São Paulo, Quinta-feira, 17 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MARCAS DO PASSADO
Polícia Federal ficará sob ordens do ministro-chefe da Casa Militar em ação no Polígono da Maconha
General comandará operação antidrogas

WILLIAM FRANÇA
da Sucursal de Brasília

Um dia após a posse do diretor-geral da Polícia Federal, João Batista Campelo, o presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu que a coordenação de um novo projeto de repressão ao narcotráfico no Polígono da Maconha, entre Pernambuco e Bahia, ficará a cargo do general Alberto Cardoso, ministro-chefe da Casa Militar.
A disputa pelo controle da repressão ao combate de drogas foi um dos motivos que levaram o general Cardoso a entrar em atrito com o ministro da Justiça, Renan Calheiros, superior hierárquico da Polícia Federal.
Essa disputa quase levou Calheiros a se demitir do governo e gerou uma crise com o partido do ministro da Justiça, o PMDB.
O general Cardoso, por ser o secretário-executivo da Câmara de Relações Exteriores e Defesa Nacional (Creden), reunida ontem, ficou responsável pelo projeto denominado "Pajeú-Moxotó", numa referência aos rios que cortam aquela região.

Projeto
Além da repressão ao plantio da maconha, o general coordenará um projeto de desenvolvimento e recuperação econômica da área, financiado pelo Banco do Nordeste.
Segundo o porta-voz da Presidência, Georges Lamazière, caberá à Casa Militar coordenar o trabalho de repressão ao plantio de maconha e de recuperação social de cerca de 40 mil agricultores de 32 municípios da região envolvidos com o narcotráfico.
Para isso, Cardoso coordenará os trabalhos da Secretaria Nacional Antidrogas (que já é subordinada a ele), da Polícia Federal (que desenvolve as chamadas operações "Asa Branca" na área de repressão) e mesmo das Forças Armadas -"no que couber às suas especificidades", afirmou Lamazière.
Antes de sua posse, anteontem, o diretor-geral da Polícia Federal disse que não teria problemas em trabalhar em conjunto com o general Cardoso pois eles se entendiam bem.
A ação no Polígono da Maconha, que segundo o governo será desencadeada nos próximos dias, será o primeiro teste.
A decisão sobre a nova operação antidrogas foi tomada na reunião de ontem da Creden, realizada no Palácio do Planalto.
O encontro contou com a participação do presidente FHC, de nove ministros e dos governadores da Bahia, César Borges (PFL), e de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB).

Mudar o perfil
O Banco do Nordeste pretende investir até R$ 150 milhões na região do Polígono da Maconha, em projetos articulados em torno dos chamados "faróis do desenvolvimento" montados pela instituição.
Segundo o presente do BNB, Byron Queiroz, esses faróis já existem nos sete principais municípios da área.
"Fizemos um estudo detalhado das vocações econômicas de cada um dos municípios e vamos liberar recursos para que a sociedade, que se organiza em torno desses faróis, tenha financiamento e consiga autonomia longe da maconha", disse Queiroz.
Relatório preparado pelo serviço federal de inteligência, ao qual a Folha teve acesso, concluiu que uma das maiores dificuldades do combate ao narcotráfico no Polígono da Maconha é modificar o perfil econômico do sertanejo, que vê no plantio da droga uma fonte de recursos mais fácil que o da agroindústria.
Tanto que vários projetos de piscicultura e de agricultura irrigada na região, promovidos nos últimos 20 anos, faliram e tiveram boa parte de suas áreas ocupadas pelo plantio de maconha.


Texto Anterior: Campelo leva sua versão à Câmara hoje
Próximo Texto: Anistia Internacional volta a citar violência policial
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.