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STF limita poder de Lula sobre Battisti
Após explicação de Eros Grau, tribunal diz que presidente terá de respeitar Tratado de Extradição Brasil-Itália
Se tratado for descumprido, Lula poderá responder por crime de responsabilidade; Marco Aurélio afirma que mudança é "virada de mesa"
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Supremo Tribunal Federal
modificou ontem a forma como
o resultado do caso Cesare Battisti foi proclamado, o que na
prática limita o campo legal do
presidente Lula para analisar a
extradição do terrorista.
A modificação, provocada
pelo governo italiano e que foi
chamada de "virada de mesa"
pelo ministro Marco Aurélio
Mello, deixa implícito que o
presidente deve respeitar o
Tratado de Extradição entre
Brasil e Itália. Se esse tratado
for descumprido, Lula poderá
responder por crime de responsabilidade e até ficar sujeito
a contestação no próprio STF.
Ao anunciar o resultado, em
novembro, o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, proclamou que, por maioria de 5 votos a 4, a corte havia decidido
que o ato do presidente Lula de
extraditar ou não Battisti era
"discricionário", ou seja, Lula
teria a liberdade para fazer o
que bem entender, independentemente desse tratado.
A maioria era formada por
Cármen Lúcia, Joaquim Barbosa, Eros Grau, Carlos Ayres
Britto e Marco Aurélio Mello.
Ontem, porém, ao "esclarecer"
o seu voto a pedido da Itália,
Eros Grau afirmou que não votou pela "discricionariedade"
de Lula para decidir sobre o caso, mas pela "não vinculação"
da posição do presidente ao que
foi decidido pelo Supremo.
Em outra palavras: dizendo
isso, ele derrubou a maioria de
cinco ministros sobre a liberdade absoluta de Lula para decidir. Grau acrescentou que, pelo
seu voto, Lula é obrigado a observar o que diz o tratado.
O tema voltou ao plenário do
STF por conta de uma questão
de ordem proposta pelo governo da Itália, que comemorou a
decisão de ontem. Derrotados
pelos demais colegas, Marco
Aurélio e Ayres Britto disseram
que tal modificação deveria ser
feita após a publicação do acórdão, o que ainda não ocorreu.
O tratado permite que Lula
não extradite Battisti, mas, para isso, ele terá de utilizar uma
das justificativas presentes no
documento. A única que se encaixa ao caso é o "temor de perseguição política" -argumento
usado pelo ministro Tarso
Genro (Justiça) para dar o refúgio ao italiano.
Em novembro, o STF autorizou a extradição de Battisti,
mas afirmou que a palavra final
é do presidente da República. A
mudança de ontem não altera
substancialmente o resultado,
mas abre espaço para futura
contestação a Lula no STF.
Ontem, por meio de nota, o
advogado de Battisti afirmou
que a decisão final ainda é do
presidente da República, que
"deverá tomar a sua decisão
com base na Constituição".
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