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RAIO X
Lula busca alianças à direita e investe no petismo de resultados
Líder do PT exibe traços caudilhescos e busca amenizar discurso para evitar nova derrota
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Luiz Inácio Lula da Silva que
os petistas confirmam hoje como
candidato a presidente da República pela quarta vez consecutiva
está mais conservador do que em
1989, menos controlado pelas alas
radicais do que em 1994 e mais
contestado como líder internamente do que em 1998.
Para arrepio do próprio, é fato
que Lula está menos petista do
que antes- se verá por quais motivos- e com traços identificados
como caudilhescos por seus companheiros. Chegou a ameaçar desistir da sua candidatura, quando
teve contestada sua aproximação
com o PL de José Alencar e Luiz
Antonio de Medeiros, o primeiro
um grande empresário do setor
têxtil, o segundo o maior líder da
Força Sindical, adversária da
CUT, aliada petista.
Afastado da rotina partidária
desde 1995, quando saiu da presidência do PT e acabrunhou-se
com a derrota para Fernando
Henrique Cardoso, Lula deixou
de frequentar quase diariamente
a sede do partido.
Passou a dar expediente no Instituto Cidadania (leia texto na
pág. A-16), organização não-governamental com a qual se protegeu das maledicências de não ter
um emprego -acusação constante dos adversários- e de ver-se atingido pelo fim de sua unanimidade interna.
Erros
A derrota para Fernando Henrique Cardoso em 1994 mostrou
que o comando de campanha de
Lula cometeu equívocos. Em
maio daquele ano, o PT assim
diagnosticava o futuro do Real e
da candidatura tucana: "As chances de sucesso eleitoral de FHC,
baseadas em boa medida no plano econômico concebido para ser
mais um estelionato eleitoral, são
reduzidas: falta ao "cruzado dos
ricos" o mínimo apelo popular".
O país estava apenas a dois meses do início de circulação do real,
que viria provocar imediata virada eleitoral em favor de FHC.
À falta de tino econômico juntou-se, no campo político, um voluntarismo ingênuo: "É preciso
reafirmar e frisar que, nesta disputa histórica de 1994, o resultado
do jogo será menos decidido pelos esquemas eletrônicos de propaganda na TV, pelos recursos
tecnológicos e financeiros de cada
candidato. O jogo será decidido
pela raça dos que entrarem na luta
com disposição de ganhar."
O PT colocara o velhaco jargão
sindical-futebolístico da "raça"
no lugar do confronto de classes
marxista. "As eleições de 1994 revelaram, de forma definitiva, a
precariedade de nossa organização, de nossas finanças, o caráter
amador de nosso trabalho de direção e a consequente necessidade de qualificá-lo", admitiram os
petistas em documento de 1995.
Mudança
Operado por José Dirceu -que
foi eleito presidente em 1995, com
54,02% dos votos, e reeleito em
1997, 1999 e 2001- o partido iniciou a aproximação com o centro.
Em dezembro de 1987, programaticamente o PT propunha "a
estatização da indústria do cimento, para viabilizar construção
de moradias", para citar uma das
medidas que propugnava.
Defendia o enfrentamento:
"Sendo um partido da luta social,
o PT está presente em todas as
greves, lutas populares e ocupações de terra. Quando há repressão, existe imagem de "bagunça", e
um partido realmente comprometido com as lutas do povo não
tem por que fugir disso".
A perda da radicalidade antes
louvada começou a ser realçada
com a eleição de 1998. O partido
via-se enfraquecido pela consolidação da hegemonia que batizou
de neoliberal. Esqueceu-se das
críticas a Leonel Brizola (PDT) e
Orestes Quércia (PMDB), antes
definidos como a "serviço da direita", e aceitou-os a seu lado.
Perderam juntos. Mas foi consolidada a estratégia delineada
por Lula em 98 e agora consolidada. Ser maior que o partido, portanto, menos petista.
Resultou na atual política de
alianças que tenta acordos com
PL e parte do PMDB. E, na atual
diretriz de governo, que troca, por
exemplo, a suspensão do pagamento da dívida pela "redução
substantiva e progressiva do comprometimento das receitas com o
pagamento de juros".
A guinada ao centro vale também para o marketing eleitoral.
Em 1989, os petistas formularam
um conceito em que dificilmente
se enquadraria o trabalho de Duda Mendonça, que cuidará da
campanha deste ano numa linha
que já anunciou como emotiva.
"Programas devem combinar o
conteúdo político geral da campanha com formas estéticas, criativas e originais, que não descaracterizem aquele conteúdo."
Chances
Lula repete ser esta a eleição em
que vê mais chances de vitória. Ficou tão descontente com as prévias que, na reunião interna em
um hotel em Recife em que aceitou disputá-la, disse: "Vocês podem me inscrever, mas essa prévia é artificial. Não vou bater boca", relata um participante.
Esse tipo de atitude -somada a
questões de comportamento como dirigir-se a membros da direção nacional do partido com o vocativo "meus filhos"- faz com
que petistas apontem traços caudilhescos em Lula. Acha-se credor
em suas relações com os atuais dirigentes partidários, sem que esses reconheçam suas dívidas.
Maior que o PT Lula é, mas o PT
não é só Lula, afirma um petista.
Religioso, casado há 28 anos
com Marisa, Lula não é um homem de livros. "Ele não precisa.
Conversa com os autores. Com
sua inteligência, capta tudo", declara Frei Betto, amigo próximo.
Desde janeiro, Lula tem se dedicado mais a prazeres caseiros, como cozinhar, do que à campanha.
A partir de quarta-feira, quando
sai o resultado das prévias, volta
às ruas e às viagens, com visitas a
Argentina, Chile, França e Estados Unidos até maio.
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