São Paulo, Sábado, 17 de Abril de 1999
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Críticas são comparadas às de Médici

GUSTAVO PORTO
free-lance para a Folha Campinas

O ex-presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) d. Ivo Lorscheiter, bispo de Santa Maria (RS), afirmou ontem que a crítica feita pelo presidente Fernando Henrique Cardoso às opiniões da entidade sobre o sistema econômico do país "é uma tese dos militares quando estes estavam no governo".
Anteontem, durante a 37ª Assembléia Geral dos Bispos do Brasil, em Itaici, distrito de Indaiatuba (SP), a CNBB divulgou um documento, intitulado "Análise da Conjuntura", no qual atribui os problemas sociais do país à interferência de grupos financeiros internacionais na política brasileira.
FHC afirmou ontem, em Bonn (Alemanha), que assim como não opina sobre os dogmas católicos, acha melhor a igreja não opinar sobre assuntos econômicos.
"É uma velha tese que eu achava já sepultada. Uma vez, um dos presidentes militares (Emílio Garrastazu Médici) nos disse: se vocês continuarem a cuidar dos assuntos do governo, eu vou começar a dar catequese", afirmou d. Ivo, responsável pelo setor de comunicação e ecumenismo da CNBB.
O presidente também foi alvo de críticas dos bispos de Duque de Caxias (RJ), d. Mauro Morelli, e de Rondonópolis (MT), d. Juventino Kestering.
Segundo d. Mauro, pedir para a Igreja Católica não emitir opiniões sobre economia, seria "pedir para a igreja ir para a estratosfera, onde muitos políticos vivem. É uma reação imatura e bastante autoritária", disse.
Para d. Juventino, a afirmação de FHC de que o documento havia sido elaborado por assessores não desabona o teor das críticas.
De acordo com ele, os bispos seriam omissos se não dissessem uma palavra, "mesmo que seja uma palavra que às vezes fere", sobre os impactos da política econômica brasileira sobre a população.
O bispo de Rondonópolis criticou ainda a política agrária do governo federal. Ele afirmou que no Brasil não existe reforma agrária e sim uma política de assentamento, na qual o governo se preocupa apenas em colocar as pessoas na terra sem dar condições para que elas prosperem.

Comemorações
A assembléia inicia hoje, às 19h30, com uma missa no Ginásio de Esportes de Indaiatuba, as comemorações dos 500 anos de evangelização no Brasil.


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