São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 2006

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Depois da Copa

Entre a Paixão de Cristo e o porto de Suape, em suas andanças nordestinas, Geraldo Alckmin foi parar em Porto de Galinhas.
De lá, deu longa entrevista ao blog de Magno Martins, da Agência Nordeste, e saiu prometendo reabrir a Sudene como "um dos meus primeiros atos em favor do Nordeste".
Mais importante, ecoou FHC e José Serra:
- Defendo a tese de derrotar Lula nas urnas, temos que ter campanha, enfrentá-lo nas ruas, nos debates, no voto, nunca no tapetão.
Mas acrescentou, sem mudar o raciocínio:
- O que vejo com certa apreensão é que, num eventual segundo mandato de Lula, ele teria mais dificuldades de governar.
 
O debate ocupa a rede há dias, pós-pesquisa Datafolha, em tom mais direto.
Ontem, Vinicius Mota escreveu na Folha Online sobre as "duas hipóteses de trabalho" para o impeachment de Lula, num texto sob o título "À vista ou a prazo".
A primeira hipótese é "já", mas ela enfrenta a barreira da popularidade, da economia em expansão etc. A segunda é o "impeachment como hedge":
- Parte do oposicionismo esboça a teoria do impeachment como seguro contra uma derrota em outubro.
Ano que vem, sem o Congresso e "com a repercussão duradoura do escândalo", tudo vai ser diferente.
No site Nomínimo, com repercussão na blogosfera tucana, Marcos Sá Corrêa anunciou ontem, sob a manchete "Reeleição ou impeachment?":
- Os brasileiros têm a chance de decidir nas urnas se vale a pena votar num presidente que já tem encontro marcado com o processo de impeachment no mandato que vem.
 
Segundo Kennedy Alencar, na Folha Online, não foi só com Alckmin e a oposição:
- A pesquisa Datafolha surpreendeu Lula e seus principais auxiliares.
E o candidato, sem cuidar se vem aí reeleição ou impeachment, à vista ou a prazo, já desenha o "plano de vôo" até agosto. Vai priorizar o Nordeste, sua "fortaleza eleitoral", São Paulo e Minas Gerais.
Assim pretende chegar "em posição de liderança" ao horário eleitoral, quando vai "apanhar muito" -e também gastar "munição para dar a resposta".
Curiosamente, ao tratar da pesquisa em sua entrevista, também Alckmin adiou o jogo para agosto:
- Você não tem ainda intenção de voto, mas nível de conhecimento. A campanha só começa com a propaganda no rádio e na televisão, depois da Copa do Mundo.

Reprodução
ALVO PREFERIDO O "Jornal Nacional" do Sábado de Aleluia saiu questionando se é o caso de "malhar Judas" diante do novo "evangelho". Para o telejornal, "até a voz do povo, que se diz a voz de Deus, ficou dividida". Opiniões para todo lado. Nas cenas da malhação pelo país, nada de mensalão e seus personagens. Para contraste, o "SPTV" mostrou como a dançarina Ângela Guadagnin (imagem acima) foi a mais visada, num sábado que "teve a corrupção como alvo preferido na capital e no interior"

O futuro
"Lula ou Chávez" era o título do editorial do "Le Monde" na sexta-feira, com tradução no UOL. Defendia o brasileiro como modelo, contra o venezuelano Hugo Chávez, no conflito desenhado também pela "Economist", pouco antes.
O argumento final:
- A solução brasileira de se submeter às regras do jogo da globalização impõe obrigações que limitam o crescimento. Mas os investimentos na educação e nas infra-estruturas, assim como a abertura da economia, preparam o futuro.
Além de editorial, o jornal publicou análise e despacho. Da correspondente em São Paulo, Annie Gasnier:
- Regularmente ameaçado de destituição, colocado na defesa, Lula permanece popular.

Uma ilusão
No curioso debate virtual a que se lançaram os correspondentes, o do "Financial Times", Jonathan Wheatley, mal se contém. No texto "Nada importa", ontem, pergunta "quem liga" para as alegações de corrupção e logo responde:
- Os investidores externos, não. A maioria está convencida de que este governo é um guardião da ortodoxia fiscal.
Já ele vai ao ataque:
- O governo parece acreditar em seu próprio hype, de que ninguém fez tanto para colocar o Brasil no caminho do crescimento sustentável. Mas até que o governo pare de jogar dinheiro em pensões que não pode pagar e gaste em educação, infra-estrutura e outros indutores, o crescimento real vai permanecer uma ilusão.


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