São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/LULA NA MIRA

Documento não inclui campanhas de Mercadante, Genoino, Benedita e Edson Santos

PT e Duda fizeram contrato exclusivo para Lula em 2002

RUBENS VALENTE
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O contrato assinado em 2002 entre o comitê de campanha de Luiz Inácio Lula da Silva e o publicitário Duda Mendonça desmonta a versão de que houve um "pacote global" de serviços prestados ao PT naquele ano, apresentada por Duda em depoimentos prestados à Polícia Federal e à CPI dos Correios na semana passada.
Em seus depoimentos, Duda alegou que um "pacote" de "serviço global" ao PT, avaliado em R$ 25 milhões para 2002, envolveu as campanhas de Lula e de quatro candidatos petistas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Com isso, o publicitário procurou desvincular a campanha presidencial dos cerca de R$ 15 milhões de caixa dois que admitiu ter recebido em 2003.
Duda alegou à CPI não ter condições de separar os gastos com a campanha de Lula dos custos das demais candidaturas. Questionado por integrantes da CPI, Duda disse não poder garantir que a campanha presidencial ficara imune ao caixa dois.
Cópia do contrato, enviada à Folha, a pedido, pela Direção Nacional do PT, informa que o objeto tratava-se de "serviços de análise de perfil e imagem do Partido dos Trabalhadores e do seu candidato à Presidência" e realização dos programas eleitorais "nas eleições presidenciais de 2002".
Ao contrário do que disse Duda, o documento nada menciona a respeito das campanhas ao governo de SP, de José Genoino, ao Senado, de Aloizio Mercadante, ao governo do Rio, de Benedita da Silva, e ao Senado pelo Rio, de Edson Santos, todos do PT.
O contrato revela os dois personagens do PT que participaram das negociações com Duda: o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares. Ambos assinam o documento junto com Duda.
"Em 2002, prestei serviço de marketing político somente ao PT. O valor do pacote global de serviços foi convencionado em torno de R$ 25 milhões", disse Duda à PF da Bahia.
Procurado ontem, Duda não retornou os telefonemas.
Também à PF, Zilmar Fernandes da Silveira, a sócia de Duda, mencionou a suposta existência de um pacote de serviços para vários candidatos petistas. "Em 2002, firmou uma nova negociação de pacote de serviços publicitários, tanto partidários como campanhas políticas. Todos os serviços de natureza publicitária prestados neste ano totalizam o valor de R$ 25 milhões", disse Zilmar. Em seguida, ela listou as candidaturas de Lula, Genoino, Mercadante, Benedita e Edson Santos.
Segundo o PT, o único documento em poder da Direção Nacional da sigla que trata da relação Duda-PT é o contrato assinado com o comitê de campanha de Lula. "Não consta nenhum outro tipo de compromisso com a empresa citada [de Duda]", informou a direção do PT, em nota divulgada na última sexta-feira.
O contrato previa pagamento de R$ 5 milhões para o primeiro turno presidencial. O PT disse à Justiça Eleitoral ter pago oficialmente, ao todo, R$ 7,08 milhões.
A versão de que Duda fechou um "pacote global" com o PT também é colocada em dúvida pelas informações do tesoureiro da campanha de Genoino e do PT-SP, Danilo de Camargo. Ele contou à Folha, na semana passada, que foi assinado um contrato específico, avaliado em R$ 2,1 milhões, entre o comitê da campanha paulista e a empresa de Duda, a CEP (Comunicação e Estratégia Política Ltda.). O serviço se estenderia à campanha de Mercadante.
O contágio da campanha de Lula com o caixa dois operado por Delúbio e pelo publicitário Marcos Valério de Souza já foi tornado público no dia da queda do ex-secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional Márcio Lacerda, no início de agosto.
Ao ser apontado como beneficiário de transferências de R$ 457 mil das contas de Valério, Lacerda afirmou que o dinheiro pagara serviços da empresa New Trade no segundo turno da campanha de Lula. A empresa participara da campanha de Ciro Gomes.
Duda reconheceu na CPI ter recebido R$ 15 milhões de caixa dois, R$ 10,5 milhões dos quais por meio de transferências bancárias para uma conta de uma "offshore" -a Dusseldorf Company. Cerca de R$ 3,6 milhões Duda disse ter recebido, em dinheiro, das mãos de Delúbio. O restante foi sacado de contas da empresa de Valério SMPB, no Banco Rural.


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