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ELIO GASPARI
O que fazer? Nada
Constituinte, revisão,
Conselho da República, reforma política. Tudo parolagem. O que o governo precisa é
fazer nada. Basta que governe.
Não se deve fazer nada porque
tudo o que precisa funcionar está funcionando. Há três Comissões Parlamentares de Inquérito
fazendo seu serviço, quase sempre ao vivo e a cores. A Polícia
Federal e o Ministério Público
cumprem suas tarefas com admirável serenidade. A imprensa
e o Parlamento funcionam sem
qualquer inibição. As pessoas
que preferem se manifestar na
rua pintam suas caras, gritam e
voltam para casa. A crise é produto da normalidade democrática e os instrumentos da normalidade democrática revelam-se suficientes para abrigá-la.
Uns poucos remendos convenientes não justificam uma reforma.
A idéia de que a cada rolo e a
cada governo deve-se reformar
o Estado e reinventar Pindorama é uma mistificação destinada a deixar as coisas como estão. Coisa assim: é preciso mudar as leis porque elas são falhas
e, como são falhas, enquanto
não forem mudadas, não serão
cumpridas. De outra maneira:
as leis não são cumpridas porque são falhas e são desrespeitadas porque não foram mudadas. Esses argumentos nada têm
a ver com o aperfeiçoamento
das leis. São disfarces da preservação do privilégio e da impunidade.
Qualquer transação de caixa
dois, dessas que azeitaram a
campanha de Lula e Duda Paz e
Amor, envolve pelo menos três
delinqüências que custam, por
baixo, quatro anos de cadeia. É
nessa moldura que o Ministério
Público está investigando a roubalheira companheira. Não será
a reforma das leis que levará
Duda Mendonça a dispensar
seus caraminguás caribenhos.
Pelo contrário: cacarejou-os
tanto com Maluf como com Lula. Ele e seus similares só vão parar de fazer campanhas com
caixa dois quando tiverem medo de virar Toninho da Barcelona. Antonio Claramunt (seu
verdadeiro nome) deixou o
mercado de câmbio sem que fosse necessária uma reforma bancária. Bastaram a polícia, um
promotor e o juiz que lhe deu 25
anos de cadeia, mandando-o
para a penitenciária de Avaré.
Se empresários, parlamentares,
governantes e candidatos começarem a temer a Pousada Avaré, o caixa dois acaba.
Caixas pretas e mensalões são
a raiz do contubérnio dos governantes com a plutocracia. Há
ministros que negam a empresários o cumprimento das leis e
empresários que redigem pacotes de projetos pecaminosos para burocratas deslumbrados.
Quando a Telemar torna-se sócia do filho do presidente da República, um biólogo reciclado
em micreiro, vê-se o grau de naturalidade com que se misturam concessionários de favores
públicos e concessões de serviços
privados.
Chega a ser risível que, a pretexto de uma reforma política,
se queira empurrar o voto de lista em cima da patuléia. Trata-se de um sistema no qual deputados ganham suas cadeiras seguindo uma ordem de precedência organizada pelos partidos políticos. Isso significa que a
lista do PT seria organizada por
Lula e seus mosqueteiros: José
Dirceu, Delúbio Soares e José
Genoino. No PTB, a tarefa seria
de Roberto Jefferson. No PL, decidiria Valdemar Costa Neto.
Faz tempo que o Brasil carece
de um presidente que chegue ao
Planalto às oito da manhã e fique lá até as seis, cuidando do
cotidiano nacional. Não será fácil, mas Lula pode tentar.
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