São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 2006

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Discrição marca trabalho de Souza

SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Antonio Fernando Barros e Silva de Souza, 57, o procurador que pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) a condenação de 40 pessoas, entre as quais dois ex-ministros do governo Luiz Inácio Lula da Silva e vários deputados, é discreto, disciplinado, goza do respeito dos colegas e tem fama de exigente e centralizador.
Em 30 de março, ele entregou ao STF a denúncia criminal, fruto de seu maior desafio profissional, após nove meses de investigação, um deles dedicado quase que exclusivamente a esse trabalho. Trata-se de uma peça jurídica de 136 páginas em que acusa políticos, empresários e publicitários de crimes como corrupção ativa e passiva, peculato e lavagem de dinheiro.
Há pouco mais de cinco anos, um grave problema de saúde causou uma reviravolta em sua vida: sofreu infarto quando descansava com a família no litoral do Paraná e, no hospital, teve 17 paradas cardíacas. Assustado, pensou em se aposentar. Desistiu, mas mudou radicalmente os hábitos.
Antonio Fernando caminha todas as manhãs nas proximidades de sua casa, no Lago Sul, bairro de classe alta de Brasília. Às vezes está na companhia de um dos três filhos.
Para entregar a denúncia ao ministro Joaquim Barbosa, no STF, montou uma operação para guardar o seu sigilo, há duas semanas. Só anunciou a iniciativa dez dias depois, quando a CPI dos Correios já tinha aprovado seu relatório final.
Assim, ele pretendeu evitar especulações de que fora influenciado pelos parlamentares ou os influenciara. Também tem dito que jamais aceitará interferência do governo no seu trabalho.
Quando o empossou, em 30 de junho do ano passado, o presidente Lula enalteceu a importância da independência do procurador-geral e prometeu nunca lhe pedir que "engavetasse" uma investigação. Naquele momento, a crise política começava a surgir.
Ele substituiu Claudio Fonteles, de quem é amigo, e ficará dois anos no cargo.
O procurador é católico praticante como o antecessor, embora não deixe a convicção religiosa refletir tanto no seu trabalho. Em tom de brincadeira, os colegas o comparam ao papa Bento 16 e dizem que Fonteles equivale a João 23, por ser mais carismático.
Antonio Fernando preservou um bom relacionamento com os membros das CPIs dos Correios e dos Bingos, mas destoa do estilo deles, porque mantém silêncio sobre a condução do inquérito criminal do mensalão.
A discrição é também uma marca de seu relacionamento com jornalistas. Sempre que era indagado sobre um novo fato apurado pelas CPIs, recusava-se a comentá-lo e dizia que o resultado das suas investigações surpreenderia os mais incrédulos.
Em 1994, pediu ao Tribunal Superior Eleitoral que condenasse o presidente do Senado, Humberto Lucena (PMDB-PB), à perda do mandato por uso de gráfica oficial para imprimir material eleitoral. Pela primeira vez, um político "graúdo" seria cassado. O parecer dele foi aceito pelos ministros do TSE, mas uma lei aprovada às pressas pelo Congresso anistiou Lucena.
Antonio Fernando foi considerado ousado demais e amargou por muitos anos antipatia no meio político, particularmente no PMDB. Um sinal da resistência de políticos ao nome dele é que o Superior Tribunal de Justiça o incluiu três vezes em lista para nomeação de novo ministro, em 1996, 1998 e 2001. Foi preterido em todas elas.
Natural de Fortaleza, ele estudou direito na Universidade Federal do Paraná e entrou no Ministério Público Federal em março de 1975. Nega pretensões de novo mandato de procurador-geral ou de nomeação para ministro do STF ou do STJ.


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