São Paulo, Sábado, 17 de Abril de 1999
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Dossiê não acaba em pizza, diz tucano

do enviado especial a Bonn

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que o caso do dossiê Cayman não vai "terminar em pizza".
Segundo o presidente, a Polícia Federal dispõe de "uma série grande de elementos para pelo menos colocar nas barras dos tribunais aqueles que serviram de elo de transmissão dessa infâmia".
O dossiê Cayman apareceu em outubro de 98 contendo supostos documentos que provariam a existência de uma conta nesse paraíso fiscal caribenho em nome do próprio FHC, de Sérgio Motta (ministro das Comunicações, já morto), do atual ministro da Saúde, José Serra, e do governador de São Paulo, Mário Covas, todos do PSDB.
As afirmações de FHC foram feitas em entrevista coletiva antes de deixar a Alemanha. Foram provocadas por pergunta da Folha sobre o estímulo à impunidade representado pelo fato de que nem a PF tinha indícios sobre o episódio Cayman, nem o Banco Central dava explicações para o escândalo dos bancos Marka e FonteCindam.
O presidente justificou o silêncio da PF sobre o dossiê alegando que é preciso fazer a apuração "com todo o rigor da lei", sob pena de as acusações serem derrubadas ao chegar o processo à Justiça.
Emendou: "Essa é a razão pela qual se está buscando uma solidez de informações de tal maneira que não ocorra o que, na linguagem que vocês (jornalistas) gostam de usar, termine em pizza".
No caso Marka/FonteCindam, FHC rejeitou o uso da palavra escândalo. "Não posso falar de escândalo sem saber do que se trata. Isso é ir além da realidade", afirmou o presidente. Mas ressalvou que não quer inocentar ninguém e, sim, evitar um pré-julgamento.
"Havendo responsabilidade, responsabilize-se. O que não se deve em matéria tão delicada é pré-julgar", completou.
Sem citar nomes, deu conotação política às denúncias sobre o episódio dos bancos, ao condenar "a permanente vontade, até entendo as razões, de buscar culpados ainda que antes da prova".
O presidente aproveitou para tentar traduzir a frase do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, ao depor anteontem na CPI dos bancos. Fraga disse que não podia garantir que não houve vazamento de informações sobre a mudança da política cambial, em janeiro.
FHC acha que há, no caso, "uma armadilha lógica". Simplificando seu longo raciocínio, a explicação da "armadilha" seria esta: se não houve vazamento, não há como provar que não houve, porque a não existência do fato não gera prova, como é óbvio.
"Esse é o grande embaraço da situação. Há certas questões que, quando se levantam, você não tem como dizer não. Só o levantar da dúvida já incrimina", concluiu. (CLÓVIS ROSSI)


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