São Paulo, quarta-feira, 17 de junho de 2009

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ANÁLISE

Sarney reduz pressão, mas deve perder poder

VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O discurso do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), conseguiu neutralizar o movimento que pedia sua renúncia, mas não será suficiente para aplacar a crise se não for seguido de medidas concretas.
Essa foi a avaliação de aliados e adversários de Sarney após sua fala -classificada de tímida e fraca para o público externo por insistir na tese de que não tinha nenhuma relação com atos suspeitos de um diretor-geral do Senado nomeado por ele mesmo em gestão anterior.
O alvo do discurso de Sarney, contudo, era o público interno, com o qual procurou dividir a responsabilidade pela crise do Senado. Nas palavras de um aliado, ele tentou mostrar que todos têm parte da culpa.
Duas frases do senador resumem seu recado aos 80 colegas: "A crise do Senado não é minha, a crise é do Senado" e "todos nós somos responsáveis" ao dizer que, se alguém tiver feito algo de errado em relação aos atos secretos, não só ele, mas todos devem ser punidos.
O efeito no público interno pôde ser observado pelas intervenções de senadores aliados e da oposição: todos seguiram a linha de que a crise é realmente da Casa e de que Sarney precisa conduzir o processo de sua resolução, mas compartilhando as decisões com o plenário.
A estratégia do discurso de Sarney foi desenhada numa reunião pela manhã em sua casa com os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), Romero Jucá (PMDB-RR) e Agripino Maia (DEM-RN). Numa conversa de 40 minutos, Sarney foi aconselhado a dividir responsabilidades com toda a Casa e a se mostrar aberto a adotar propostas da oposição para mudar regras do Senado.
Ao final, o resultado foi um Sarney aliviado, cumprimentado por todos no plenário, inclusive pelo adversário Tião Viana (PT-AC), mas a caminho de perder parte de seu poder. Se quiser superar as turbulências atuais, não poderá, pelo menos nos próximos dias, presidir a Casa ouvindo apenas seu grupo, liderado por Renan Calheiros. Terá de compartilhar decisão com tucanos e petistas.


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