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MARCAS DO PASSADO
Polícia Federal ficará sob ordens do ministro-chefe da Casa Militar em ação no Polígono da Maconha
General comandará operação antidrogas
WILLIAM FRANÇA
da Sucursal de Brasília
Um dia após a posse do diretor-geral da Polícia Federal, João Batista Campelo, o presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu que
a coordenação de um novo projeto
de repressão ao narcotráfico no
Polígono da Maconha, entre Pernambuco e Bahia, ficará a cargo do
general Alberto Cardoso, ministro-chefe da Casa Militar.
A disputa pelo controle da repressão ao combate de drogas foi
um dos motivos que levaram o general Cardoso a entrar em atrito
com o ministro da Justiça, Renan
Calheiros, superior hierárquico da
Polícia Federal.
Essa disputa quase levou Calheiros a se demitir do governo e gerou
uma crise com o partido do ministro da Justiça, o PMDB.
O general Cardoso, por ser o secretário-executivo da Câmara de
Relações Exteriores e Defesa Nacional (Creden), reunida ontem,
ficou responsável pelo projeto denominado "Pajeú-Moxotó", numa
referência aos rios que cortam
aquela região.
Projeto
Além da repressão ao plantio da
maconha, o general coordenará
um projeto de desenvolvimento e
recuperação econômica da área, financiado pelo Banco do Nordeste.
Segundo o porta-voz da Presidência, Georges Lamazière, caberá
à Casa Militar coordenar o trabalho de repressão ao plantio de maconha e de recuperação social de
cerca de 40 mil agricultores de 32
municípios da região envolvidos
com o narcotráfico.
Para isso, Cardoso coordenará os
trabalhos da Secretaria Nacional
Antidrogas (que já é subordinada a
ele), da Polícia Federal (que desenvolve as chamadas operações "Asa
Branca" na área de repressão) e
mesmo das Forças Armadas -"no
que couber às suas especificidades", afirmou Lamazière.
Antes de sua posse, anteontem, o
diretor-geral da Polícia Federal
disse que não teria problemas em
trabalhar em conjunto com o general Cardoso pois eles se entendiam bem.
A ação no Polígono da Maconha,
que segundo o governo será desencadeada nos próximos dias, será o
primeiro teste.
A decisão sobre a nova operação
antidrogas foi tomada na reunião
de ontem da Creden, realizada no
Palácio do Planalto.
O encontro contou com a participação do presidente FHC, de nove
ministros e dos governadores da
Bahia, César Borges (PFL), e de
Pernambuco, Jarbas Vasconcelos
(PMDB).
Mudar o perfil
O Banco do Nordeste pretende
investir até R$ 150 milhões na região do Polígono da Maconha, em
projetos articulados em torno dos
chamados "faróis do desenvolvimento" montados pela instituição.
Segundo o presente do BNB,
Byron Queiroz, esses faróis já existem nos sete principais municípios
da área.
"Fizemos um estudo detalhado
das vocações econômicas de cada
um dos municípios e vamos liberar recursos para que a sociedade,
que se organiza em torno desses
faróis, tenha financiamento e consiga autonomia longe da maconha", disse Queiroz.
Relatório preparado pelo serviço
federal de inteligência, ao qual a
Folha teve acesso, concluiu que
uma das maiores dificuldades do
combate ao narcotráfico no Polígono da Maconha é modificar o
perfil econômico do sertanejo, que
vê no plantio da droga uma fonte
de recursos mais fácil que o da
agroindústria.
Tanto que vários projetos de piscicultura e de agricultura irrigada
na região, promovidos nos últimos 20 anos, faliram e tiveram boa
parte de suas áreas ocupadas pelo
plantio de maconha.
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