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FOLCLORE POLÍTICO
Pitas e pitos
RONALDO COSTA COUTO
Apesar de médico de formação refinada, com quatro
anos de pós-graduação na Universidade Popular de Berlim, Alemanha, o gentil governador paulista
Adhemar de Barros estava sempre
na mira dos adversários por distrações com a língua pátria. Coisas
e maldades da política.
Até hoje falam em Minas do
inesquecível discurso de campanha que ele teria feito num município conhecido pela fartura de piteiras ou pitas, árvores lindas, verdíssimas, muito decorativas.
Praça cheia, palanque superlotado, microfone testado. O locutor
despeja elogios no presidenciável e
passa-lhe a palavra.
Mar de aplausos, gritos fortes de
viva e já ganhou.
Adhemar, empolgado: "Nesta região, onde abunda a pita...". Percebe a calamidade fonética e recomeça: "Nesta região, onde a pita
abunda...".
Por cima
A eleição presidencial de 1955 pega fogo em Limoeiro, Pernambuco.
Quase sai guerra entre as forças
dos candidatos Juarez Távora,
Adhemar de Barros, Plínio Salgado e Juscelino Kubitschek.
O legendário coronel Chico Heráclito fecha com JK. Entra pesado
na briga, radicaliza, passa pitos,
ganha, esfrega a vitória na cara
dos adversários.
Já eleito, Juscelino se encontra
com ele no aeroporto de Recife. O
escritor Marcos Vilaça, da Academia Brasileira de Letras, então
adolescente, estava lá todo enfatiotado, de paletó novo e camisa de linho branca.
Ele não se esquece da alegria e
das palavras dos dois ao se abraçar. JK: "Coronel, agora que eu sou
presidente, o que o senhor quer de
mim?". "Nada, doutor Juscelino.
Eu só quero ver o senhor cuspindo
de cima."
Visão brasileira
João Guimarães Rosa (1908-67),
em Tutaméia: "Comprei uns óculos novos, / óculos dos mais excelentes: / não têm aros, não têm
asas, / não têm grau e não têm lentes".
Momento nacional
Conde Francesco Matarazzo
(1854-1937), imigrante italiano,
símbolo de sucesso e riqueza, que
começou no comércio de Sorocaba
em 1882, aos 27 anos, e construiu o
maior, mais complexo e rico império empresarial da história republicana: "Não se pode brigar com
os banqueiros, mas não se deve
abusar do crédito".
RONALDO COSTA COUTO, 59, escritor,
doutor em história pela Sorbonne, escreve às quintas-feiras nesta coluna
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