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APOSENTADORIA
Número representa 56,3% da parcela da população economicamente ativa que está ocupada
39 milhões não pagam a Previdência
CLÁUDIA TREVISAN
da Reportagem Local
Nada menos que 39 milhões de
trabalhadores brasileiros não fazem nenhum tipo de contribuição
para institutos de Previdência e estão à margem do sistema oficial de
aposentadoria.
O número, de 1997, representa
56,3% da parcela da PEA (População Economicamente Ativa) que
está ocupada. O restante, 30,3 milhões, é formado por contribuintes
da Previdência Social.
Como esses 39 milhões vão envelhecer um dia, a situação é insustentável. "Do ponto de vista econômico-financeiro, isso é uma
loucura", diz Wladimir Novaes
Martinez, advogado especialista
em legislação previdenciária.
Na origem do problema estão a
informalidade do mercado de trabalho, a crise econômica, os baixos
rendimentos e a própria ausência
de uma "cultura do seguro" na sociedade brasileira.
Conta própria
A análise da composição da PEA
permite entender parte do fenômeno. Das 69,3 milhões de pessoas
ocupadas, apenas 25,6 milhões
(36,9%) trabalham com carteira
assinada ou outro mecanismo que
oficializa a relação de emprego
(como estatutários e militares).
Se forem subtraídos os 2,8 milhões de empregadores, sobram
40,9 milhões de pessoas (59% da
PEA) que são empregadas sem
carteira assinada ou que trabalham por conta própria.
O universo da "conta própria" é
formado por 15,7 milhões de pessoas e inclui profissionais como taxistas, camelôs e corretores. Classificados como autônomos, eles só
contribuem para a Previdência se
quiserem, já que não é possível
promover descontos automáticos
em seus rendimentos.
Os taxistas Antonio Martins Fernandes e José Fernando Trindade
têm a mesma idade, 47, trabalham
no mesmo ponto de táxi, mas adotam atitudes opostas diante da
Previdência Social.
Fernandes trabalha por conta
própria há 26 anos, 6 dos quais como taxista. Em todo esse período,
não deixou de pagar a Previdência.
Agora, calcula que precisará contribuir por mais cerca de cinco
anos para se aposentar.
Antes de se tornar taxista, há 18
anos, Trindade trabalhou 5 anos
com carteira assinada. Depois que
se tornou autônomo, contribuiu
para a Previdência, mas parou há
nove anos. "Aposentar para receber dois salários-mínimos? Eu não
vejo vantagem", diz Trindade, que
ganha cerca de R$ 1.700 por mês.
De qualquer forma, ele diz que
pretende voltar a contribuir.
Assistência social
O secretário-executivo do Ministério da Previdência e Assistência
Social, José Cechin, diz que parte
das pessoas que não contribuem
para a Previdência vão acabar amparadas pela assistência social.
O governo paga hoje um salário-mínimo para cerca de 2 milhões de
deficientes físicos que não podem
trabalhar e idosos com mais de 67
anos que vivem em famílias cuja
renda "per capita" é inferior a um
quarto do salário-mínimo.
"Mas a assistência social não pode substituir a Previdência", diz.
Outro caminho apontado por
Cechin é o sustento dos pais idosos
pelos filhos -modelo que era a regra até pouco tempo.
O problema é que diminui o número de pessoas que não têm filhos e aumenta o de filhos que não
têm condição econômica de sustentar os pais.
Marcelo Estevão, secretário de
Previdência Social do ministério,
afirma que a proporção de pessoas
que não contribui para a Previdência cresceu na década de 90, com o
aumento da informalidade. Num
quadro de recessão econômica, a
situação tende a se agravar.
Mas Estevão é otimista em relação ao futuro. Segundo ele, a informalidade poderá diminuir com a
redução dos encargos sobre a folha
de salário, o aumento da fiscalização e a retomada do crescimento
econômico. Além disso, ele acredita que o número de contribuintes
tende a aumentar com a ampliação
das exigências para a concessão de
aposentadoria.
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