São Paulo, Sábado, 17 de Abril de 1999
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SISTEMA FINANCEIRO
Busca da PF na casa de dono do Marka no RJ encontra texto para o então presidente do Banco Central, afirma procurador
PF apreende suposto bilhete a Lopes

CHICO SANTOS
MÔNICA CIARELLI
da Sucursal do Rio


A cópia de um suposto bilhete do presidente do Banco Marka, Salvatore Alberto Cacciola, para o então presidente do Banco Central, Francisco Lopes, foi encontrada pela Polícia Federal e pela Procuradoria da República na casa do banqueiro no Rio.
No texto, há uma reclamação de que o então diretor de Fiscalização do BC, Cláudio Mauch, estava dificultando a liberação de dinheiro para socorrer o Marka.
A existência do bilhete foi confirmada pelo procurador da República Maurício Manso, um dos que participaram anteontem da busca na casa de Cacciola, autorizada pela 6ª Vara Federal do Rio.
Cacciola reclamaria -no bilhete que não foi mostrado- de que o Marka iria quebrar se Mauch continuasse se negando a liberar os dólares a preço mais barato para que o banco fechasse suas contas no mercado futuro de câmbio.
Maurício Manso não deu detalhes sobre o bilhete, apenas confirmou sua existência. Horas depois, o procurador Artur Gueiros, que chegava de Brasília, disse que ainda não tinha conseguido examinar a documentação apreendida e que por isso não poderia confirmar a existência do bilhete.
Disse também que, mesmo que o documento exista, ele terá primeiro que ser examinado por peritos para que se tenha certeza de que Cacciola é o seu autor. Gueiros é um dos responsáveis pela investigação do caso Marka na Procuradoria do Rio, mas ele não participou das buscas feitas anteontem.
O BC vendeu dólares ao Marka no dia 14 de janeiro ao preço de R$ 1,275, quando o teto da banda cambial estava em R$ 1,32. No dia seguinte, Mauch pediu demissão em circunstâncias até agora não totalmente explicadas. Depois ele voltou atrás.
A Polícia Federal e o Ministério Público apreenderam ontem quatro caixas de documentos contábeis e financeiros na casa do ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes, em Copacabana (zona sul do Rio).
A operação foi determinada pela juíza da 6ª Vara Federal do Rio, Ana Paula Vieira de Carvalho, a pedido do Ministério Público.
Os agentes da PF foram recebidos pela mulher de Lopes, Ciça, e seus dois filhos. O ex-presidente do BC passou o dia depondo na Comissão de Sindicância do Banco Central em Brasília, onde ficou cinco horas e negou que tenha havido vazamento de informações durante a mudança cambial. Saiu sem falar com os jornalistas.
O ministro Renan Calheiros (Justiça) proibiu a Polícia Federal de auxiliar as investigações do Ministério Público Federal do Rio. Ele e senadores da CPI dos Bancos se reuniram com o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro.
No momento da reunião, Calheiros e os senadores não sabiam da ação na casa de Lopes. Mais tarde, ao saber do caso, o ministro proibiu novas ações da PF.
A justificativa do ministro é que as provas colhidas podem ser anuladas. Segundo ele, o Supremo Tribunal Federal considera que o Ministério Público não pode assumir as investigações policiais.
O depoimento de Lopes à CPI dos Bancos foi marcado para as 16h da segunda-feira. O ex-diretor de Fiscalização Cláudio Mauch vai depor no dia seguinte, no mesmo horário.
A cúpula da comissão não quis marcar depoimentos para o período da manhã para evitar sessões simultâneas com a CPI do Judiciário -a preferida do presidente do Congresso, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).


Colaborou a Sucursal de Brasília

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