São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 2006

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CRISE NO GOVERNO/ O PRESIDENTE

Plano é usar agenda da CPI dos Bingos para "manchar" imagem do petista; estratégia passa por quebrar sigilo bancário de Paulo Okamotto

Para oposição, Lula agora é o alvo principal

SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os líderes da oposição no Congresso planejam usar a agenda carregada da semana e os holofotes da CPI dos Bingos, a última ainda em curso, para tentar uma investida final contra a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, segundo avaliam, segue descolada da série de escândalos que atingiram o governo.
Com o fim da CPI dos Correios, a idéia é trabalhar, já com viés de campanha, para associar a imagem do presidente às denúncias que pontuaram a crise política.
"Esse governo não tem mais agenda, só agenda de candidato. Temos que intensificar a ligação do nome dele aos fatos do governo, colar os fatos ao Lula", disse Jutahy Júnior (BA), líder do PSDB na Câmara dos Deputados.
"O discurso é que o Lula é o chefe da quadrilha. Agora é passar para a população mais pobre, porque a classe média já o abandonou", afirmou o deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), líder da oposição na Câmara.
Para atingir o objetivo, a oposição buscará munição na CPI dos Bingos. A principal meta é conseguir aprovar a quebra do sigilo bancário do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, amigo de Lula.
Ex-tesoureiro de campanha do PT, Okamotto não abriu seu sigilo e, em depoimento à CPI, esquivou-se de falar do pagamento que diz ter feito de dívida de R$ 29,4 mil de Lula com o PT em 2004.
"A CPI dos Bingos tem todos os elementos para pegar o presidente. Tem o Roberto Teixeira, o Okamotto. Certamente eles vão levar ao presidente. Tem que mostrar que ele é o responsável [pelos esquemas de corrupção]", afirmou o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
Segundo o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), a oposição tentará a quebra do sigilo de Okamotto pela terceira vez. "O Okamotto é essencial, ele está blindado pelo poder. Ninguém conseguiria resistir tanto. O sigilo é uma blindagem ao presidente", disse.
Além da ofensiva pelos extratos bancários de Okamotto, a oposição pressionará o advogado Roberto Teixeira, compadre do presidente Lula, cujo depoimento está marcado para amanhã.
Teixeira é investigado pela CPI após denúncias do economista Paulo de Tarso Venceslau, ex-militante petista. Venceslau acusou Teixeira de ser ligado à empresa Cepem, segundo ele usada pelo PT para caixa dois nos anos 90.

Thomaz Bastos
Enquanto a oposição busca meios para desgastar o governo por mais tempo, o PT aposta no bom desempenho do ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) para esvaziar a crise.
A própria oposição se divide quando o assunto é o depoimento do ministro, que deve ser na quinta-feira. "Acho que ele não vai ser poupado, mas estão exagerando um pouco, à medida que a Polícia Federal, subordinada a ele, está investigando tudo", disse ACM.
Para evitar que o caso da violação do sigilo do caseiro Francenildo Costa, que testemunhou contra o ex-ministro Antonio Palocci, perca força, PFL e PSDB tentarão ainda votar a convocação do ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Mattoso.
De acordo com o relator da CPI dos Bingos, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), o episódio da quebra do sigilo deve ser usado em seu parecer final como exemplo da "continuidade" das ações da chamada "turma de Ribeirão Preto" em Brasília.


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