São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 2005

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Justiça não acha origem do dinheiro

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

DO PAINEL, EM BRASÍLIA

Dezoito das 40 remessas de dinheiro que irrigaram uma conta aberta no exterior pelo publicitário Duda Mendonça para receber dinheiro do caixa dois do PT continuam sem origem identificada, segundo documento elaborado pelo Ministério da Justiça, em Brasília. A parcela sem origem somou US$ 1,53 milhão.
O estudo tomou como base os documentos entregues na semana passada por Duda Mendonça à CPI dos Correios. As 40 transferências que Duda comprovou documentalmente ter recebido na conta bancária da sua "offshore" (empresa de papel, protegida pelo sigilo) Dusseldorf Company somaram US$ 3,04 milhões - cerca de R$ 7,16 milhões, ao câmbio de ontem. Duda disse ter recebido R$ 10,5 milhões em 2003, pelo câmbio da época, na conta da Dusseldorf, empresa sediada no paraíso fiscal das Ilhas Bahamas.
Os técnicos do DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional), ligado ao Ministério da Justiça, também não conseguiram identificar o caminho correto de outras três remessas. Os papéis de Duda estão incompletos. Não se sabe o banco pelo qual passaram, antes de chegar à conta do publicitário no BankBoston, US$ 131 mil atribuídos à "offshore" Kanton Business, cujos proprietários são desconhecidos. Também não fica claro quais empresas operaram contas dos bancos Rural Europa S/A e Rural International Bank, dos quais partiram duas remessas de US$ 95 mil ao todo.
A principal origem dos repasses, com US$ 827 mil, é a "offshore" Trade Link Bank, ligada ao Banco Rural de Belo Horizonte, segundo a CPI do Banestado.
O deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP), subrelator na CPI, disse que o organograma do Ministério da Justiça sobre as remessas compromete a tese de que a origem do dinheiro de caixa dois são os empréstimos contraídos pelo publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza. Para o deputado, não há relação direta entre as contas de Valério e as remessas para Duda. "Ele [Valério] pode até se restabelecer, mas por ora rompeu-se o elo", disse o deputado.
Segundo a secretária nacional de Justiça, Cláudia Chagas, os elementos já colhidos no inquérito policial que investiga o suposto "mensalão" e na CPI dos Correios são suficientes, juridicamente, para que as autoridades dos EUA concedam a quebra de sigilo das oito contas que alimentaram a Dusseldorf bem como as contas pessoais de Duda e Zilmar.
Até agora, há indícios de prática dos crimes de evasão fiscal, sonegação, lavagem de dinheiro.

Hipótese
A CPI trabalha com a hipótese de que o dinheiro enviado a Duda foi sacado das contas da empresa SMPB, de Marcos Valério, por policiais civis autorizados pela empresa ou por terceiros e sob orientação do ex-tesoureiro nacional do PT Delúbio Soares. Em seguida, o dinheiro seria entregue a um doleiro ligado a Valério ou a Duda e enviado ao exterior, via laranjas ou por uma câmara de compensação paralela (o doleiro recebe o dinheiro no Brasil e emite uma ordem para que outro doleiro, no exterior, faça o pagamento em território estrangeiro). Valério e Duda negam ter atuado com doleiros. (RUBENS VALENTE, MARTA SALOMON, VERA MAGALHÃES E ANDRÉA MICHAEL)

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