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SINAL FECHADO
Petista recusa convites e aceita participar apenas de debate na Globo
Lula evita entrevistas e limita debate com Serra no 2º turno
LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A decisão do candidato do PT à
Presidência, Luiz Inácio Lula da
Silva, de participar de apenas um
debate com o presidenciável tucano, José Serra, frustrou iniciativas
de pelo menos quatro veículos de
comunicação, entre eles a Folha.
Também as redes de televisão
Record e Bandeirantes pretendiam promover encontros em
que os candidatos do segundo
turno debateriam suas propostas.
E a TV Cultura convidou Lula para ser entrevistado por jornalistas
no programa "Roda Viva", do
qual Serra participou na última
segunda-feira. Além de evitar
comparecer a debates, Lula tem
adotado uma atitude bastante restritiva em relação a entrevistas.
Ele não respondeu, por exemplo, a um convite do apresentador
Jô Soares para ir ao seu programa
da TV Globo. Serra aceitou a proposta de Jô Soares, que, diante da
ausência de resposta de Lula, decidiu suspender o convite ao tucano. "Eu não poderia entrevistar
apenas um dos dois candidatos",
disse o apresentador.
Até ontem, só a Bandeirantes
ainda aguardava uma definição
do petista sobre o debate.
Lula e Serra deverão se encontrar frente a frente somente na Rede Globo, no próximo dia 25.
Segundo dados da pesquisa do
Datafolha publicada no último
domingo, 74% dos eleitores consideram muito importante a realização de debate entre os candidatos no segundo turno.
De acordo com o porta-voz de
Lula, André Singer, o candidato
petista "quer debates, mas o segundo turno disponibiliza poucos
dias, e a agenda do Lula é muito
cheia. Ele pretende ir a oito Estados onde o PT passou para o segundo turno e também a outros,
onde há aliados importantes."
"Além disso", diz Singer, "existem as gravações para o horário
eleitoral; são 20 minutos diários
até o dia 25. Por isso restou a possibilidade de um debate, e foi decidido que ele iria à Globo. A campanha sugeriu que as demais
emissoras montassem um "pool"
para a transmissão conjunta, mas
não cabe a ela decidir se isso vai
acontecer."
Singer afirmou ainda que o debate na Globo foi escolhido por
dois motivos: "Havia um compromisso por escrito desde maio e
o formato adotado pelo programa
será democrático, porque vai permitir participação do eleitor."
De sua parte, o coordenador de
imprensa da campanha de José
Serra, Alon Feuerwerker, afirma
que o candidato tucano defende a
realização de um ciclo de debates
e entrevistas, da mesma forma
que ocorreu no primeiro turno.
"Ao optar pela realização do segundo turno, o eleitor decidiu
adiar sua decisão e que precisaria
de mais tempo para conhecer melhor os candidatos e suas propostas sobre o Brasil. Nesse sentido, a
realização de debates é extremamente importante para o eleitor,
porque o candidato pode ser testado em situações de improviso e
sobre temas que eventualmente
não lhe agradem."
Para Feuerwerker, "por causa
do sistema de governo, o presidente da República tem muito poder no Brasil, então é razoável que
se queira saber o que de fato o
candidato pensa e quer fazer, por
intermédio de debates e encontros com a imprensa."
Convite antigo
Cada um dos quatro principais
candidatos à Presidência foi convidado, ainda antes do primeiro
turno das eleições, a participar,
caso fosse para o segundo turno,
de debate organizado pela Folha.
Aceitaram de pronto os candidatos Anthony Garotinho (PSB) e
Ciro Gomes (PPS). As assessorias
de Serra e Lula afirmaram que
não marcariam nenhum compromisso para o segundo turno antes
de 6 de outubro.
Uma vez confirmado que haveria segundo turno, a Folha voltou
a convidar José Serra e Lula a se
encontrarem no jornal. José Serra
respondeu primeiro ao convite,
afirmando, por meio de sua assessoria, que participaria de debate
se ele fosse realizado no dia 17 de
outubro.
A Folha comunicou à assessoria
de Lula que o candidato do PSDB
havia aceitado participar de encontro no dia 17 e pediu uma resposta sobre a concordância de Lula até o dia 10 de outubro, a fim de
organizar o evento.
Como não houve resposta até o
dia 14, apesar da insistência do
jornal, o debate foi cancelado.
Procurada mais uma vez pela
Folha, a assessoria de Lula afirmou na terça-feira que o candidato já tinha um compromisso
agendado para o dia 17.
O âncora e editor-chefe do "Jornal da Record", Boris Casoy, disse
que a emissora não recebeu resposta ao convite feito a Lula para
que ele participasse de um debate
na emissora, a exemplo do que fizera no primeiro turno. "Não recebemos nenhuma resposta, e eu
cobrei isso no ar", afirmou Casoy.
"Eu reconheço que, no primeiro
turno, Lula esteve fora dos padrões que têm norteado o comportamento dos candidatos. Mesmo com grande vantagem nas
pesquisas, agiu correta e democraticamente comparecendo a todos os debates. O que geralmente
acontece é que, quando está na
frente, o candidato não comparece, acredita que pouco tem a ganhar e pode perder muito. Foi assim com Fernando Henrique nas
duas eleições, foi assim com Paulo
Maluf no primeiro turno para governador", disse Casoy.
Em relação ao segundo turno,
afirma Casoy, "Lula tem a virtude
de pelo menos ter aceito um debate. Mas o faz às vésperas da eleição, tarde da noite, com o mínimo
de possibilidade de influenciar o
resultado eleitoral. Ou seja, ele segue o padrão. E não sei por que
essa preferência pela Rede Globo.
Ele deve ter suas razões. De minha
parte, gostaria muito de vê-lo debatendo mais vezes dentro de sua
pregação por mudanças. O respeito ao debate poderia ser uma
dessas mudanças."
Tentativa
O diretor de jornalismo da Rede
Bandeirantes, Fernando Mitre,
disse ontem ainda ter esperança
de que possa realizar um encontro entre Lula e Serra em sua
emissora. "Ainda não desisti. Estou em contato com os coordenadores do PT. Acho muito difícil
um debate, mas estou tentando
fazer um programa em que haja a
exposição dos candidatos."
Segundo Mitre, a fórmula que
deverá ser adotada pelo programa
da Rede Globo -os candidatos
responderão a perguntas do público- vai "prejudicar o confronto de idéias". "O que soube a respeito do programa da Globo
permite concluir que chegaremos
ao final do segundo turno sem um
confronto entre os dois."
O diretor de jornalismo da TV
Cultura, Marco Antônio Coelho,
disse lamentar muito que o candidato do PT não tenha aceitado
participar do "Roda Viva". "É
uma pena, porque seria uma
prestação de serviço da TV pública ao eleitor, no programa televisivo que proporciona o maior
tempo para a reflexão."
Coelho acredita que a candidatura de Lula esteja "sofrendo uma
inflexão eleitoral. Ele não quer se
expor porque está na frente. Ou
seja, o marketing está acima da
necessidade de conhecimento do
eleitor e por causa dele não se pode avaliar melhor as propostas
para governar o país". No segundo
turno os candidatos deveriam ir a
debates. Não é andando nas ruas
que eles vão tornar suas idéias
mais conhecidas".
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