São Paulo, domingo, 17 de setembro de 2006

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Ex-presidente promete dar "nomes aos bois"

DO ENVIADO ESPECIAL A MAJOR IZIDORO (AL)

No coreto da praça, Fernando Collor de Mello pediu o voto dos eleitores para contar no Senado a "verdade" sobre o impeachment. Prometeu "desmascarar" algumas "vestais" que sentam seus "gordos glúteos" nas poltronas da casa. Falou mal da corrupção.
O repórter da Folha abordou-o e pediu uma entrevista para os dias seguintes. "Sem chance", respondeu.
Três das perguntas que não puderam ser feitas: que pendência com a Receita Federal o impede de receber uma certidão pela internet?; a receptividade nos grotões é resquício do prestígio passado ou sinaliza a reconquista de espaço político?; por que não aproveita e conta logo os supostos segredos dos donos dos "gordos glúteos", como volta e meia ameaça?
Com o microfone na mão, Collor falou ao público que o ouviu sob um sol do qual algumas senhoras se esconderam sob sombrinhas. Alguns trechos do discurso:

Tempo e razão
"Sinto que o povo alagoano deseja dar uma resposta às injustiças que foram cometidas contra mim. Eu dizia que o tempo é o senhor da razão. Nada como um dia depois do outro para que cada um de nós possa fazer o juízo dos fatos que aconteceram. Aqui está o homem que de tudo foi acusado e de tudo foi absolvido pela mais alta corte."

Assaltantes
"Aqui está o homem que aprendeu com os erros cometidos. Não digo que não cometi erros. Cometi. Mas nenhum dos erros que me acusaram meus inquisidores. Aqueles que, tempos depois, foram alcançados pelo braço longo da lei, trancafiados e expulsos porque estavam assaltando os cofres."

Mentiras
"Peço a oportunidade de entrar naquele plenário azul [do Senado]. Me dêem a oportunidade de subir naquela tribuna, de falar à nação brasileira e à nação alagoana. Desejo contar a versão dos fatos que culminaram com o meu afastamento da Presidência. Muitos já deram as suas versões, muito já foi fantasiado.
As versões mais estapafúrdias foram levadas ao conhecimento do público. Mas, do mesmo jeito que não tive direito de defesa no processo do meu afastamento, não me deram também o direito de apresentar a minha versão."

Imprensa
"A imprensa nacional, de um modo geral, se tomou de antipatia pela minha pessoa. A presença da imprensa no Estado democrático de direito é a garantia do funcionamento das nossas instituições, e por isso é imprescindível ao aperfeiçoamento do processo democrático. Não vou discutir por que [da suposta antipatia], porque isso não nos interessa. Nunca tive um canal que pudesse ser utilizado para dar a minha versão."

Gordos glúteos
"Por isso peço a vocês essa oportunidade de assomar à tribuna do Senado e falar a todos contando tintim por tintim a verdade dos fatos. Falando e dando nome aos bois. Dizendo quem foi quem naquela oportunidade [do impeachment]. Desmascarando algumas vestais que ainda hoje continuam sentando os seus gordos glúteos nas cadeiras do Senado."

Olhos nos olhos
"Quero falar olhando nos olhos deles. E me permitindo dizer: "Senador Fulano de Tal, o senhor se lembra disso? O senhor se lembra de que esteve no meu gabinete de presidente da República no Planalto e o senhor me pediu isso, isso e isso para que votasse contra o processo de impeachment? E o senhor outro lá, senador? O senhor se lembra de que me pediu isso para fazer um relatório favorável a mim, não permitindo o meu afastamento?"."

Família
"Hoje sou um homem realizado. Deus já me deu muito mais do que eu merecia. Me deu uma fabulosa mulher e essas duas filhas, que hoje são a minha vida e a minha existência."

Vida longa
"No meu coração não corre qualquer tipo de mágoa ou ressentimento. Menos em homenagem aos meus adversários, aos meus inquisidores e acusadores, e mais preocupado e em respeito à minha saúde. Aquele que guarda mágoa se torna uma pessoa amarga e infeliz e encurta sua vida. Quero ter uma vida longa. Quero criar as minhas duas filhas gêmeas, presente de Deus (...), que foi trazido por Caroline, minha mulher."


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