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FORÇAS ARMADAS
Aumento é vitória de Viegas sobre Mantega, que queria 5%
Planalto dá reajuste de 10% a
militares e contorna desgaste
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal anunciou ontem um reajuste salarial de 10%
para os militares, colocando, pelo
menos por ora, um ponto final
numa polêmica que desgastou o
ministro José Viegas (Defesa), colocou sob tensão os comandantes
das Forças Armadas diante do
Executivo e fez com que mulheres
de militares realizassem protesto
durante uma cerimônia de troca
da bandeira, em Brasília.
O aumento, antecipado ontem
pela Folha, será linear e passará a
valer na folha de pagamento de
setembro, referente aos serviços
de agosto. Significa ainda vitória
particular de Viegas sobre seu colega Guido Mantega (Planejamento), que insistia num reajuste
máximo de 5%. Anteontem, em
reunião no Palácio do Planalto, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva bateu o martelo sobre o valor,
diante de Viegas e Mantega.
Ontem, após o anúncio de Mantega, Viegas determinou a assessores que o reajuste fosse tratado
como "parcial". Um estudo da
Defesa e das Forças Armadas prevê, além do reajuste de 10% neste
ano, outros 23% no início de 2005.
"Tenho plena confiança em que
a necessária recomposição dos
vencimentos dos militares e pensionistas será complementada no
próximo ano, levando em conta
os estudos encaminhados", disse
Viegas, em nota divulgada ontem.
Em entrevista no Rio, o ministro afirmou, porém, que "não há o
que comemorar". "Essa decisão é
normal. Não há o que comemorar. É uma decisão parcial, que vai
ser acompanhada de outras decisões a esse respeito. De maneira
que a situação é a mesma."
Viegas afirmou ainda não se
considerar enfraquecido, ao responder sobre um possível fortalecimento a partir do aumento. "Eu
não estava enfraquecido, então
não tenho como me fortalecer."
O ministro do Planejamento,
Guido Mantega, negou ontem
que tenha sido contrário ao aumento de 10% para os militares
anunciado ontem em Brasília.
"Eu não fui contra os 10%. Eles
[militares] queriam muito mais
do que isso, mas não foi possível
dar. Propus 5% a partir de agosto,
mas não era essa a expectativa. O
que se decidiu, então, foi um reajuste de 10% a partir de setembro.
Esse foi o aumento possível."
Viegas, a partir de agora, vai se
debruçar sobre outro problema: a
reestruturação da Marinha, do
Exército e da Aeronáutica.
Com o reajuste, a folha de pagamento da Defesa, em 2005, vai para cerca de R$ 23,2 bilhões, divididos entre ativos (R$ 7,5 bilhões),
inativos e pensionistas (R$ 13,8
bilhões) e civis (R$ 1,9 bilhão).
Até dezembro deste ano, haverá
um gasto extra aproximado do
governo de R$ 750 milhões, que,
de acordo com o Planejamento,
será pago com o excesso de arrecadação do governo.
Desde o início do ano os militares cobram um reajuste linear
próximo de 30% pelas perdas
com a inflação entre 2001 e 2004.
No início de 2001 houve uma reestruturação da remuneração por
meio de medida provisória
-28,23%, em média, pago em
parcelas até janeiro de 2002.
Há, no Ministério da Defesa, um
estudo paralelo para que o salário
de um recruta alcance o valor do
salário mínimo (R$ 260). Isso, porém, assim como os outros 23%
pretendidos pelos militares, ficará
para ser discutido em 2005.
Desgaste
O tema do reajuste militar tornou-se espinhoso para o governo,
principalmente a partir de abril
passado, quando cerca de 700 familiares de militares organizaram
protesto na praça dos Três Poderes durante a troca da bandeira.
Pelas regras das Forças, militares da ativa não podem fazer greve nem esse tipo de protesto.
Na seqüência, dias após a manifestação, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos
Bueno, divulgou nota admitindo
que a defasagem salarial acarretava, à época, "possibilidade real de
florescer insatisfações sociais".
Foi quando Viegas reagiu e causou mal-estar entre os comandos
e a pasta. O ministro enviou mensagem aos comandantes desautorizando o que chamou de "manifestações isoladas".
Colaborou SERGIO TORRES, da Sucursal
do Rio
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