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MARCAS DO PASSADO
Novo diretor da Polícia Federal montou estratégia de defesa para negar envolvimento com tortura
Campelo leva sua versão à Câmara hoje
ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília
O novo diretor-geral da Polícia
Federal, João Batista Campelo, disse que vai levar hoje à Comissão de
Direitos Humanos da Câmara documentos e testemunhos para sustentar a versão de que não participou de tortura contra o ex-padre
José Antônio Monteiro por ele ter
resistido à prisão, em 1970.
Campelo afirma que as escoriações nos punhos do ex-padre não
foram provocadas por tortura em
pau-de-arara, mas pelo uso de algemas.
Ontem, no seu primeiro dia de
trabalho, Campelo adotou discurso de pacificação no órgão. Pediu
que os 11 coordenadores da instituição permaneçam nos cargos até
concluir uma análise sobre a situação da PF e eliminar as acusações
contra ele.
O presidente Fernando Henrique Cardoso mandou a Casa Militar investigar o suposto envolvimento do novo diretor com a prática de tortura.
O ministro da Justiça não deverá
aceitar indicações do novo diretor
até que sejam esclarecidas as denúncias sobre tortura. Na próxima
semana, Campelo tentará emplacar as primeiras modificações na
cúpula da PF.
Em sua defesa hoje, Campelo levará depoimentos escritos de policiais federais que participaram da
prisão de Monteiro. Eles deverão
contar que o ex-padre sofreu escoriações por ter sido algemado e ter
resistido à ordem de prisão.
São esperados também depoimentos de ex-colegas de seminário
de Campelo sobre o suposto envolvimento de Monteiro com supostos castigos aplicados pela direção
da escola. Campelo tem declarado
que o ex-padre não gostava dele no
seminário porque era "bastante rebelde".
Assessores do novo diretor estavam analisando possíveis contradições entre os depoimentos do
ex-padre prestados na época, especialmente sobre o uso de algemas.
Aliado do ministro da Justiça
contra a posse de Campelo, o ex-diretor-geral Vicente Chelotti teria
pedido ontem licença especial até
outubro para tratar de assuntos
particulares. Chelotti não foi encontrado para confirmar a licença.
Amigos do ex-diretor temiam
que Chelotti fosse submetido a
processo disciplinar por ter criticado a indicação do novo diretor e
ter afirmado que ele não teria condições de dirigir o órgão por causa
das denúncias de tortura.
A assessoria do novo diretor afirmou que ele não irá assumir fazendo retaliações contra eventuais adversários, como Chelotti. Isso porque o governo o indicou para unificar os grupos que disputam espaço dentro do órgão.
O delegado Wantuir Jacini, o
preferido do ministro da Justiça
para o cargo, atendeu o pedido de
Campelo para permanecer como
vice-diretor. Até o final desta semana, Jacini deverá entregar um
relatório detalhado sobre a PF.
Durante reunião secreta do Conselho Superior da PF, Campelo ouviu dos coordenadores reclamações contra atitudes tomadas por
aliados do novo diretor, que teriam submetido a constrangimentos os atuais ocupantes de cargos
de confiança.
Fernando Francischini, assessor
de Campelo, pediu desculpas à
atual chefe da Divisão de Comunicação Social do órgão, Viviane da
Rosa, por ter sentado em sua cadeira após o novo diretor ter ocupado a direção do órgão.
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