São Paulo, Quinta-feira, 17 de Junho de 1999
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QUESTÃO AGRÁRIA-2
Sindicância investiga excessos em operação policial
Major que comandou despejo de sem-terra deixa cargo em MS

RUBENS VALENTE
da Agência Folha, em Campo Grande

O governador Zeca do PT anunciou o afastamento do comandante da 3ª Companhia da Polícia Militar de Aquidauana (MS), major Sebastião de Oliveira Bueno.
O major Bueno havia comandado a operação de despejo de cerca de 150 famílias de trabalhadores rurais ligadas ao MST em Nioaque (cerca de 150 km de Campo Grande), no último sábado.
O Comando Geral da Polícia Militar afirmou que o major Bueno pediu o afastamento para que não houvesse dúvidas sobre a sindicância aberta ontem para apurar possíveis ""excessos" dos 120 policiais militares mobilizados para a operação de despejo.
Em entrevista coletiva, o governador admitiu que tinha conhecimento da operação policial, que foi autorizada pessoalmente pelo secretário estadual da Segurança, Franklin Masrhua.
A ação foi acusada de ilegal pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), porque o mandado de reintegração de posse, expedido pela Justiça de Aquidauana, era referente a uma área que havia sido desocupada quase dois meses antes.
O governo do Estado utilizou o mesmo mandado para retirar as famílias que já estavam na propriedade vizinha, que pertence ao próprio governo estadual, o assentamento Padroeira do Brasil.
Zeca do PT disse que estava atendendo uma ordem judicial e apenas criticou ""a forma" como foi feito o despejo.
Os sem-terra relataram ter havido detonações de bombas de efeito moral e rajadas de metralhadoras, numa ação iniciada às 4h da madrugada. Barracos dos sem-terra foram demolidos, e lonas foram rasgadas e queimadas.
Segundo Zeca do PT, a operação ""causou constrangimento" ao governo porque os ""trabalhadores sem-terra não podem ser tratados como bandidos".
O governador reuniu ontem o Alto Comando da Polícia Militar e diretores da Polícia Civil para anunciar a formação de um ""Conselho de Crise", a ser formado ainda pela Casa Civil e Secretarias de Justiça e Trabalho e da Produção, que deverá ser acionado antes ""de qualquer cumprimento de mandado judicial de reintegração de posse" de propriedades rurais.


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