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Bispo é "intransigente", diz Patrus
Ministro, que teve carreira política construída a partir de pastorais da igreja, critica greve de fome
Em sua opinião, atitude de dom Luiz "não é um pressuposto razoável para uma relação de diálogo" e governo não deve ceder
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Católico praticante, com sua
carreira política construída a
partir da igreja e de suas pastorais, o ministro Patrus Ananias
(Desenvolvimento Social) afirma que dom Luiz Cappio tem
sido "intransigente" e que a linha de sua greve de fome é um
extremo "inaceitável".
"É inaceitável ir ao extremo",
disse o ministro. Patrus falou à
Folha na quinta-feira, em seu
gabinete. Antes, havia participado de uma missa ao lado de
amigos da CNBB (Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil).
FOLHA - Como o sr. está acompanhando a greve de fome de dom
Luiz Cappio?
PATRUS ANANIAS - Com orações.
Tenho muito respeito pela posição de dom Luiz. Agora, discordo dele. Acho uma posição
muito difícil, muito delicada. É
quase que um inverso, é claro
que pelo outro extremo: "Se você não fizer o que quero, te mato". É inaceitável ir ao extremo.
Mas agora ele está colocando
num outro extremo, o do automartírio. "Se não for feito o que
eu quero, eu me mato". Com esse tipo de argumento, fica muito difícil conversar.
E ele fechou questão: tem
que interromper a obra. Como
cristão, católico, numa linha
ecumênica, estou em estado
permanente de oração e de vigília para que tudo se resolva da
melhor maneira possível.
FOLHA - Dom Luiz tem sido intransigente?
PATRUS - Intransigente, nesse
sentido, sim. "Faça o que quero,
senão vou me matar" não é um
pressuposto razoável para uma
relação de diálogo, de entendimento. Ele nem sequer se dispõe a dialogar, ou seja, tem que
haver a interrupção imediata
das obras de transposição do
rio. E acho que ele está equivocado neste aspecto.
FOLHA - O sr. é a favor da transposição?
PATRUS - Sou. É claro que uma
transposição vinculada à revitalização.
FOLHA - Então, na opinião do senhor, o presidente não deve ceder à
pressão da greve de fome?
PATRUS - De jeito nenhum.
Agora, sem entrar no mérito,
não quero julgar a intenção dele. Aí é ele e Deus. É ele e a consciência dele. Agora dificulta a
conversa, quando você põe assim: "Se não fizer o que eu quero, não vou interromper o meu
jejum".
O presidente tem uma autoridade legítima e democrática
que o povo deu a ele nas eleições de 2006. E ele está agindo
rigorosamente dentro dos parâmetros legais e constitucionais. Os processos contra a
transposição foram discutidos,
batalhas judiciais foram vencidas.
FOLHA - E o que significa pra Igreja
Católica uma situação como essa?
PATRUS - Pelo que sei, pela minha formação cristã, católica, a
igreja é muito rigorosa com essas questões, inclusive com a
eutanásia. A igreja não permite
o auto-extermínio. A igreja não
permite uma opção que, no limite, leve à morte, a não ser em
situações muitíssimo especiais.
Em condições normais, não só
a Igreja Católica, mas a tradição
cristã sempre se colocou rigorosamente a favor da vida.
FOLHA - O sr. compara ao suicídio?
PATRUS - Aí é da consciência de
cada um. Certamente não quero entrar nos méritos de dom
Luiz.
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