São Paulo, terça-feira, 17 de fevereiro de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Petistas são enquadrados, e PFL decide liberar bancada, favorecendo Planalto na operação para impedir comissão de inquérito

Governo age e obtém vitórias contra CPI

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo conseguiu ontem enquadrar a bancada do PT no Senado, primeiro movimento que dificulta bastante a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o caso Waldomiro Diniz.
Enquanto unificou o discurso dos petistas e dos aliados contra a CPI, o governo obteve vitórias pontuais, mas importantes. O PFL do Senado liberou a sua bancada de 17 senadores. Ou seja, o governo poderá pescar votos pefelistas para evitar a instalação da comissão, especialmente no grupo de Antonio Carlos Magalhães (BA) e Roseana Sarney (MA).
Já o PSDB (11 senadores) recomendou voto pró-CPI, mas não fechou questão -isso dá margem a negociações do governo com setores tucanos. Na reunião, os senadores Tasso Jereissati (CE) e Siqueira Campos (TO), que têm boa relação com Lula, manifestaram-se contra a CPI.
A prioridade do governo foi acabar com a dubiedade da bancada de 13 senadores petistas. Essa estratégia foi fechada em almoço ontem do presidente do PT, José Genoino, com os líderes do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP), do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), e do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP). Também participou o ex-líder do PT no Senado Tião Viana (AC), que havia apoiado a investigação.
"O PT não dará as assinaturas para a CPI", disse Genoino. Após o almoço, ele foi conversar com o senador Eduardo Suplicy (SP), defensor da CPI. Genoino fez apelo para que Suplicy fique com a bancada, que adiou reunião de ontem para hoje a fim de ter tempo de articular o fechamento de questão contra a CPI.
A estratégia do PT é, ao enquadrar a bancada no Senado, evitar a CPI, que precisa de 27 adesões (um terço da Casa, segundo o regulamento) para ser instalada. O enquadramento levará o PMDB, que se reúne hoje, a não apoiar a CPI. Dos 23 senadores do PMDB, só Mão Santa (PI) assinou a CPI. O governo avalia que, sem PT e PMDB, mais setores do PSDB e do PFL, conseguirá deixar a lista de apoios na casa dos 20 votos, insuficientes para abertura da CPI.
Os argumentos usados pelo governo são de que os fatos dizem respeito a um episódio de 2002. A fita de vídeo mostra Diniz, homem da confiança de Dirceu, pedindo propina e contribuição de campanha a um empresário. Na época, Diniz era presidente da Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro). Depois, virou auxiliar de Dirceu na Casa Civil, onde cuidava da relação com Congresso.
Diniz foi demitido na sexta, com a divulgação do caso. Sem relação com o governo Lula, a CPI seria uma ofensiva do PSDB para desestabilizar o governo. Os tucanos negam. Renan Calheiros (PMDB-AL) mostrou preocupação com os efeitos da CPI para o país. Já o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) defendeu Dirceu.
No Rio de Janeiro, líderes das bancadas da Assembléia Legislativa se reúnem hoje para discutir a instalação de uma CPI para apurar a gestão de Diniz na Loterj.
O deputado estadual gaúcho Carlos Eduardo Vieira da Cunha (PDT) disse que pretende reabrir a CPI que investigou a ligação do governo petista de Olívio Dutra (1999-2002) no Rio Grande do Sul com o jogo do bicho.
(FERNANDA KRAKOVICS, RANIER BRAGON E KENNEDY ALENCAR)


Colaboraram a Sucursal do Rio e a Agência Folha, em Porto Alegre


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