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Relatório não comprova que
era necessário ajudar bancos
VIVALDO DE SOUZA
ALEX RIBEIRO
da Sucursal de Brasília
O relatório do Banco Central sobre a venda de dólares no mercado
futuro para os bancos Marka e
FonteCindam, entregue anteontem à CPI, não apresenta fatos que
comprovem a necessidade de ajudar as instituições nem o risco de
uma crise "sistêmica" no mercado
financeiro se fossem liquidadas.
A diretoria do BC decidiu tudo
com base em informações dos dois
bancos, dados da BM&F (Bolsa de
Mercadorias & Futuro) e, no caso
específico do Marka, de uma fiscalização preliminar.
Não está no relatório, por exemplo, o patrimônio de cada instituição nem o nome e patrimônio das
que poderiam garantir a operação
se faltassem recursos para o Marka
e o FonteCindam. O BC informa
apenas o total dos contratos de cada banco e qual a cotação do dólar
nas operações.
Como já foi informado pelo presidente do BC, Armínio Fraga, durante seu depoimento na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito)
dos Bancos, as medidas foram
adotadas sem que houvesse uma
avaliação detalhada da situação
dessas e de outras instituições.
Como os valores envolvidos
eram elevados, a inadimplência de
uma instituição geraria uma crise
que poderia afetar outras instituições, segundo o relatório.
""A variação promovida na banda
cambial e a instabilidade e volatilidade dos mercados geraram um
clima de insegurança e apreensão
com relação à solvência de algumas instituições financeiras", afirma o relatório, sem mostrar dados
que comprovem essa situação.
Foi nesse contexto, segundo o relatório, que o BC recebeu uma carta da BM&F em 14 de janeiro ""sugerindo a adoção de medidas" para evitar uma "crise sistêmica". Segundo o relatório, a decisão do BC
foi adotada ainda no dia 14, após
consulta à área jurídica.
A atuação do BC, diz o relatório,
se sustenta apenas em uma lei bastante ampla, a 4.595, segundo a
qual ""o BC pode comprar ou vender dólar nos mercados à vista ou
futuro". Desde março, porém, o
BC não atua no mercado futuro.
O relatório de 336 páginas também não documenta a consulta jurídica que teria acontecido.
Segundo o BC, a concordância da
área jurídica com as medidas foi
dada por meio de um carimbo autorizando as operações previstas
nos votos da diretoria.
Em vários trechos do relatório, o
BC informa que as operações feitas
com o Marka e o FonteCindam tiveram como objetivo proteger o
novo regime de banda cambial,
que acabou sendo abandonado em
15 de janeiro, cinco dias após ter sido anunciado pelo governo.
Remessas ao exterior
O relatório do BC mostra que os
recursos aplicados nos Fundos de
Investimento no Exterior (Fiex)
cresceram 283% em janeiro de 99,
mas não atingiram o objetivo de
melhorar o preço dos títulos da dívida externa brasileira.
O Fiex foi criado em setembro de
94 para que seus recursos fossem
aplicados em títulos da dívida externa brasileira. Dessa maneira,
haveria maior procura e o preço
desses papéis se valorizaria.
Embora não fale em irregularidades, o relatório mostra que o patrimônio desses fundos aumentou
devido a brechas na legislação.
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