São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 2002

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SEGUNDO TURNO

Petista diz que não pretende conversar com representante do comércio exterior dos EUA, a quem chamou de "sub do sub"

Lula quer debater Alca com 'companheiro Bush'

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, disse que, se eleito, vai discutir a Alca "diretamente com o companheiro Bush" porque não é "papel" dele falar da Área de Livre Comércio das Américas com Robert Zoellick, representante do comércio exterior dos EUA, cujo cargo é equivalente ao de ministro.
Lula afirmou que conversaria sobre Alca com o presidente dos EUA, George W. Bush, a quem chamou de "companheiro" em tom de brincadeira, ao responder a uma pergunta da Folha se não seria importante um candidato a presidente saber quem é Zoellick.
Na edição de domingo do jornal norte-americano "The Miami Herald", o auxiliar de Bush disse que ou o Brasil aceita a Alca ou terá de fazer comércio com a "Antártida". Zoellick afirmou que, em caso de recusa brasileira, os EUA priorizariam outros países.
Anteontem, ao ser indagado sobre o recado duro de Zoellick ao Brasil, Lula disse que não responderia "ao sub do sub do sub do secretário americano". "Quem vai discutir com ele será o meu ministro ou o meu negociador."
Ontem, o petista disse que, se vencer a eleição no dia 27, visitará Bush ou convidará o presidente dos EUA a vir ao Brasil para fazer "uma discussão de alto nível e de forma soberana, porque interessa ao Brasil integração e não anexação quando o assunto é a Alca".
A Alca é uma zona de livre comércio que pretende, a partir de 2005, envolver os 34 países americanos, com exceção de Cuba. O presidenciável petista declarou que, numa eventual conversa com o presidente americano, buscará "um ponto de equilíbrio".
Sobre a declaração de anteontem de que não interpretaria as declarações de uma pessoa que não conhecia, Lula disse: "Não creio que o presidente Bush tenha a obrigação de saber o nome dos membros do primeiro e do segundo escalão do presidente Fernando Henrique Cardoso. Um presidente tem de fixar diretrizes e tomar decisões para defender o seu povo. Isso é o que o Bush faz e é o que pretendo fazer".
Lula disse que discutirá a Alca com os EUA "exatamente como os EUA discutirão com o Brasil". Ele afirmou que a forma contundente como os EUA defendem seus interesses devem servir de "modelo" para o Brasil. Afirmou ainda que, assim como os EUA, também há outros países interessados em aumentar o comércio bilateral com o Brasil, além daqueles que vão compor a Alca.
No Rio, o presidente do PT, José Dirceu, afirmou que foram "infelizes" as declarações de Zoellick.
"O próprio presidente Fernando Henrique já disse que a Alca não é destino, a Alca é opção. A Alca tem de atender os interesses de todos os países das Américas, não só dos EUA. Nosso destino é o Mercosul", afirmou Dirceu, ressaltando que o protecionismo americano é que impede o aumento das relações Brasil-EUA.
O presidente do PT disse que o governo Lula não terá nenhuma política de confronto ideológico com os EUA.


Colaborou a Sucursal do Rio



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