São Paulo, Quinta-feira, 17 de Junho de 1999
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MISTÉRIO EM ALAGOAS
Legista queria presença de outro promotor no confronto que terá hoje com autores de contralaudo
Justiça recusa reivindicações de Badan

ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió

MÁRIO MAGALHÃES
enviado especial a Maceió


O legista Fortunato Badan Palhares entregou à Justiça de Alagoas uma petição de seis páginas em que apresentou oito reivindicações para o confronto de hoje, a partir das 15h, entre os peritos que elaboraram os dois laudos principais sobre as mortes de Paulo César Farias e Suzana Marcolino, ocorridas em junho de 1996.
Badan abriu a petição levantando a suspeição do promotor Luiz Vasconcelos devido ao parecer, datado de 5 de abril de 1999, que anexou aos autos do inquérito fotos de Suzana Marcolino publicadas pela Folha e determinou novas diligências.
O legista considerou que o promotor fez juízo de valor ao criticar o laudo coordenado por ele sobre as mortes, em especial na definição da altura de Suzana em 1,67 m.
Badan pediu a presença de um outro promotor para o confronto. A medida não poderia ser tomada pelo juiz Alberto Jorge Correia, só pelo Ministério Público.
"Quem não deve não teme", disse Luiz Vasconcelos. "O pedido é irrelevante. Estou acostumado com pressão muito pior. É tão medíocre que não merece resposta."

Tubos de ensaio
A reivindicação que causou maior surpresa ao juiz foi a apresentação hoje dos tubos de ensaio com o algodão que foi passado nas mãos de Suzana no dia 23 de junho de 1996 para recolher resíduos de substâncias.
Os peritos alagoanos que realizaram o teste fizeram parte da equipe do laudo de Badan.
Na época, não foram encontrados no algodão cinco elementos químicos que costumam ficar nas mãos de pessoas que atiram.
Badan também quer: a instalação de uma cama de casal no fórum; a arma do crime; cópia do vídeo das necropsias realizadas pelos autores do contralaudo em 1997; cópia do laudo da Unicamp sobre a altura de Suzana baseado nas fotos obtidas pela Folha; direito de seus três advogados intervirem no debate; e o conhecimento da lista de cinco consultores requisitados pelo promotor.
Alberto Jorge Correia indeferiu a petição de Badan, embora possa vir a providenciar a cama e o algodão. "No geral, é uma aberração jurídica. Peritos são auxiliares da Justiça. Advogado é para réu."

Advogado
O juiz também negou o pedido do advogado José Fragoso Cavalcanti, representante de Augusto Farias, irmão de PC, e dos quatro seguranças já indiciados por duplo homicídio. Fragoso queria fazer perguntas.
Somente o promotor e o juiz poderão questionar os peritos. "Isso não será um circo", disse Correia.
Ao contrário de anteontem, o advogado Nivaldo Dóro afirmou que seu cliente Badan não condiciona a presença no confronto ao atendimento das solicitações. A petição, porém, fala na possibilidade de não haver o debate.
Dizendo que apenas seus advogados dariam entrevista, o legista chegou ontem a Maceió, três anos após ser contratado como o perito que esclareceria as mortes do ex-tesoureiro de Fernando Collor de Mello e Suzana Marcolino.
De um lado do debate, ficarão Badan e co-autores do seu laudo, entre eles os legistas Antônio Bastos e Gérson Odilon. Eles concluíram que Suzana matou PC e se suicidou. De acordo com o trabalho, a altura dela seria 1,67 m.
Do outro lado, estarão os autores do contralaudo de 1997, entre os quais os legistas Genival Veloso de França e Daniel Muñoz e o perito criminal Domingos Tochetto.

Altura de Suzana
Num laudo não-conclusivo, eles afirmaram que provavelmente Suzana não se suicidou e que não há elementos para assegurar que ela assassinou PC. Com base nos ossos do cadáver, projetaram a altura em 1,57 m.
No dia 22 de março, o promotor Luiz Vasconcelos disse que, com a dúvida sobre a altura e a divergências entre os laudos, o caso caminhava para o arquivamento.
Dois dias depois, com a publicação das fotos em que Suzana aparece mais baixa que PC, cuja altura era 1,63 m, o promotor reabriu as investigações.
Suzana media de 1,53 m a 1,57 m, segundo o laudo sobre as fotos. Com esse tamanho, ela teria sido atingida no rosto ou a bala teria passado sobre um ombro, conforme o contralaudo de 1997. A bala que a matou penetrou no peito.


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