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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ HORA DAS CONCLUSÕES
Objetivo seria evitar que acusados combinassem versões e coagissem testemunhas
Procurador cogitou pedir a prisão dos 40 denunciados
RUBENS VALENTE
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza,
cogitou pedir a prisão dos 40 acusados de envolvimento com o que
chamou de "organização criminosa" que tinha como objetivo
"manter o PT no poder". Ele mudou de planos, segundo a Folha
apurou, ao perceber que o pedido
não seria acolhido pelo ministro
Joaquim Barbosa, relator do caso
no Supremo Tribunal Federal.
Na denúncia, divulgada na última terça-feira, Souza fez as acusações sem pedir medidas cautelares. No caso de uma "quadrilha
ou bando", é comum que a prisão
dos integrantes seja pedida para
evitar comunicação entre os suspeitos e impedir coação de testemunhas -no caso do mensalão,
o procurador listou 41 delas.
A Folha apurou que a estratégia
original de Souza era, com as prisões, apertar o cerco contra os
acusados para que alguns passassem a colaborar nas investigações, via delação premiada -sistema que permite o abrandamento da punição em troca de informações importantes para o caso.
A edição desta semana da revista "Veja" informou que pelo menos um dos suspeitos, o corretor
de valores Lúcio Bolonha Funaro,
já estaria ajudando o Ministério
Público Federal.
Funaro, apontado pela CPI dos
Correios como um dos pólos operacionais do pagamento do mensalão por meio de sua corretora
Guaranhuns, de fato não foi incluído entre os denunciados.
O texto da denúncia revela que
Funaro prestou depoimento no
dia 28 de março, dois dias antes
do protocolo da denúncia, no
STF. Trecho do depoimento revela que Funaro, que negava envolvimento com o mensalão, apresentou detalhes reveladores sobre
o papel da Guaranhuns como repassadora de recursos ao PL, após
obtê-los das empresas do publicitário Marcos Valério de Souza.
Funaro contou que, ao longo de
2003, entregou valores em dinheiro ao "sr. José Tadeu Candelária
no escritório do PL de Mogi das
Cruzes (SP)" a pedido do presidente do partido, o ex-deputado
Valdemar Costa Neto (SP). Candelária é o atual presidente do PL
no Estado de São Paulo.
"Esse repasse era feito semanalmente às sextas-feiras porque era
informado ao depoente [Funaro]
que o deputado Valdemar Costa
Neto necessitava dos recursos para transportar para Brasília", disse
Funaro ao Ministério Público.
Circularam ao todo R$ 6,5 milhões nas contas de Funaro e da
Guaranhuns. Ao todo, segundo a
denúncia, o PL se beneficiou de
R$ 10,8 milhões do valerioduto.
Funaro acrescentou outro nome às investigações sobre o PL, o
do doleiro de São Paulo Richard
Otterlloo. Segundo Funaro, o dinheiro era levado ao PL de Mogi
"na maioria das vezes pelo [funcionário da Guaranhuns] sr. José
Carlos Batista ou por algum funcionário do sr. Otterlloo".
O doleiro já havia sido citado no
depoimento de outro doleiro na
CPI dos Bingos, Antonio Carlos
Claramunt, o Toninho da Barcelona, como um operador de remessas de dinheiro para o exterior. Otterlloo teria tentado convencer Claramunt a não comparecer à CPI do Banestado em abril
de 2004, quando foi convocado.
Próximos alvos
Segundo a Folha apurou, o procurador-geral disse a parlamentares da CPI dos Correios que as
movimentações financeiras do
publicitário Duda Mendonça e de
Marcos Valério no exterior serão
analisadas com mais atenção na
segunda etapa das investigações.
O procurador disse ter mais
provas sobre transações realizadas por Duda em paraísos fiscais
além do que já foi divulgado pela
imprensa e pela CPI. Os dados
comprovariam que Duda recebia
recursos de caixa dois em contas
no exterior desde muito antes da
campanha presidencial que fez
para o PT, em 2002.
Segundo parlamentares ouvidos pela reportagem, as acusações
contra os dirigentes do Rural ficarão ainda mais fortes do que o publicado no primeiro relatório, no
qual Antonio Fernando pede o indiciamento da presidente do banco, Kátia Rabello, e de mais três
executivos da instituição.
Os documentos que Souza vem
reunindo poderão comprovar crimes como lavagem de dinheiro,
evasão de divisas e ocultação de
patrimônio. Os dirigentes do banco podem estar na primeira leva
de pedidos de prisão a ser feita pelo procurador-geral.
A prisão dos acusados, embora
não tenha sido formalizada na denúncia, pode ser pedida a qualquer momento pelo procurador,
caso julgue conveniente. A colaboração dos suspeitos pode fechar brechas e sanar deficiências
na linha da acusação.
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