São Paulo, Quinta-feira, 17 de Junho de 1999
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Ex-colegas negam existência de castigo

PAULO MOTA
da Agência Folha, em Fortaleza

Ex-colegas e religiosos que conviveram com o diretor-geral da Polícia Federal, João Batista Campelo, e com o professor universitário de filosofia e ex-padre José Antônio Monteiro no seminário Santo Antonio, em São Luís, negaram que houvesse as práticas de castigo que Campelo disse ter sido vítima na instituição.
Em reportagem publicada na Folha, sábado passado, Campelo disse que, na época em que esteve no seminário, entre 1957 e 1960, sofreu pancadas de palmatória, passou três meses incomunicável, ficou de joelhos numa escadaria e que foi colocado em pé, de castigo, em frente a uma coluna do seminário por várias horas, devido ao seu comportamento ""rebelde".
""Eu é que deveria dizer que fui vítima de tortura ou de castigos", disse Campelo. Segundo ele, Monteiro era uma espécie de ""dedo-duro" do restante dos alunos do seminário, já que ocupou a função de regente de disciplina dos colegas. Campelo disse que na época do seminário Monteiro ""não tinha muita predileção" por ele.
A Agência Folha entrevistou ontem cinco ex-colegas de Campelo, que entraram com ele no seminário em 1957, e três religiosos que trabalhavam na instituição no período. Todos afirmaram que não lembram desses episódios e foram unânimes em afirmar que não havia prática de castigos.
O funcionário público Benedito da Silva Gomes Filho disse que era da mesma turma de Campelo, mas que não se lembrava de ter visto ele sofrer os castigos. ""O que posso dizer com certeza é que não existia nem palmatória no seminário. Se ele ficou três meses incomunicável, foi sem o conhecimento dos demais colegas", disse.
Segundo Gomes, os problemas disciplinares dos seminaristas eram resolvidos geralmente com muita conversa e, quando chegava em situações limite, os pais eram convocados. ""Nunca vi ninguém ficar de joelhos ou sofrer castigos no seminário", disse Gomes, que estudou no seminário até 1963.
A versão de Gomes, que mora em Brasília, é confirmada pelo advogado José de Ribamar Oliveira Lima, o aposentado João Ribamar Neves, o economista Carlos Clésio Barbosa Frazão e o fazendeiro Arnaldo de Jesus da Silva Carneiro, que estudaram com Campelo.
Eles disseram que conheceram Monteiro, mas que não se lembravam que houvesse um clima de animosidade entre ele e Campelo. Lima disse que o papel de Monteiro como regente disciplinador era mais de orientar do que dedurar.
O padre Francisco Xavier da Silva, que foi reitor do seminário, disse que a disciplina do seminário era ""liberal" para a época. Os padres Aloísio Deina Goch e Sílvio Batista Martins, que foram professores, confirmam a versão de Silva.


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