São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 2002

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PIAUÍ

Futuro senador, que fora cassado, afirma que FHC devia dizer a Serra que "se mancasse"

Para Mão Santa, eleito, foi feita 'justiça'

ALESSANDRA KORMANN
DA AGÊNCIA FOLHA

Único governador cassado na história do Brasil, Francisco de Assis de Moraes Souza, o Mão Santa (PMDB), diz que foi feita a "justiça de Deus e do povo", depois de conquistar a segunda vaga ao Senado pelo Piauí com 664.600 votos -26,8% dos votos válidos.
Mão Santa teve mais votos do que o governador Hugo Napoleão (PFL), que perdeu a disputa estadual Wellington Dias (PT).
Napoleão assumiu em novembro do ano passado, depois de vencer no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) um processo em que acusava o então governador Mão Santa de abuso de poder econômico nas eleições de 1998.
Mão Santa falou à Agência Folha no sábado, na véspera de completar 60 anos, antes de assistir a uma missa em comemoração ao seu aniversário e à sua vitória.
 

Agência Folha - Como é vencer uma eleição após ter sido cassado?
Mão Santa -
A justiça de Deus e do povo reparou a maior indignidade feita na história política do país. O povo não queria o interventor, o americano [Hugo Napoleão, que nasceu nos EUA". Não quis em 98 e não quis agora.

Agência Folha - O sr. se sente vingado com a derrota de Napoleão?
Mão Santa -
Não, não sou de vingança. Eu sou Francisco, é paz e benção, eu sou é de amor.

Agência Folha - O sr. se sente responsável pela vitória de Dias?
Mão Santa -
Houve várias revoltas do povo. Primeiro, a revolta contra a indignidade do processo jurídico mais imoral da história do mundo. Segunda revolta: pelo mau trato que deram ao homem do campo. Terceira revolta: porque o Piauí está um caos. Foi um reparo, o tribunal de justiça popular reparou a maior indignidade que a Justiça comum fez.

Agência Folha - O sr. está fazendo campanha para Lula?
Mão Santa -
Eu votei no Lula. Nós todos votamos no Lula. O candidato do governo federal [José Serra" fez a opção dele, ele veio aqui, fez o primeiro comício dele aqui. Foi ele que coordenou a campanha aqui do interventor. Aliás, participou de todos os episódios do nosso afastamento.

Agência Folha - O sr. acha que Serra teve alguma participação na sua cassação?
Mão Santa -
Eu acho que ele não devia nem ser candidato. O Fernando Henrique não diz que é muito culto, preparado? Então não estudou a política dos EUA? Se aqui tivesse colégio eleitoral, como lá, o Lula teria 25 colégios e ele não teria dois [na verdade, Lula venceu em 23 Estados e no DF, e Serra em AL" . Nos EUA ele já tinha perdido. Lá não é um modelo de democracia? Esse presidente que diz que é sabido, entendido, devia chamar o pupilo dele e dizer: "Rapaz, te manca, tu já perdeu" [sic". Num mundo democrático, ele já estaria despachado.

Agência Folha - Qual vai ser sua atuação no Senado em um eventual governo Serra?
Mão Santa -
Não existe essa hipótese. É mais fácil ter um dilúvio.

Agência Folha - Nesta eleição, vários caciques não conseguiram se eleger, como Maluf, Quércia, Brizola e Collor. Como o sr. vê isso?
Mão Santa -
Eu me inspiro muito naquele que eu acho o maior símbolo de liderança, Winston Churchill [primeiro-ministro britânico entre 40 e 45 e 51 e 55". E ele disse o seguinte: "Política é como a guerra, com a diferença de que na guerra a gente só morre uma vez e, na política, várias vezes".


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