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Corporativismo marca Conselho de Ética
Órgão só pediu uma cassação, do senador Luiz Estêvão, e recomendou duas censuras verbais em 11 anos de funcionamento
Senado tem "pacto de proteção mútua que na verdade é um pacto de impunidade", diz especialista da Unicamp
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em seus 11 anos de funcionamento e 33 casos analisados, o
Conselho de Ética do Senado
pediu a cassação de um senador, Luiz Estêvão, em 2000, e
recomendou censura verbal a
outros dois. O restante das denúncias e representações foram arquivadas.
Esse também deve ser o caminho da representação feita
pelo PSOL contra o atual presidente da Casa, Renan Calheiros
(PMDB-AL). O relator, Epitácio Cafeteira (PTB-MA), já pediu absolvição do senador, dizendo não haver provas.
Em 2001, os senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), José Roberto Arruda (sem
partido-DF) e Jader Barbalho
(PMDB-PA) renunciaram antes da abertura de processo.
Se fossem cassados, não poderiam concorrer a cargos eletivos por oito anos. ACM e Arruda, hoje governador do Distrito Federal pelo DEM, foram
acusados de violar o painel de
votação do Senado e Jader, de
desviar verbas do Banpará.
Em 2003 o conselho pediu
abertura de processo contra
ACM por suposto envolvimento em grampos telefônicos, mas
o pedido foi rejeitado pelo plenário do Senado. A decisão fez o
então líder do PT, Tião Viana
(AC), apresentar projeto para
extinguir o órgão, por considerar suas decisões "inócuas".
Para o professor de ética e filosofia política da Unicamp
(Universidade Estadual de
Campinas) Roberto Romano, o
histórico do conselho extrapola
o corporativismo. "É uma espécie de pacto de proteção mútua
que na verdade é um pacto de
impunidade", disse ele, que defendeu a extinção do órgão.
Esse pacto foi exposto na sessão do conselho anteontem.
"Meu voto acompanha o do Cafeteira. Não vou fazer política
no Conselho de Ética porque
um dia posso ser eu sentado
aqui", disse o senador Wellington Salgado (PMDB-MG).
A defesa de Renan tem tentado convencer os senadores de
que os ataques contra ele desgastariam a instituição como
um todo. "Quem não está com
medo de estar interceptado e
de ter sua vida devassada? Será
que o nome de Vossas Excelências não vai estar nos jornais citado por dois ou três marginais?", disse o advogado do senador, Eduardo Ferrão.
Para o cientista político David Fleischer, professor da UnB
(Universidade de Brasília), o
caso de Renan não é tão "estrondoso" quanto os de Estêvão, ACM, Arruda e Jader. "E
isso tem um peso grande nas
decisões do conselho", afirmou.
Luiz Estêvão foi acusado de
envolvimento em superfaturamento das obras do TRT (Tribunal Regional do Trabalho)
paulista. Já o líder do PMDB,
senador Ney Suassuna (PB), recebeu censura verbal em 2006
depois de o conselho investigar
seu envolvimento com a máfia
dos sanguessugas.
Diferente de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), o conselho não tem poder
de quebrar sigilos bancário, fiscal e telefônico nem de convocar testemunhas para depor.
Além do processo contra Renan, há outros nove casos pendentes. O presidente do conselho, Sibá Machado (PT-AC),
disse que pretende analisá-los
no segundo semestre.
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