São Paulo, Sábado, 17 de Abril de 1999
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VIAGEM À EUROPA
Presidente diz que assessores da CNBB deveriam estudar mais e chama MST de grupo paramilitar
Igreja não deve falar de economia, diz FHC

Jorge Araújo/Folha Imagem
O presidente FHC (dir) com o primeiro-ministro de Portugal, António Guterres, após chegar a Lisboa, vindo da Alemanha


CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Bonn

O presidente Fernando Henrique Cardoso voltou ontem sua metralhadora verbal na direção tanto da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) como do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Sobre a CNBB e o documento que a entidade divulgou anteontem, contendo críticas à política econômica, disse: "Afirmar que o Real é ficção, isso sim é uma ficção". Pelo menos na pergunta feita ao presidente, aparecia a informação de que a CNBB qualificara o Real de "ficção financeira".
Depois, limitou a crítica ao documento dos bispos aos assessores da CNBB. "Não creio que a igreja como tal endosse essas opiniões (contidas no documento), que são de assessores que poderiam estudar mais os números e, se tivessem uma formação econômica melhor, também ajudaria", atacou.
Mesmo responsabilizando mais os assessores, FHC criticou a CNBB: "Assim como não opino sobre dogmas da igreja, seria melhor que a igreja não opinasse dessa maneira em assuntos de economia".
Sobre o MST, FHC chegou a chamá-lo de "movimento paramilitar" e acusou-o de ter trocado a luta pela terra "pela contestação ao sistema político e social".
Completou: "O governo não pode aceitar de braços cruzados que haja contestação. Ocupar terras no Brasil todo, no mesmo dia, em 20 Estados, é uma simulação de força política ou paramilitar".
Já em relação ao MST, o presidente exibiu agressividade bem maior. Primeiro, fez o auto-elogio do programa de reforma agrária de seu governo: "Todos os outros governos somados não fizeram o que nós fizemos".
Citou números: assentamento de 300 mil famílias e desapropriação de 7,4 milhões de hectares, "algo equivalente talvez a Bélgica e a Holanda somadas".
Citou ainda os novos planos para o setor agrícola, como a fusão do Procera (financiamento de assentamentos rurais) com o Pronar (apoio a unidades familiares de produção), de que resultará investimento, em 99, de R$ 2,4 bilhões.
Contrapôs seu programa à ação do MST, "que usa às vezes até a boa fé dos que necessitam da terra para fazer agitação política".
Essa suposta agitação, segundo FHC, não beneficia o sem-terra, mas "as lideranças, que vão para os jornais, que vão para o mundo todo, dando a impressão ao mundo todo de que o governo é contra a reforma agrária, quando não é".
Em contrapartida, o presidente reservou afagos para o senador Antonio Carlos Magalhães, presidente do Congresso, e para o governador César Borges (BA), afilhado político de ACM, que estaria apoiando ato do MST.
O presidente disse duvidar de que Borges pudesse ser contra o programa de reforma agrária do governo, até porque acha que ninguém "de boa fé" é contra.
Sobre ACM, chegou até a negar o óbvio. A pergunta reproduzia informações de ontem dos jornais, segundo as quais o senador reagiu explosivamente à declaração do presidente, ao chegar a Bonn, quarta-feira, sobre a suposta maior importância da reforma do Judiciário (em discussão na Câmara) em relação à CPI do Judiciário (proposta por ACM).
"Duvido que o senador Antonio Carlos tenha reações explosivas. Não é do temperamento dele", afirmou o presidente (leia texto abaixo).
Disse também que sua declaração fora transmitida a ACM fora do contexto. "Quando ouvir meu pensamento de viva voz, vai se juntar a mim para que a CPI do Judiciário seja feita com propriedade e leve a resultados e para que a reforma do Judiciário não fique paralisada e também leve a resultados", completou FHC ao deixar Bonn em direção a Lisboa (Portugal), onde está hoje.


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