São Paulo, Quinta-feira, 17 de Junho de 1999
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MARCAS DO PASSADO
Novo diretor da Polícia Federal montou estratégia de defesa para negar envolvimento com tortura
Campelo leva sua versão à Câmara hoje

ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília

O novo diretor-geral da Polícia Federal, João Batista Campelo, disse que vai levar hoje à Comissão de Direitos Humanos da Câmara documentos e testemunhos para sustentar a versão de que não participou de tortura contra o ex-padre José Antônio Monteiro por ele ter resistido à prisão, em 1970.
Campelo afirma que as escoriações nos punhos do ex-padre não foram provocadas por tortura em pau-de-arara, mas pelo uso de algemas.
Ontem, no seu primeiro dia de trabalho, Campelo adotou discurso de pacificação no órgão. Pediu que os 11 coordenadores da instituição permaneçam nos cargos até concluir uma análise sobre a situação da PF e eliminar as acusações contra ele.
O presidente Fernando Henrique Cardoso mandou a Casa Militar investigar o suposto envolvimento do novo diretor com a prática de tortura.
O ministro da Justiça não deverá aceitar indicações do novo diretor até que sejam esclarecidas as denúncias sobre tortura. Na próxima semana, Campelo tentará emplacar as primeiras modificações na cúpula da PF.
Em sua defesa hoje, Campelo levará depoimentos escritos de policiais federais que participaram da prisão de Monteiro. Eles deverão contar que o ex-padre sofreu escoriações por ter sido algemado e ter resistido à ordem de prisão.
São esperados também depoimentos de ex-colegas de seminário de Campelo sobre o suposto envolvimento de Monteiro com supostos castigos aplicados pela direção da escola. Campelo tem declarado que o ex-padre não gostava dele no seminário porque era "bastante rebelde".
Assessores do novo diretor estavam analisando possíveis contradições entre os depoimentos do ex-padre prestados na época, especialmente sobre o uso de algemas.
Aliado do ministro da Justiça contra a posse de Campelo, o ex-diretor-geral Vicente Chelotti teria pedido ontem licença especial até outubro para tratar de assuntos particulares. Chelotti não foi encontrado para confirmar a licença.
Amigos do ex-diretor temiam que Chelotti fosse submetido a processo disciplinar por ter criticado a indicação do novo diretor e ter afirmado que ele não teria condições de dirigir o órgão por causa das denúncias de tortura.
A assessoria do novo diretor afirmou que ele não irá assumir fazendo retaliações contra eventuais adversários, como Chelotti. Isso porque o governo o indicou para unificar os grupos que disputam espaço dentro do órgão.
O delegado Wantuir Jacini, o preferido do ministro da Justiça para o cargo, atendeu o pedido de Campelo para permanecer como vice-diretor. Até o final desta semana, Jacini deverá entregar um relatório detalhado sobre a PF.
Durante reunião secreta do Conselho Superior da PF, Campelo ouviu dos coordenadores reclamações contra atitudes tomadas por aliados do novo diretor, que teriam submetido a constrangimentos os atuais ocupantes de cargos de confiança.
Fernando Francischini, assessor de Campelo, pediu desculpas à atual chefe da Divisão de Comunicação Social do órgão, Viviane da Rosa, por ter sentado em sua cadeira após o novo diretor ter ocupado a direção do órgão.


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