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Sobreviventes têm sequelas e querem ser indenizados
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
"Eu tenho certeza de que não
foram só os 19 mortos oficiais
no massacre de Carajás. Eu
mesmo vi uma criança morrer
do meu lado. Até hoje ainda tenho pesadelos com aquele dia".
A frase do agricultor Josimar
Pereira de Freitas, 39, hoje assentado em uma área na zona
rural de Eldorado do Carajás,
reflete o trauma vivido por ele
até hoje desde o dia 17 de abril
de 1996.
"Minha perna direita foi quebrada por um tiro que atravessou na altura da canela. Só consegui me salvar porque me arrastaram para um lugar mais
seguro", afirma.
Pai de três filhos, Freitas continua membro do MST, mas
hoje não participa de manifestações e passeatas por causa
das dores que ainda sente na
perna. "Tenho dificuldades para trabalhar. Tomo remédios
todos os dias para evitar as
câimbras", diz.
Freitas é um dos sobreviventes do massacre que aguardam
há cinco anos o resultado de
uma ação por danos morais
contra o Estado. O grupo
-que se intitula "mutilados de
Carajás"- pede uma indenização de R$ 300 mil para cada
um dos 56 sobreviventes.
Assentada
Outra sobrevivente do massacre, Rubenita Justiniano da
Silva, 35, atualmente mora no
assentamento 17 de abril, em
Eldorado do Carajás.
"Levei um tiro de revólver no
pescoço e perdi sete dentes.
Não trabalho desde o massacre, preciso tomar remédios e
me alimento basicamente de líquidos por causa dos ferimentos", afirma.
Rubenita também sustenta a
tese de que aconteceram mais
mortes do que as 19 oficiais.
"Muita gente foi morta no
meio do mato e enterrada por
lá. Só não foi possível provar
porque o local do crime foi totalmente alterado e os corpos
foram removidos logo após o
confronto", relata.
O trabalhador rural José da
Natividade, 40, conta que até
hoje não pode se locomover
nem trabalhar por causa de
uma fratura exposta na perna
direita. "Já sofri duas cirurgias
e sinto fortes dores. Não tenho
assistência nenhuma dos poderes públicos."
(MS)
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