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Eike e Dantas travaram no Senado disputa de lobbies
Grampo aponta que Kátia Abreu (DEM-TO) teria recebido R$ 2 mi para favorecer a OAS
Construtora teria procurado senadora para que fizesse emenda sobre portos em favor de seu interesse; congressista nega propina
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
EM SÃO PAULO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os empresários Eike Batista
e Daniel Dantas travaram uma
"disputa de lobbies" no Senado,
há cerca de dois meses, em torno da atuação do setor empresarial nos portos do país. Segundo relatórios da Polícia Federal relativos à Operação Satiagraha, o embate pode ter envolvido pagamento de propina
e tráfico de influência.
O motivo foi a votação de
uma emenda a medida provisória que tratava dos portos.
Em escuta telefônica que
consta do relatório da PF, Arthur Joaquim Carvalho, cunhado e homem de confiança de
Dantas, afirma ter ouvido que a
senadora Kátia Abreu (DEM-TO), relatora da MP, recebeu
R$ 2 milhões da empresa OAS
para propor uma emenda à medida provisória. Essa emenda
era contra os interesses de
Dantas. Kátia Abreu nega ter
recebido propina.
A conversa gravada pela PF
em 27 de maio é de Carvalho
com o publicitário Guilherme
Sodré, o Guiga, amigo do governador Jaques Wagner (PT-BA).
Segundo a PF, Guiga também
atuaria para Dantas.
Ontem, o Painel revelou que
o Opportunity tinha forte interesse na MP.
A senadora desistiu da
emenda à MP no dia seguinte
porque, segundo ela, houve
acordo com o governo, que teria prometido publicar um decreto com o teor da emenda.
Kátia Abreu pretendia permitir que controladores de
portos privados pudessem movimentar cargas de outras empresas, sem limites de quantidade. Uma resolução da Antaq
(Agência Nacional de Transportes Aquaviários) limita essa
movimentação.
A emenda beneficiaria Eike
Batista, que tem o projeto de
investir R$ 6 bilhões em um
porto em Peruíbe (SP).
A senadora afirma que se encontrou de forma "transparente" com Eike e com representantes de outras 11 empresas,
incluindo a OAS, para tratar de
sua emenda.
Vários congressistas ouvidos
pela Folha disseram que Eike
fez lobby a favor da proposta.
Se passasse, a emenda de Kátia Abreu prejudicaria Dantas,
cujo grupo possui a Santos Brasil, empresa que opera terminal portuário. Entre outras coisas, abriria espaço para a entrada de uma forte concorrência.
Carvalho, que foi gravado pela Polícia Federal, é presidente
do conselho de administração
da empresa. "É um tiro na nossa testa", diz ele, se referindo,
no grampo, à emenda.
Em outro trecho da conversa, ele reclama que o senador
Heráclito Fortes (DEM-PI)
não deveria discutir com a senadora Ideli Salvatti (PT-SC),
como ocorreu na sessão daquele dia, porque poderia "desandar tudo". Ideli se colocou contra a emenda, o que atraiu ironias de Heráclito.
"Enquanto eu discursava, ele
dizia: Você foi para a bancada
do Daniel Dantas", afirmou
Ideli à Folha. O senador é tratado no grampo como aliado.
No relatório da PF, há uma
confusão sobre a suposta propina. Ele registra indícios de
que "a senadora Ideli teria recebido R$ 2 milhões", embora
os diálogos deixem claro que a
menção é em relação a Katia.
"O delegado é tão sereno que
diz que quem teria recebido foi
a Ideli", ironizou Heráclito.
Irritada, Ideli disse que telefonou ontem para o ministro
Tarso Genro (Justiça) e para o
juiz federal Fausto Martin De
Sanctis, responsável pelo caso,
para pedir correção e a punição
do responsável. Segundo a senadora, Tarso afirmou que a situação "é grave e acaba desqualificando o inquérito".
(HUDSON CORRÊA, RANIER BRAGON, ANDREZA MATAIS, CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA E SIMONE IGLESIAS)
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