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OMBUDSMAN
Musculatura fria
BERNARDO AJZENBERG
A ação da Polícia Federal na
empresa Lunus, no primeiro
dia do mês, pegou o mundo político e a imprensa no contrapé.
Se a decisão do Tribunal Superior Eleitoral de verticalizar as
coligações causara rebuliço, a
operação policial virou o quadro
sucessório de pernas para o ar.
Surpresas ocorrem. A questão é
como reagir a elas. E nesse aspecto a Folha mostrou que ainda estava fria. Demorou para usar os
instrumentos com os quais costuma se sair bem em momentos de
crise aguda.
Somente ontem, 15 dias após a
eclosão da reviravolta, o jornal
produziu algo que facilitasse a
vida do leitor, permitindo-lhe visualizar em conjunto, amarrando-as num quadro mais completo ("arte", no jargão da Redação), as ramificações da Lunus.
Desde 5 de março houve 14 "artes" diversas, todas no entanto
parciais, e muitas repetitivas.
Não se trata só de vontade editorial, mas de lerdeza para se mexer e compreender os eventos como um todo.
São três as facetas do caso: a
profundidade da crise política; o
envolvimento do PSDB na ação
da PF; a apuração de irregularidades da Lunus. O desafio é desvendar cada uma delas e, ao
mesmo tempo, reuni-las.
Politicamente, apesar da demora, a Folha mostrou o principal: desenhava-se uma cisão séria no governo entre PSDB e PFL.
Por outro lado, não integrou o
coral da mídia (destaque para
"Veja", "Época" e TV Globo) que
promoveu o massacre da governadora do MA. Leitores até se
queixaram nos primeiros dias de
um suposto biombo que ela teria
erguido para proteger a filha de
um colunista seu (José Sarney).
Essa diferenciação, porém, não
resultou apenas de uma posição
de cautela, mas sim, também, de
uma deficiência. E aqui entram
as outras faces do caso, ambas
implicando difícil investigação
jornalística.
Interrogações
Aqui a Folha marcou pontos,
mas oscilou mais do que se estivesse com o corpo aquecido.
No dia 6, por exemplo, divulgou denúncia de Sarney de que
um fax fora enviado da Lunus
pelos agentes da PF ao Alvorada
informando o "sucesso" da ação.
O tal fax é detalhe e pode ter sido um blefe, mas a verdade é que
ele, após desmentido de FHC, sumiu do noticiário sem elucidação cabal. Sarney teria mentido?
Mais: o jornal ainda não mostrou se a ação da PF teve, afinal,
respaldo legal. E pelo menos até
ontem mal avançara quanto à
suposta mão serrista no "dossiê"
anti-Roseana.
Os gols mais importantes marcados até ontem: a descoberta de
que o diretor-geral da PF é filiado ao PSDB e a revelação do contrato entre a Saúde e uma empresa de contra-espionagem.
E o célebre R$ 1,34 milhão em
espécie, ponto-chave na apuração de irregularidades apontadas contra Roseana/Murad? A
Folha deu dia 8 a fulminante
imagem das notas, mas patinou
quanto à sua origem. Após ventilar várias versões, pareceu se contentar com a de Murad (doação
de campanha), enquanto o "Globo", por exemplo, publicou declaração de gente próxima ao
empresário desmentindo itens do
que ele dissera.
A campanha começou para valer e promete novas reviravoltas
na guerra suja de dossiês. Que os
primeiros dias de março tenham
servido para o jornal acelerar o
aquecimento de seus músculos.
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