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RELAÇÕES PERIGOSAS
Dois delegados da confiança de Baltazar aparecem como clientes de Toninho da Barcelona, investigado desde 97
Chefe da PF negociou com doleiro por 5 anos
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Federal rastreou uma
série de negócios entre o superintendente do órgão em São Paulo,
Francisco Baltazar da Silva, e o
doleiro Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona,
durante o período 1997-2002. Na
maior parte das vezes, Baltazar
comprou e vendeu dólares, praticamente em todos os meses naqueles seis anos.
A movimentação surpreendeu
o setor de inteligência da PF porque em dois anos -1998 e
2002- Baltazar manteve uma
agenda carregada ao coordenar a
equipe de segurança do então
candidato Luiz Inácio Lula da Silva, hoje presidente. Naqueles
anos, o delegado precisou viajar
constantemente para avaliar a estrutura de comícios do petista.
Ao todo, Baltazar movimentou
US$ 134,6 mil na Barcelona Tur,
casa de câmbio de Claramunt em
São Paulo investigada pela própria PF desde 1997.
Além dele, dois delegados federais de sua confiança, segundo investigação do Ministério Público
Federal, mantinham negócios
com Claramunt.
O delegado Mauro Sérgio Salles
Abdo comandava, até o início do
mês, um dos mais importantes
postos da PF paulistana, a delegacia de crimes fazendários. Durante um ano e três anos após a primeira comunicação do Ministério
Público à Justiça Federal sobre o
resultado da operação contra Claramunt, Abdo atuou normalmente na chefia da delegacia.
Outro delegado referido pelo
Ministério Público, Marcus Vinicius Deneno, ainda hoje comanda
a PF de São José dos Campos
-foi nomeado na gestão anterior, segundo a assessoria de comunicação da PF, mas acabou
mantido no cargo por Baltazar.
A Justiça Federal não foi informada sobre a providência que
Baltazar teria tomado para apurar
a denúncia contra os delegados.
A assessoria da PF não soube dizer, ontem, se foi aberto algum
procedimento interno a partir de
março de 2003.
A Folha teve acesso a partes do
processo não cobertos pelo sigilo
que tratam das supostas compras
de dólar feitas por policiais federais com Claramunt (cinco delegados e quatro agentes).
Sobre Abdo, há dois comprovantes de depósitos bancários em
nome de terceiras pessoas. Mas
anotações feitas a caneta indicariam o real destinatátrio dos recursos: "Abdo". Em 17 de dezembro de 98, por exemplo, há depósito de R$ 14.463,00 com a inscrição "Abdo". Foram apreendidos
também boletos de um condomínio residencial quitados em nome
de Mauro Sérgio Salles Abdo.
Deneno é referido num dos
comprovantes como "Amigo Deneno". Há um depósito de R$ 102
mil realizado em 28 abril de 1999
no banco Citibank em nome de
um familiar do delegado.
Também constam, entre os
clientes, nomes de membros do
Judiciário, do Executivo e do Ministério Público Federal ainda
não revelados. Desses, um juiz federal e um subprocurador foram
alvo da Operação Anaconda. Preso naquela operação, o juiz federal João Carlos da Rocha Mattos
ocupava um apartamento registrado em nome de uma empresa
de paraíso fiscal cujo procurador
era o advogado de Claramunt.
Abdo e Deneno foram procurados, por meio de pedido por escrito entregue à assessoria de comunicação social da PF, mas não foram localizados. Foram feitas ligações para a PF de São José dos
Campos e para a delegacia fazendária, mas as atendentes disseram
que os delegados não poderiam
ser localizados ontem.
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