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Perícia em notas fiscais de Renan é ignorada
"Não quero nem saber desses papéis", disse Epitácio Cafeteira sobre a investigação; ele acrescentou que não muda o relatório
Agentes da PF selecionaram ontem os documentos para perícia e não descartam investigar a veracidade das vendas de gado do senador
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal começou a
analisar ontem os novos documentos que o presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), apresentou ao
Conselho de Ética para tentar
comprovar venda de R$ 1,9 milhão em gado em quatro anos.
A princípio, a perícia feita pelo INC (Instituto Nacional de
Criminalística) se restringirá a
analisar se são autênticos (e
não falsificações) os documentos apresentados por Renan,
mas agentes da PF disseram
que o órgão pode ir além e investigar a veracidade das vendas, ou seja, checar se houve
realmente negócios para render R$ 1,9 milhão ao senador.
"Não quero nem saber desses
papéis", afirmou Epitácio Cafeteira (PTB-MA), relator do processo contra Renan no Conselho de Ética, para quem a suspeita de que Renan apresentou
notas frias para justificar a venda de gado não tem relação com
a acusação de que ele usou dinheiro de uma empreiteira para pagar pensão alimentícia à
jornalista Mônica Veloso, com
quem o peemedebista tem uma
filha. Cafeteira disse que não
vai mudar "uma vírgula" do seu
voto, que é pelo arquivamento
da acusação contra Renan.
O ganho obtido com a suposta venda do gado é o principal
argumento usado por Renan
para dizer que tinha dinheiro
suficiente para fazer os repasses e rebater a acusação de que
usou recursos da empreiteira.
Os agentes afirmaram que a
PF não trabalhará pautada pelo
"tempo político", o que pode levar a perícia a ser concluída
após a terça-feira, data marcada pelo Conselho para votar o
relatório de Cafeteira. Aliados
do senador alagoano no conselho dizem que o resultado da
perícia, qualquer que seja, não
irá influenciar no processo.
Um perito ouvido pela Folha
disse que, em média, o prazo
para a conclusão da análise dos
papéis é de uma a duas semanas. Em geral é a PF quem define o tipo de perícia que deve
ser realizada, mas o trabalho
pode ser direcionado por quem
o solicitou.
Defensores de Renan querem a realização de perícia apenas para atestar a autenticidade dos documentos. A oposição
reivindica análise contábil de
notas fiscais, cópias de cheques
e guias de transferência animal
encaminhadas pelo senador.
Aliados de Renan sinalizaram que só vão esperar o resultado da perícia até terça-feira.
"[a suspeita de uso de notas
frias] Não são fatos que estão
nesse processo. Se quiser investigar, tem que abrir outro
processo. Não quero saber se
isso é bom ou ruim para o Renan, isso é problema dele", disse o senador Wellington Salgado (PMDB-MG).
O advogado de Renan,
Eduardo Ferrão, voltou a dizer
que o senador apresentou documentação comprobatória de
todas as vendas. Ele ratificou
ainda a versão dada por Renan
a senadores de que a maioria de
seus negócios era feita com Zoraide Beltrão, dona do frigorífico Matrial. Essa versão foi dada
depois que reportagem do
"Jornal Nacional", da TV Globo, encontrou donos de empresas que, apesar de aparecerem
nos recibos de Renan, negavam
negociações com o senador.
"O que ouvi é que o senador
vendia a carne a ela. E depois
ela lhe enviava cheques em nomes dessas pessoas. Ela tem
uma espécie de monopólio, na
região, da compra de carne e
teria três ou quatro empresas
no nome de empregados, coisa
assim", disse o advogado.
Segundo ele, a resposta a
eventuais irregularidades dessas empresas cabe exclusivamente a elas.
(ANDREZA MATAIS, GABRIELA GUERREIRO E RANIER BRAGON)
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