São Paulo, Sábado, 17 de Abril de 1999
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SISTEMA FINANCEIRO
Primeira ajuda ao Marka e FonteCindam teve aval genérico
BC só aprovou e registrou socorro cinco dias depois

VANESSA ADACHI
enviada especial a Brasília


As três operações de socorro aos bancos Marka e FonteCindam, realizadas nos dias 14 e 19 janeiro, só tiveram a aprovação formal e registrada da diretoria do Banco Central no dia 20 de janeiro.
Um documento confidencial do BC incluído no relatório entregue à CPI dos Bancos mostra que o voto que aprovou as operações só saiu no dia 20, depois que as vendas de dólares já haviam ocorrido.
No dia 14, data do primeiro socorro, a diretoria só aprovou uma autorização genérica sobre o assunto, que permitia ao BC vender dólares futuros a "instituições que evidenciam tais dificuldades".
Esse é apenas um dos problemas com datas e registros das três operações de salvamento encontrados nos documentos do relatório do BC entregue à CPI.
Um outro problema encontrado levanta dúvidas sobre a justificativa do BC de que teria concordado com a ajuda aos bancos porque estaria defendendo a manutenção do teto da banda cambial, de R$ 1,32.
Só foi enviada à BM&F no dia 15 a carta da chefe do Departamento de Operações das Reservas Internacionais, Maria do Socorro Carvalho, que pede à Bolsa o registro das operações do dia 14.
Ou seja, o registro das duas operações foi pedido justamente no dia em que o BC deixou de defender o câmbio e sinalizou o abandono do sistema de bandas. A diretora justifica o atraso atribuindo-o a uma "falha operacional".
"A operação estava feita, não dava para desfazer. Isso seria molecagem", alega o diretor de fiscalização do BC, Luiz Carlos Alvarez.
A segunda operação de salvamento do Marka também teve registro com data retroativa. Maria do Socorro enviou outra carta à BM&F, sem data, com o seguinte texto: "Confirmando a operação realizada em 19 de janeiro e informada telefonicamente, solicito suas providências no sentido de registrar a venda (...) para fundos do Banco Marka S.A."
Embora sem data, a carta deixa claro que a operação em questão já havia ocorrido em dia anterior.
Não é procedimento normal da BM&F registrar operações com atraso de um dia ou mais. Procurada pela Folha, a Bolsa não quis comentar os motivos da quebra do procedimento.
Além disso, um documento interno do BC, de 18 de janeiro, véspera da segunda ajuda ao Marka, trata a operação como consumada.
É possível que o BC desse esse tratamento a uma operação que ele sabia que aconteceria no dia seguinte.
Entretanto, um trecho do relatório afirma que "em 19/01/99 compareceram novamente ao BC os administradores do Banco Marka consignando que...os fundos por ele administrados estariam próximos de ficar com passivo a descoberto, acarretando a sua inadimplência junto à BM&F".


Colaboraram Alex Ribeiro e Vivaldo de Souza, da Sucursal de Brasília


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