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MARCAS DO PASSADO
Monteiro nega ter sido algemado, o que justificaria escoriações
Ex-padre contesta defesa
do diretor da Polícia Federal
WILSON SILVEIRA
da Sucursal de Brasília
O ex-padre José Antônio Monteiro disse ontem que nunca foi algemado, nem por um minuto, e aceitou participar de uma eventual
acareação com o novo diretor da
Polícia Federal, João Batista Campelo, a quem acusa de torturador.
Segundo Campelo, as escoriações que Monteiro tinha no pulso,
depois de ter sido preso, em agosto
de 1970, foram causadas por algemas, não por ter sido submetido a
tortura em pau-de-arara, como
afirma o ex-padre.
Monteiro depôs ontem na Comissão de Direitos Humanos da
Câmara, depois de passar três horas no serviço médico da Casa, recuperando-se de uma crise hipertensiva. Campelo depõe hoje.
O deputado Jair Bolsonaro (PPB-RJ), que foi buscar resultados de
exames no serviço médico, viu os
jornalistas na porta e perguntou
quem estava sendo atendido lá. Informado de que era o ex-padre,
afirmou: "É nisso que dá torturar e
não matar".
Bolsonaro, ex-capitão do Exército, foi ao seu gabinete e voltou para
a porta do serviço médico, com fotos de corpos de militares mortos
por guerrilheiros, afirmando que
esses crimes é que deveriam estar
sendo investigados.
O deputado disse também que "a
situação do país seria melhor hoje
se a ditadura tivesse matado mais
gente". Questionado por um jornalista se havia feito exame de sanidade mental, o deputado disse
que seus exames mostravam que
ele estava "100% bem".
A pressão arterial de Monteiro
estava a 20 por 11 quando ele chegou à Câmara, às 11h40. No aeroporto, vindo de Maceió, ele já demonstrava nervosismo (seus lábios tremiam), pelo fato de sua bagagem, inclusive papéis que trazia
para o depoimento, ter sido extraviada pela Vasp.
O chefe do serviço médico da Câmara, Luiz Henrique Hargreaves,
disse que Monteiro foi medicado
com o anti-hipertensivo Capoten e
que se sentiu bem em seguida.
Monteiro voltou ao serviço médico por alguns minutos, pelo
mesmo problema, depois de fazer
sua exposição na comissão, no momento em que começariam as perguntas.
Algemas
Monteiro disse que, quando foi
preso, foi visto por várias pessoas,
no trajeto de Urbano Santos (MA),
onde morava, para São Luís, onde
foi interrogado, e que essas pessoas podem comprovar que ele
não usava algemas.
Segundo ele, foi uma viagem de
oito horas, com uma ou duas paradas para descanso, quando curiosos se aproximaram para ver "o
padre preso".
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) está tentando promover uma
acareação entre Monteiro e Campelo no Senado. Ontem, proposta
nesse sentido foi rejeitada pela Comissão de Constituição e Justiça do
Senado.
Em seu depoimento, o ex-padre
repetiu que foi espancado por soldados enquanto era interrogado
por Campelo e colocado em pau-de-arara três vezes.
Segundo Monteiro, Campelo
ajudou os soldados a colocá-lo no
pau-de-arara uma vez, embora
costumasse sair da sala durante a
tortura.
Monteiro afirmou também que
não exercia função disciplinar no
seminário quando Campelo era
aluno e que lá não havia castigo físico, ao contrário do que afirma o
diretor da Polícia Federal.
Para o ex-padre, a posse de Campelo na PF é um retrocesso político. "Parece que o presidente Fernando Henrique Cardoso não está
governando", disse.
O vice-líder do governo na Câmara Elton Rohnelt (PFL-RR),
aliado de Campelo, disse que as investigações do governo levam a
crer que não há fundamento nas
acusações ao diretor da PF. O deputado Nilmário Miranda (PT-MG), presidente da Comissão de
Direitos Humanos, disse considerar Campelo culpado.
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