São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 2008

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Eike e Dantas travaram no Senado disputa de lobbies

Grampo aponta que Kátia Abreu (DEM-TO) teria recebido R$ 2 mi para favorecer a OAS

Construtora teria procurado senadora para que fizesse emenda sobre portos em favor de seu interesse; congressista nega propina


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
EM SÃO PAULO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os empresários Eike Batista e Daniel Dantas travaram uma "disputa de lobbies" no Senado, há cerca de dois meses, em torno da atuação do setor empresarial nos portos do país. Segundo relatórios da Polícia Federal relativos à Operação Satiagraha, o embate pode ter envolvido pagamento de propina e tráfico de influência.
O motivo foi a votação de uma emenda a medida provisória que tratava dos portos.
Em escuta telefônica que consta do relatório da PF, Arthur Joaquim Carvalho, cunhado e homem de confiança de Dantas, afirma ter ouvido que a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), relatora da MP, recebeu R$ 2 milhões da empresa OAS para propor uma emenda à medida provisória. Essa emenda era contra os interesses de Dantas. Kátia Abreu nega ter recebido propina.
A conversa gravada pela PF em 27 de maio é de Carvalho com o publicitário Guilherme Sodré, o Guiga, amigo do governador Jaques Wagner (PT-BA). Segundo a PF, Guiga também atuaria para Dantas.
Ontem, o Painel revelou que o Opportunity tinha forte interesse na MP.
A senadora desistiu da emenda à MP no dia seguinte porque, segundo ela, houve acordo com o governo, que teria prometido publicar um decreto com o teor da emenda.
Kátia Abreu pretendia permitir que controladores de portos privados pudessem movimentar cargas de outras empresas, sem limites de quantidade. Uma resolução da Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) limita essa movimentação.
A emenda beneficiaria Eike Batista, que tem o projeto de investir R$ 6 bilhões em um porto em Peruíbe (SP).
A senadora afirma que se encontrou de forma "transparente" com Eike e com representantes de outras 11 empresas, incluindo a OAS, para tratar de sua emenda.
Vários congressistas ouvidos pela Folha disseram que Eike fez lobby a favor da proposta.
Se passasse, a emenda de Kátia Abreu prejudicaria Dantas, cujo grupo possui a Santos Brasil, empresa que opera terminal portuário. Entre outras coisas, abriria espaço para a entrada de uma forte concorrência.
Carvalho, que foi gravado pela Polícia Federal, é presidente do conselho de administração da empresa. "É um tiro na nossa testa", diz ele, se referindo, no grampo, à emenda.
Em outro trecho da conversa, ele reclama que o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) não deveria discutir com a senadora Ideli Salvatti (PT-SC), como ocorreu na sessão daquele dia, porque poderia "desandar tudo". Ideli se colocou contra a emenda, o que atraiu ironias de Heráclito.
"Enquanto eu discursava, ele dizia: Você foi para a bancada do Daniel Dantas", afirmou Ideli à Folha. O senador é tratado no grampo como aliado.
No relatório da PF, há uma confusão sobre a suposta propina. Ele registra indícios de que "a senadora Ideli teria recebido R$ 2 milhões", embora os diálogos deixem claro que a menção é em relação a Katia.
"O delegado é tão sereno que diz que quem teria recebido foi a Ideli", ironizou Heráclito.
Irritada, Ideli disse que telefonou ontem para o ministro Tarso Genro (Justiça) e para o juiz federal Fausto Martin De Sanctis, responsável pelo caso, para pedir correção e a punição do responsável. Segundo a senadora, Tarso afirmou que a situação "é grave e acaba desqualificando o inquérito".
(HUDSON CORRÊA, RANIER BRAGON, ANDREZA MATAIS, CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA E SIMONE IGLESIAS)


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