São Paulo, sábado, 17 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RELAÇÕES PERIGOSAS

Dois delegados da confiança de Baltazar aparecem como clientes de Toninho da Barcelona, investigado desde 97

Chefe da PF negociou com doleiro por 5 anos

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal rastreou uma série de negócios entre o superintendente do órgão em São Paulo, Francisco Baltazar da Silva, e o doleiro Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, durante o período 1997-2002. Na maior parte das vezes, Baltazar comprou e vendeu dólares, praticamente em todos os meses naqueles seis anos.
A movimentação surpreendeu o setor de inteligência da PF porque em dois anos -1998 e 2002- Baltazar manteve uma agenda carregada ao coordenar a equipe de segurança do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, hoje presidente. Naqueles anos, o delegado precisou viajar constantemente para avaliar a estrutura de comícios do petista.
Ao todo, Baltazar movimentou US$ 134,6 mil na Barcelona Tur, casa de câmbio de Claramunt em São Paulo investigada pela própria PF desde 1997.
Além dele, dois delegados federais de sua confiança, segundo investigação do Ministério Público Federal, mantinham negócios com Claramunt.
O delegado Mauro Sérgio Salles Abdo comandava, até o início do mês, um dos mais importantes postos da PF paulistana, a delegacia de crimes fazendários. Durante um ano e três anos após a primeira comunicação do Ministério Público à Justiça Federal sobre o resultado da operação contra Claramunt, Abdo atuou normalmente na chefia da delegacia.
Outro delegado referido pelo Ministério Público, Marcus Vinicius Deneno, ainda hoje comanda a PF de São José dos Campos -foi nomeado na gestão anterior, segundo a assessoria de comunicação da PF, mas acabou mantido no cargo por Baltazar.
A Justiça Federal não foi informada sobre a providência que Baltazar teria tomado para apurar a denúncia contra os delegados.
A assessoria da PF não soube dizer, ontem, se foi aberto algum procedimento interno a partir de março de 2003.
A Folha teve acesso a partes do processo não cobertos pelo sigilo que tratam das supostas compras de dólar feitas por policiais federais com Claramunt (cinco delegados e quatro agentes).
Sobre Abdo, há dois comprovantes de depósitos bancários em nome de terceiras pessoas. Mas anotações feitas a caneta indicariam o real destinatátrio dos recursos: "Abdo". Em 17 de dezembro de 98, por exemplo, há depósito de R$ 14.463,00 com a inscrição "Abdo". Foram apreendidos também boletos de um condomínio residencial quitados em nome de Mauro Sérgio Salles Abdo.
Deneno é referido num dos comprovantes como "Amigo Deneno". Há um depósito de R$ 102 mil realizado em 28 abril de 1999 no banco Citibank em nome de um familiar do delegado.
Também constam, entre os clientes, nomes de membros do Judiciário, do Executivo e do Ministério Público Federal ainda não revelados. Desses, um juiz federal e um subprocurador foram alvo da Operação Anaconda. Preso naquela operação, o juiz federal João Carlos da Rocha Mattos ocupava um apartamento registrado em nome de uma empresa de paraíso fiscal cujo procurador era o advogado de Claramunt.
Abdo e Deneno foram procurados, por meio de pedido por escrito entregue à assessoria de comunicação social da PF, mas não foram localizados. Foram feitas ligações para a PF de São José dos Campos e para a delegacia fazendária, mas as atendentes disseram que os delegados não poderiam ser localizados ontem.


Texto Anterior: Outro lado: Parlamentar alega compromissos partidários
Próximo Texto: Outro lado: "Dinheiro veio de indenização"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.