|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Críticas são comparadas às de Médici
GUSTAVO PORTO
free-lance para a Folha Campinas
O ex-presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil) d. Ivo Lorscheiter, bispo de
Santa Maria (RS), afirmou ontem
que a crítica feita pelo presidente
Fernando Henrique Cardoso às
opiniões da entidade sobre o sistema econômico do país "é uma tese
dos militares quando estes estavam no governo".
Anteontem, durante a 37ª Assembléia Geral dos Bispos do Brasil, em Itaici, distrito de Indaiatuba
(SP), a CNBB divulgou um documento, intitulado "Análise da
Conjuntura", no qual atribui os
problemas sociais do país à interferência de grupos financeiros internacionais na política brasileira.
FHC afirmou ontem, em Bonn
(Alemanha), que assim como não
opina sobre os dogmas católicos,
acha melhor a igreja não opinar sobre assuntos econômicos.
"É uma velha tese que eu achava
já sepultada. Uma vez, um dos presidentes militares (Emílio Garrastazu Médici) nos disse: se vocês
continuarem a cuidar dos assuntos
do governo, eu vou começar a dar
catequese", afirmou d. Ivo, responsável pelo setor de comunicação e ecumenismo da CNBB.
O presidente também foi alvo de
críticas dos bispos de Duque de
Caxias (RJ), d. Mauro Morelli, e de
Rondonópolis (MT), d. Juventino
Kestering.
Segundo d. Mauro, pedir para a
Igreja Católica não emitir opiniões
sobre economia, seria "pedir para
a igreja ir para a estratosfera, onde
muitos políticos vivem. É uma reação imatura e bastante autoritária", disse.
Para d. Juventino, a afirmação de
FHC de que o documento havia sido elaborado por assessores não
desabona o teor das críticas.
De acordo com ele, os bispos seriam omissos se não dissessem
uma palavra, "mesmo que seja
uma palavra que às vezes fere", sobre os impactos da política econômica brasileira sobre a população.
O bispo de Rondonópolis criticou ainda a política agrária do governo federal. Ele afirmou que no
Brasil não existe reforma agrária e
sim uma política de assentamento,
na qual o governo se preocupa
apenas em colocar as pessoas na
terra sem dar condições para que
elas prosperem.
Comemorações
A assembléia inicia hoje, às
19h30, com uma missa no Ginásio
de Esportes de Indaiatuba, as comemorações dos 500 anos de
evangelização no Brasil.
Texto Anterior: Igreja não deve falar de economia, diz FHC Próximo Texto: Religiões peregrinarão juntas Índice
|