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ANÁLISE
Sarney reduz pressão, mas deve perder poder
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O discurso do presidente do
Senado, José Sarney (PMDB-AP), conseguiu neutralizar o
movimento que pedia sua renúncia, mas não será suficiente
para aplacar a crise se não for
seguido de medidas concretas.
Essa foi a avaliação de aliados
e adversários de Sarney após
sua fala -classificada de tímida
e fraca para o público externo
por insistir na tese de que não
tinha nenhuma relação com
atos suspeitos de um diretor-geral do Senado nomeado por
ele mesmo em gestão anterior.
O alvo do discurso de Sarney,
contudo, era o público interno,
com o qual procurou dividir a
responsabilidade pela crise do
Senado. Nas palavras de um
aliado, ele tentou mostrar que
todos têm parte da culpa.
Duas frases do senador resumem seu recado aos 80 colegas:
"A crise do Senado não é minha, a crise é do Senado" e "todos nós somos responsáveis"
ao dizer que, se alguém tiver
feito algo de errado em relação
aos atos secretos, não só ele,
mas todos devem ser punidos.
O efeito no público interno
pôde ser observado pelas intervenções de senadores aliados e
da oposição: todos seguiram a
linha de que a crise é realmente
da Casa e de que Sarney precisa
conduzir o processo de sua resolução, mas compartilhando
as decisões com o plenário.
A estratégia do discurso de
Sarney foi desenhada numa
reunião pela manhã em sua casa com os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), Romero
Jucá (PMDB-RR) e Agripino
Maia (DEM-RN). Numa conversa de 40 minutos, Sarney foi
aconselhado a dividir responsabilidades com toda a Casa e a
se mostrar aberto a adotar propostas da oposição para mudar
regras do Senado.
Ao final, o resultado foi um
Sarney aliviado, cumprimentado por todos no plenário, inclusive pelo adversário Tião Viana
(PT-AC), mas a caminho de
perder parte de seu poder. Se
quiser superar as turbulências
atuais, não poderá, pelo menos
nos próximos dias, presidir a
Casa ouvindo apenas seu grupo, liderado por Renan Calheiros. Terá de compartilhar decisão com tucanos e petistas.
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