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CAMPO MINADO
Pastoral diz que "é óbvio" que mortes no Pará estão relacionadas à questão agrária; ouvidoria diz que não
MST pede intervenção federal em conflitos
LILIAN CHRISTOFOLETTI
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) pediu
ontem a intervenção do governo
federal nas disputas agrárias e exigiu medidas concretas para extinguir ações de milícias armadas em
todo o país. Pelas contas do movimento, 53 pessoas foram assassinadas no campo desde o início do
ano, contra 43 mortas em 2002.
Os Estados citados pelo MST ao
ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, como os que mais
violam os direitos humanos no
campo são: Pará, São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul. Oficialmente, o Incra reconhece 20 mortes relacionadas a conflitos por
terra de janeiro a agosto.
"Temos evidências concretas da
ação de milícias privadas nesses
Estados", afirmou Valdir Misnerovicz, um dos dirigentes nacionais do MST.
No encontro, o MST pediu ainda intervenção federal nos Estados para conter ações de despejo
violentas de sem-terra. Segundo o
movimento, neste ano ocorreram
32 despejos. Outros 60 estariam
programados até dezembro.
Uma ação do governo federal
nesse sentido seria limitada, justificou o ministro, pois os Estados
têm autonomia para gerir a questão agrária em seus territórios.
Sobre as milícias, Bastos disse
que está em curso na Polícia Federal um trabalho de monitoramento dos conflitos no campo. Um
dos objetivos, segundo ele, é desarmar e punir fazendeiros acusados de financiar grupos armados.
Ontem, o ministro conversou
com o vereador de Belém (PA)
Paulo Fontelles (PC do B), que pediu proteção da PF porque estaria
sendo ameaçado por fazendeiros
da região. Seu pai, que era advogado de trabalhadores rurais do
sul do Pará, foi morto em 1987.
Mortes
O presidente nacional da CPT
(Comissão Pastoral da Terra), D.
Tomás Balduíno, disse ontem que
é "óbvio" que o assassinato de sete trabalhadores rurais e um fazendeiro na semana passada em
São Félix do Xingu (PA) é resultado de conflito agrário, e defendeu
a inclusão das mortes no balanço
da Ouvidoria Agrária sobre conflitos no campo.
A ouvidora agrária nacional
substituta, Maria de Oliveira, afirmou anteontem que esses homicídios no sul do Pará não têm ligação com a reforma agrária e não
seriam incluídos no balanço.
D. Tomás Balduíno comparou a
declaração da ouvidora à atuação
do governo Fernando Henrique
Cardoso que, segundo ele, usava
critérios diferentes da CPT na
contagem das mortes para reduzir o número de conflitos.
"Espero que isso não seja generalizado. Não acredito que seja essa a postura do nosso governo",
disse ele. "Isso é tipicamente conflito agrário, em que a vítima é
tanto o peão quanto o fazendeiro.
É a guerra de grilagem. Para nós
essa é uma questão óbvia."
Para um dos coordenadores nacionais do MST, João Paulo Rodrigues, as mortes são um "crime
do latifúndio".
Os assassinatos ocorreram na
última sexta em uma emboscada,
a 180 km de São Félix do Xingu
(PA). Um dos mortos é Antonio
Vieira da Silva, que havia comprado a área de 1.632 hectares, supostamente grilada, há cerca de dois
meses. Parte do terreno ficaria
dentro da Fazenda Primavera.
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