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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/HORA DAS PROVAS
Tesoureiro informal do PTB diz que acompanhou o publicitário a Lisboa; a viagem, declara, teria sido acertada por José Dirceu
Valério afirmou ser do PT, diz Palmieri
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O tesoureiro informal do PTB,
Emerson Palmieri, afirmou ontem em depoimento à CPI do
Mensalão ter acompanhado o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza em viagem a Lisboa
cujo objetivo seria tentar obter
cerca de R$ 24 milhões da Portugal Telecom. Palmieri disse que
Valério se apresentou como sendo "do PT do Brasil".
Ao relatar a viagem, ocorrida
em janeiro deste ano, Palmieri
disse que teve um rápido encontro com o presidente da empresa
portuguesa, Miguel Horta e Costa, informação negada tanto pelo
publicitário quanto pela Portugal
Telecom.
O tesoureiro do PTB detalhou
ainda como os recursos entrariam nos caixas do PTB e do PT.
"O dinheiro entraria por meio de
uma tele no Brasil e não de lá
[Portugal] para cá", disse. Em seguida, tentou retificar sua declaração, mas foi impedido pelo presidente da comissão, senador
Amir Lando (PMDB-RO). "Está
nos autos, o que vale é o que está
gravado", disse Lando.
Entre outros investimentos no
Brasil, a Portugal Telecom é sócia
da Telefônica na empresa de telefonia celular Vivo. Miguel Horta e
Costa nega ter se reunido com Valério nas datas citadas e diz não
conhecer Palmieri. Também rechaça ter sido procurado para tratar de financiamentos a partidos.
Na sua fala à CPI, Palmieri reproduziu a versão do deputado
Roberto Jefferson (PTB-RJ), segundo quem o objetivo da viagem
era obter recursos para o caixa do
PTB e do PT. O acerto para o suposto repasse de recursos teria sido feito entre a empresa portuguesa e o ex-ministro José Dirceu
(Casa Civil), que também nega a
história. Segundo Palmieri, foi
Dirceu quem marcou o encontro
em Lisboa.
"Chegando à Portugal Telecom,
o sr. Marcos Valério se identificou
como "Valério, do PT do Brasil", e
já subimos para o último andar.
Chegando ao último andar, nos
atendeu uma secretária, e o sr.
Marcos Valério me pediu que eu e
o doutor Rogério [Tolentino, advogado de Valério] aguardássemos em uma sala ao lado", afirmou Palmieri. "E ele foi falar com
o sr. Miguel Horta. Ficou lá durante 30, 40 minutos. Quando ele
saiu, eu perguntei: "E agora, vamos fazer a reunião?", ele falou:
"Não, já está tudo conversado"."
Ex-diretor da Embratur até o
início da crise política, Palmieri
disse ainda que Valério afirmou,
após o suposto encontro, que "o
problema do PT e do PTB seria
solucionado em 20 dias, aqui no
Brasil". Questionado por integrantes da CPI sobre qual problema, respondeu: "Problemas de
recursos para o PTB e o PT. (...)
Seria algo em torno de R$ 20 milhões a R$ 24 milhões", afirmou.
Valério afirma que procurou
Horta porque detém as contas de
publicidade da Telemig e teria
medo de perdê-las caso a empresa
fosse vendida para os portugueses. Ele diz, porém, que não conseguiu se reunir com Horta na
viagem de janeiro.
"Só cumprimentei [Horta e
Costa] na saída. "Até logo, até logo", mais nada", disse Palmieri,
que detalhou: "[Valério disse] Esse é o Palmieri, esse é o meu advogado", só isso". De volta ao Brasil,
o tesoureiro informal do PTB teria relatado a viagem a Jefferson.
"Mais uma vez fomos enganados", teria reagido o deputado.
"Fui como testemunha para saber
se realmente ocorreria essa reunião, já que o Jefferson não mais
acreditava nas promessas do PT."
O tesoureiro afirmou ainda não
ter conhecimento de contrapartidas que a Portugal Telecom receberia do governo, como a citada
transferência de recursos do IRB
(Institutos de Resseguros do Brasil) para o banco português Espírito Santo, principal acionista da
Portugal Telecom.
Dirceu
O depoimento de Palmieri, que
compareceu à comissão acompanhado do advogado do PTB Itapuã Messias, o mesmo que defende Jefferson, corroborou as palavras do presidente licenciado do
PTB. Em vários trechos, o tesoureiro afirma que Dirceu era quem
dava a última palavra sobre os
acordos eleitorais que PTB e PT
teriam fechado para as eleições
municipais de 2004.
Jefferson sempre disse que era
Dirceu quem mandava no PT,
não José Genoino, o ex-presidente da legenda. "A gente sempre
via, depois das reuniões, o Genoino ou o Delúbio [Soares, ex-tesoureiro do PT] dizerem que precisavam ligar para o Dirceu. Depois voltavam e diziam, "está tudo
ok'", afirmou Palmieri ontem.
Em depoimento sigiloso à Corregedoria da Câmara -a cuja
transcrição a Folha teve acesso-
Palmieri negara saber que Dirceu
seria o avalista dos acordos.
A única divergência de Palmieri
em relação à Jefferson foi sobre o
paradeiro dos R$ 4 milhões que o
deputado diz ter recebido do PT
como parte de uma acordo de R$
20 milhões firmado com o PT em
2004. Membros da CPI pediram
uma acareação entre os dois.
Segundo o deputado, o dinheiro
teria sido integralmente repassado aos candidatos do PTB nas
eleições municipais, embora ele
se recuse a informar os nomes de
quem recebeu. Ontem, entretanto, Palmieri disse acreditar que o
dinheiro não foi distribuído.
A exemplo de Jefferson, Palmieri disse que os R$ 4 milhões chegaram à sede do PTB em duas remessas em dinheiro vivo, colocados em um cofre. As chaves ficaram em posse de Jefferson. Ele
afirmou que "dois ou três dias depois", ao questionar Jefferson sobre a "segurança" de manter a
quantia no local, ouviu que os valores "já não estavam mais lá".
Integrantes da CPI disseram
considerar de pouca valia o depoimento. "As pessoas só contam
com a faca no pescoço. As que
vêm aqui, só falam o que já se sabia. Temos que avançar nos papéis, porque dos depoimentos
não vamos conseguir nada", disse
o deputado Fernando Coruja
(PPS-SC).
Palmieri rechaçou ainda as afirmações de Valério segundo as
quais ele teria "pavor" de Jefferson e teria viajado a Portugal porque se sentia "pressionado".
"Nunca tive pavor, convivo com o
Roberto Jefferson há muito tempo. Temos gostos parecidos, ele
gosta de jipe, e eu, de moto. Fui no
casamento da filha dele, freqüento a casa, não existe isso não."
Palmieri também rechaçou a
lista apresentada por Valério na
qual seu nome consta entre os sacadores das agências de publicidade, outro ponto coincidente
com as declarações de Jefferson.
Segundo Valério, Palmieri recebeu cerca de R$ 2,4 milhões destinados ao PTB.
O petebista afirmou que nunca
sacou recursos nas contas de Valério e que os saques, que totalizam R$ 200 mil, ocorreram por
meio do então motorista da campanha de Ciro Gomes à Presidência, em 2002, Alexandre Chaves,
que também trabalhava numa
produtora de TV.
SILVIO NAVARRO, RANIER BRAGON E HUDSON CORRÊA
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