|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENSÃO NO CAMPO
Os dois únicos condenados aguardam recurso em liberdade; país deve ter de indenizar famílias das vítimas
OEA deve condenar Brasil pelo massacre de Carajás
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
A OEA (Organização dos Estados Americanos) deve obrigar o
Brasil a indenizar os familiares
dos 19 sem-terra mortos pela Polícia Militar no massacre de Eldorado do Carajás, ocorrido em 17 de
abril de 1996, no sul do Pará.
"O governo brasileiro será responsabilizado por não tomar medidas para evitar ou minimizar a
violência rural do Pará e pelo fato
de as violações de direitos humanos terem sido cometidas diretamente por agentes do Estado no
caso", disse a subprocuradora-geral da República e procuradora
Federal dos Direitos do Cidadão,
Maria Eliane Menezes de Farias.
Segundo a perícia, os sem-terra
-que obstruíam uma rodovia-
foram mortos com tiros à queima-roupa e golpes de machado e
facão. Dos 142 policiais acusados,
só os dois comandantes da ação
foram condenados, mas aguardam há um ano em liberdade o
julgamento de recursos.
Em março, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos
da OEA abriu processo sobre as
supostas violações de artigos da
Convenção Americana sobre Direitos Humanos. Se condenado, o
Brasil poderá sofrer sanções jurídicas, sendo obrigado a indenizar
as famílias das vítimas.
O coronel Mário Colares Pantoja e o major José Oliveira foram
condenados a 228 e 158 anos de
prisão, respectivamente, mas
aguardam o julgamento da apelação em liberdade.
Os promotores e a defesa entraram com recursos. Segundo o juiz
do caso, Roberto Moura, "essa fase de vista dos autos deve demorar pelo menos mais três meses.
Só depois os recursos serão julgados pelas Câmaras Criminas do
Tribunal de Justiça". Tanto a defesa quanto a acusação ainda poderão recorrer. "Os condenados poderão ficar em liberdade, no mínimo, mais três ou quatros anos recorrendo", disse o advogado
Marco Apolo, que foi assistente
da Promotoria no julgamento.
Manifestações
Integrantes do MST fizeram
manifestações ontem pelo país.
Em Belém, ao menos 700 acamparam em frente ao TJ. Em Recife,
mais de 3.000, segundo o MST,
participaram de um protesto.
No Rio Grande do Sul, quatro
caminhadas, com mais de 2.500
integrantes, chegaram a Porto
Alegre, Cruz Alta, Pelotas e Santana do Livramento. Um grupo de
cerca de 2.500 sem-terra chegou
ontem a Maceió. Em Belo Horizonte, cerca de 800 fizeram uma
caminhada até a sede do Incra.
Texto Anterior: Taxa de escolarização cresceu; 15,5% são beneficiados por programa social Próximo Texto: Sobreviventes têm sequelas e querem ser indenizados Índice
|