente da
Comissão de Ética Pública, José
Geraldo Piquet Carneiro emitiu
uma apreciação tomada como
sentença definitiva. Marisa Silva, segundo Piquet Carneiro, "é
uma cidadã comum e, nessa
condição, é livre para aceitar
presentes de qualquer valor de
quem quer que seja" (texto da
Folha de sábado). Marisa Silva
reside em palácio presidencial,
tem gabinete no Planalto, tem
funcionários na Presidência à
sua disposição, usufrui da gordíssima verba de representação
da Presidência para apresentar-se com a elegância de sua preferência -e não há "cidadã comum" que desfrute de uma só,
uma que seja, de tais regalias.
Marisa Silva talvez possa ou
deva ficar com a jóia e outros
presentes que não tenham sentido na Presidência. Mas não
pelo argumento insustentável
com que o presidente da Comissão de Ética Pública a favorece.
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