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Dossiê não acaba em pizza, diz tucano
do enviado especial a Bonn
O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que o caso do dossiê Cayman não vai "terminar em pizza".
Segundo o presidente, a Polícia
Federal dispõe de "uma série grande de elementos para pelo menos
colocar nas barras dos tribunais
aqueles que serviram de elo de
transmissão dessa infâmia".
O dossiê Cayman apareceu em
outubro de 98 contendo supostos
documentos que provariam a existência de uma conta nesse paraíso
fiscal caribenho em nome do próprio FHC, de Sérgio Motta (ministro das Comunicações, já morto),
do atual ministro da Saúde, José
Serra, e do governador de São Paulo, Mário Covas, todos do PSDB.
As afirmações de FHC foram feitas em entrevista coletiva antes de
deixar a Alemanha. Foram provocadas por pergunta da Folha sobre
o estímulo à impunidade representado pelo fato de que nem a PF
tinha indícios sobre o episódio
Cayman, nem o Banco Central dava explicações para o escândalo
dos bancos Marka e FonteCindam.
O presidente justificou o silêncio
da PF sobre o dossiê alegando que
é preciso fazer a apuração "com todo o rigor da lei", sob pena de as
acusações serem derrubadas ao
chegar o processo à Justiça.
Emendou: "Essa é a razão pela
qual se está buscando uma solidez
de informações de tal maneira que
não ocorra o que, na linguagem
que vocês (jornalistas) gostam de
usar, termine em pizza".
No caso Marka/FonteCindam,
FHC rejeitou o uso da palavra escândalo. "Não posso falar de escândalo sem saber do que se trata.
Isso é ir além da realidade", afirmou o presidente. Mas ressalvou
que não quer inocentar ninguém e,
sim, evitar um pré-julgamento.
"Havendo responsabilidade, responsabilize-se. O que não se deve
em matéria tão delicada é pré-julgar", completou.
Sem citar nomes, deu conotação
política às denúncias sobre o episódio dos bancos, ao condenar "a
permanente vontade, até entendo
as razões, de buscar culpados ainda que antes da prova".
O presidente aproveitou para
tentar traduzir a frase do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, ao depor anteontem na CPI dos
bancos. Fraga disse que não podia
garantir que não houve vazamento
de informações sobre a mudança
da política cambial, em janeiro.
FHC acha que há, no caso, "uma
armadilha lógica". Simplificando
seu longo raciocínio, a explicação
da "armadilha" seria esta: se não
houve vazamento, não há como
provar que não houve, porque a
não existência do fato não gera
prova, como é óbvio.
"Esse é o grande embaraço da situação. Há certas questões que,
quando se levantam, você não tem
como dizer não. Só o levantar da
dúvida já incrimina", concluiu.
(CLÓVIS ROSSI)
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