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Corte de Mônaco decide extraditar Cacciola
Sentença da Justiça do Principado deve ainda ser referendada pelo príncipe; defesa do ex-banqueiro diz que vai recorrer
"Agora é esperar a decisão do príncipe", afirma Romeu Tuma Jr., secretário nacional de Justiça; Albert 2º nunca contrariou decisão da Corte
PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES
A Justiça de Mônaco anunciou ontem uma decisão favorável à extradição do ex-banqueiro Salvatore Cacciola, 64,
preso desde 15 de setembro de
2007 no Principado. A decisão
põe fim a mais de sete meses de
um arrastado processo judicial,
marcado por adiamentos, atrasos, erros de tradução de documentos e expectativa.
Mas o anúncio de ontem não
significa que o caso esteja encerrado. A decisão da Corte de
Apelações de Mônaco ainda
precisa ser confirmada pelo
príncipe Albert 2º, que tem a
palavra final sobre a extradição.
Desde que assumiu, ele jamais
contrariou decisão do tribunal.
A decisão do príncipe deve
ser anunciada nas próximas
duas semanas, segundo os envolvidos no caso. É bom ressaltar que as previsões têm se
mostrado incertas -a decisão
da Corte, por exemplo, deveria
ter saído há três semanas, de
acordo com estimativas.
A defesa de Cacciola promete
lutar até o final. O advogado
monegasco do ex-banqueiro,
Frank Michel, já disse que recorrerá da decisão do príncipe,
mecanismo que está previsto
nas leis do balneário, mas que
nunca foi nem sequer tentado.
O equivalente a ministro da
Justiça de Mônaco, Philippe
Narmino, confirmou numa entrevista anterior que esse recurso existe, já que a decisão do
príncipe é um ato administrativo. O recurso, se aceito, seria
encaminhado a uma espécie de
Supremo Tribunal, que se reúne quatro vezes por ano. Nessa
hipótese, o desfecho do caso
pode se arrastar por meses.
Os advogados do ex-banqueiro têm interesse em adiar a extradição, mesmo que não consigam revertê-la, uma vez que o
tempo em Mônaco pode ser
descontado da pena que ainda
tem de ser cumprida no Brasil.
"Rei da impunidade"
O secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Jr., disse que
"agora é esperar a decisão do
príncipe". "Estamos muito perto de conseguir destronar o rei
da impunidade", afirmou Tuma Jr., que criticou a possibilidade de mais um recurso da defesa. "É um direito deles, mas é
também um reflexo do sentimento do cliente, que nunca
respeitou a Justiça."
Se for efetivamente extraditado, o Brasil iniciará a batalha
pela recuperação dos recursos
que Cacciola teria retirado indevidamente do país. O trabalho será feito pelo DRCI (Departamento de Recuperação de
Ativos e Cooperação Jurídica
Internacional), órgão subordinado a Tuma Jr. Ainda não há
um levantamento sobre quanto
poderia ser repatriado.
Prisão
Cacciola foi preso num sábado, 15 de setembro, quando dava um passeio pelo Principado,
a alguns metros de um dos cassinos mais famosos do mundo.
Alguns dias antes tinha ido a
uma feira em Cannes.
Em Mônaco, estava hospedado no Fairmont, hotel com diárias a partir de 400. Quando o
hotel digitou os dados de seu
passaporte no sistema, surgiu a
informação de que o hóspede
era procurado pela Interpol.
Desde então, passa os dias na
prisão, em uma cela de cerca de
seis metros por dois metros e
meio. Tem uma cama, TV, frigobar e uma janela para o Mediterrâneo, onde ocasionalmente passam veleiros e iates.
O ex-banqueiro foi condenado em 2005 a 13 anos de prisão
pelos crimes de gestão fraudulenta de instituição financeira
no mercado brasileiro e peculato (uso do cargo exercido para apropriação ilegal de dinheiro), em razão do escândalo do
banco Marka.
Em 1999, Cacciola, então dono do Marka, se envolveu em
operações que resultaram num
prejuízo de R$ 1,6 bilhão para o
governo brasileiro, no tumultuado período da desvalorização forçada do real. Em 2000,
ele aproveitou um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal e fugiu para a Itália, de
onde não podia ser extraditado,
por ter cidadania italiana. Viveu sete anos em Roma até ser
preso em Mônaco.
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