São Paulo, quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

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JANIO DE FREITAS

Lula de verdade


Seja qual for o discurso de Lula em Copenhague, a verdade da sua visão e do seu governo ficou às claras aqui mesmo


MESMO que o discurso e as conversas de Lula previstos para hoje, em Copenhague, façam um malabarismo que ressalve a posição brasileira, nada apagará o fracasso vexaminoso da delegação do governo. Em parte, com o mau desempenho de Dilma Rousseff improvisada como voz e chefe dos delegados do Brasil. E, não menos, pela evidência de que o governo não compreendeu onde está metido, e persevera na sua atitude conservadora e politicamente interesseira em relação ao clima e ao meio ambiente.
Pode-se dizer que a Conferência do Clima era uma oportunidade vital para o Brasil, por ser um dos pontos centrais na visão ocidental dos problemas climáticos. Ao Brasil interessava assumir posições avançadas desde o primeiro momento, para comprometer-se como exemplo e comprometer os Estados Unidos e a Europa, que pretendem ver sua produtiva emissão de gases compensada pelos países pobres ou em desenvolvimento.
Deu-se o contrário na posição exibida pelo Brasil: Dilma Rousseff defendendo com timidez pessoal a timidez das posições lá expostas pelo Brasil; contestando e desautorizando o próprio ministro do Meio Ambiente, que aceitou a injustificável submissão à ministra de repente maquiada de verde; e oscilando aturdida, ora pelo Brasil potência, ora pelo Brasil coitadinho, contrário a contribuir para um fundo de ajuda à redução, nos países pobres, dos gases de efeito estufa.
Seja o que forem o discurso e, se houver, o compromisso de Lula em Copenhague, a verdade da sua visão e do seu governo ficou às claras aqui mesmo, no decreto emitido enquanto o contingente de brasileiros já chegava à conferência. A segunda prorrogação, de mais dois anos, dada aos produtores rurais que se comprometeram e não cumpriram com a recuperação de áreas desmatadas ilegalmente é, além de brutalidade ambiental, a suspensão de multas que somam bilhões (dez, em cálculo mencionado pelo Greenpeace).
De quebra, a prorrogação comete uma justiça implacável com os que investiram para cumprir o compromisso de restauração das matas e com todos -em muitos casos, presentes entre os anteriores- que pagaram suas multas.
O decreto de Lula é nocivo ao país, é injusto e é discricionário ao favorecer parte de um segmento de equivalentes. Mas, seja o que diga ou faça na Conferência do Clima, é a sua verdade pessoal e do seu governo.

Reflexo
A bancada do PSDB na Câmara agendou para hoje a eleição do seu novo líder. O fato não tem maior importância na Câmara, ou seja, tem a importância proporcional ao PSDB por lá. Sua expressão é voltada para fora. Na eleição anterior, a corrente sob comando de José Serra foi derrotada, com seu candidato Arnaldo Madeira, por José Aníbal. O grupo de Serra volta com o baiano José Almeida, que teve certo destaque na bancada durante o governo Fernando Henrique. O candidato da atual liderança é o paulista Duarte Nogueira.
Em qualquer caso, a bancada peessedebista tende a ser duas, ainda. Mas dará alguma indicação sobre disposições no partido quanto à sucessão presidencial.


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