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SOMBRA NO PLANALTO
Chefe da Casa Civil diz que fatos ocorreram em 2002 e que o Planalto agiu rápido
Para Dirceu, caso da propina não envolve o governo Lula
Sérgio Lima/Folha Imagem
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José Dirceu discursa no Museu do Senado; atrás, óleo de Gustavo Hastoy retrata a assinatura do projeto da primeira Carta republicana |
EDUARDO SCOLESE
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao falar publicamente pela primeira vez sobre as acusações de
que um de seus principais assessores negociava contratos em troca de propinas e doações para
campanhas eleitorais, o ministro
José Dirceu (Casa Civil) disse que
o caso nada tem a ver com o governo federal e que cabe à polícia,
ao Ministério Público e ao Congresso apurar o episódio.
Segundo ele, que enfatizou que
a negociação ocorreu antes de o
início da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, o governo agiu "imediatamente" na última sexta-feira,
ao exonerar Waldomiro Diniz da
Subchefia de Assuntos Parlamentares da Presidência da República.
"Com relação aos fatos que levaram à exoneração do ex-subchefe de Assuntos Parlamentares
da Casa Civil [Waldomiro Diniz]
(...), quero declarar que os fatos
denunciados aconteceram em
2002, antes do atual governo, no
Estado do Rio de Janeiro. Não foi
apontada nenhuma irregularidade durante o atual governo."
Waldomiro, que à época do caso comandava a Loterj (Loteria do
Estado do Rio de Janeiro) na administração Benedita da Silva
(PT), assumiu a subchefia no início da gestão Lula. No mês passado, com a reforma ministerial, seu
cargo passou a ser subordinado à
Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais, de
Aldo Rebelo (PC do B-SP).
Dirceu elogiou a atitude do Palácio do Planalto diante das acusações. "O atual governo agiu
imediatamente exonerando o
subchefe de assuntos parlamentares, mandando a autoridade competente instaurar inquérito policial. É público e notório que o Ministério Público também o fez."
Apesar de o governo afirmar que
exonerou Diniz, no "Diário Oficial" da União foi registrado que
sua saída se deu "a pedido".
Dirceu encerrou seu discurso
reconhecendo, pelo menos nas
palavras, a possibilidade de abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) sobre o
caso: "Qualquer outra iniciativa
cabe às autoridades do Ministério
Público, às autoridades da Polícia
Judiciária e ao Parlamento brasileiro". O presidente do PT, José
Genoino, afirmou ontem que o
partido é contrário à instalação de
uma CPI no Congresso.
Sem perguntas
Em rápido pronunciamento,
organizado para que falasse sobre
o caso sem que pudesse ser questionado por jornalistas, Dirceu
não citou em nenhum momento
o nome de seu antigo homem de
confiança, com quem chegou a
dividir apartamento. Ao se referir
a ele, por duas vezes, preferiu tratá-lo apenas de "ex-subchefe".
Dirceu falou de forma improvisada por cerca de dois minutos
em uma sala do Congresso Nacional, onde, antes, entregara a mensagem presidencial do início do
ano legislativo aos presidentes da
Câmara dos Deputados, João
Paulo Cunha (PT-SP), e do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
Não foram permitidas perguntas ao ministro da Casa Civil, que
falou em um microfone instalado
no local cercado por parlamentares e assessores, entre os quais os
senadores Aloizio Mercadante
(PT-SP), Tião Viana (PT-AC) e
Renan Calheiros (PMDB-AL).
O formato de sua fala, curta e
exclusiva sobre o caso, foi definido ontem pela manhã, em reunião da cúpula do governo com o
presidente Lula, no Planalto.
Também participaram da reunião Mercadante, o deputado Miro Teixeira (sem partido-RJ), e o
ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Segundo Dirceu, tal
formato foi definido "para evitar
tumultos nos corredores da Câmara e do Senado".
A participação de Márcio Thomaz Bastos na reunião de ontem
pela manhã no Planalto, aliás, foi
justamente para detalhar a investigação da PF e informar sobre a
participação da Procuradoria da
República na apuração.
Dirceu chegou ao Congresso
por volta das 12h, onde foi recebido na rampa da Casa por Sarney,
João Paulo e um batalhão de deputados e senadores. O ministro
recebeu abraços, beijos e tapinhas
nas costas. Falou na saída, uma
hora depois. Até o final da tarde,
só despachou em seu gabinete.
No plenário do Senado, onde a
sessão solene de instalação dos
trabalhos tomou corpo de um ato
de desagravo ao ministro, Dirceu
ouviu as falas de José Sarney, João
Paulo Cunha e Maurício Corrêa,
presidente do STF (Supremo Tribunal Federal).
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