|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Justiça não acha origem do dinheiro
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
Dezoito das 40 remessas de dinheiro que irrigaram uma conta
aberta no exterior pelo publicitário Duda Mendonça para receber
dinheiro do caixa dois do PT continuam sem origem identificada,
segundo documento elaborado
pelo Ministério da Justiça, em
Brasília. A parcela sem origem somou US$ 1,53 milhão.
O estudo tomou como base os
documentos entregues na semana passada por Duda Mendonça à
CPI dos Correios. As 40 transferências que Duda comprovou documentalmente ter recebido na
conta bancária da sua "offshore"
(empresa de papel, protegida pelo
sigilo) Dusseldorf Company somaram US$ 3,04 milhões - cerca
de R$ 7,16 milhões, ao câmbio de
ontem. Duda disse ter recebido
R$ 10,5 milhões em 2003, pelo
câmbio da época, na conta da
Dusseldorf, empresa sediada no
paraíso fiscal das Ilhas Bahamas.
Os técnicos do DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos
e Cooperação Jurídica Internacional), ligado ao Ministério da Justiça, também não conseguiram
identificar o caminho correto de
outras três remessas. Os papéis de
Duda estão incompletos. Não se
sabe o banco pelo qual passaram,
antes de chegar à conta do publicitário no BankBoston, US$ 131
mil atribuídos à "offshore" Kanton Business, cujos proprietários
são desconhecidos. Também não
fica claro quais empresas operaram contas dos bancos Rural Europa S/A e Rural International
Bank, dos quais partiram duas remessas de US$ 95 mil ao todo.
A principal origem dos repasses, com US$ 827 mil, é a "offshore" Trade Link Bank, ligada ao
Banco Rural de Belo Horizonte,
segundo a CPI do Banestado.
O deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP), subrelator na
CPI, disse que o organograma do
Ministério da Justiça sobre as remessas compromete a tese de que
a origem do dinheiro de caixa
dois são os empréstimos contraídos pelo publicitário mineiro
Marcos Valério Fernandes de
Souza. Para o deputado, não há
relação direta entre as contas de
Valério e as remessas para Duda.
"Ele [Valério] pode até se restabelecer, mas por ora rompeu-se o
elo", disse o deputado.
Segundo a secretária nacional
de Justiça, Cláudia Chagas, os elementos já colhidos no inquérito
policial que investiga o suposto
"mensalão" e na CPI dos Correios
são suficientes, juridicamente, para que as autoridades dos EUA
concedam a quebra de sigilo das
oito contas que alimentaram a
Dusseldorf bem como as contas
pessoais de Duda e Zilmar.
Até agora, há indícios de prática
dos crimes de evasão fiscal, sonegação, lavagem de dinheiro.
Hipótese
A CPI trabalha com a hipótese
de que o dinheiro enviado a Duda
foi sacado das contas da empresa
SMPB, de Marcos Valério, por
policiais civis autorizados pela
empresa ou por terceiros e sob
orientação do ex-tesoureiro nacional do PT Delúbio Soares. Em
seguida, o dinheiro seria entregue
a um doleiro ligado a Valério ou a
Duda e enviado ao exterior, via laranjas ou por uma câmara de
compensação paralela (o doleiro
recebe o dinheiro no Brasil e emite uma ordem para que outro doleiro, no exterior, faça o pagamento em território estrangeiro). Valério e Duda negam ter atuado
com doleiros.
(RUBENS VALENTE, MARTA SALOMON, VERA MAGALHÃES E ANDRÉA MICHAEL)
Texto Anterior: PT e Duda fizeram contrato exclusivo para Lula em 2002 Próximo Texto: Escândalo do "mensalão"/Novas conexões: Promotoria aponta elo entre Duda e Maluf Índice
|