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São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2003

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Sobreviventes têm sequelas e querem ser indenizados

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

"Eu tenho certeza de que não foram só os 19 mortos oficiais no massacre de Carajás. Eu mesmo vi uma criança morrer do meu lado. Até hoje ainda tenho pesadelos com aquele dia".
A frase do agricultor Josimar Pereira de Freitas, 39, hoje assentado em uma área na zona rural de Eldorado do Carajás, reflete o trauma vivido por ele até hoje desde o dia 17 de abril de 1996.
"Minha perna direita foi quebrada por um tiro que atravessou na altura da canela. Só consegui me salvar porque me arrastaram para um lugar mais seguro", afirma.
Pai de três filhos, Freitas continua membro do MST, mas hoje não participa de manifestações e passeatas por causa das dores que ainda sente na perna. "Tenho dificuldades para trabalhar. Tomo remédios todos os dias para evitar as câimbras", diz.
Freitas é um dos sobreviventes do massacre que aguardam há cinco anos o resultado de uma ação por danos morais contra o Estado. O grupo -que se intitula "mutilados de Carajás"- pede uma indenização de R$ 300 mil para cada um dos 56 sobreviventes.

Assentada
Outra sobrevivente do massacre, Rubenita Justiniano da Silva, 35, atualmente mora no assentamento 17 de abril, em Eldorado do Carajás.
"Levei um tiro de revólver no pescoço e perdi sete dentes. Não trabalho desde o massacre, preciso tomar remédios e me alimento basicamente de líquidos por causa dos ferimentos", afirma.
Rubenita também sustenta a tese de que aconteceram mais mortes do que as 19 oficiais. "Muita gente foi morta no meio do mato e enterrada por lá. Só não foi possível provar porque o local do crime foi totalmente alterado e os corpos foram removidos logo após o confronto", relata.
O trabalhador rural José da Natividade, 40, conta que até hoje não pode se locomover nem trabalhar por causa de uma fratura exposta na perna direita. "Já sofri duas cirurgias e sinto fortes dores. Não tenho assistência nenhuma dos poderes públicos." (MS)


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