São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2009

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MOVIMENTO SEM TERRA, 25 ANOS

Terra produtiva cresce, mas maior parte continua com poucos

De 1992 a 2003, houve um salto de 73% no número de propriedades com mais de 2.00 hectares; já as áreas médias e pequenas tiveram um aumento de 46%

AFONSO BENITES
DA REDAÇÃO

Mesmo com o aumento na quantidade de assentamentos rurais e a atuação dos movimentos sociais para que o governo crie novos projetos, a maior parte das terras ainda permanece nas mãos de grandes agropecuaristas.
Os últimos dados do Dataluta (banco de dados da luta pela terra) apontam que entre 1992 e 2003, período que consta do último censo agropecuário divulgado pelo IBGE, a área usada para a agricultura e pecuária no país aumentou de 310 milhões de hectares para 418 milhões. No entanto, ela está concentrada nas mãos de um grupo menor de pessoas.
Enquanto em 1992 existiam 2,9 milhões de propriedades rurais com mais de 2.000 hectares, em 2003, esse número saltou para 4,2 milhões, um crescimento de 73%.
Por outro lado, a quantidade de propriedades consideradas médias e pequenas (inferiores a 2.000 hectares) registrou aumento de 46%.
A extensão da fronteira agrícola, a mecanização das atividades rurais e a expulsão dos trabalhadores do campo são alguns dos fatores que, segundo o coordenador-adjunto do Núcleo de Estudos, Projetos e Pesquisas em Reforma Agrária da Unesp, Clifford Andrew Welch, contribuíram para aumentar a concentração de terras.
Para o pesquisador, o governo brasileiro tem falhado no processo de reforma agrária. "Como ainda há milhões de famílias querendo terra, pode-se dizer que o que se chama de reforma agrária hoje é um tipo de programa de assistência social sem o apoio suficiente para realmente viabilizar o pequeno agricultor", analisa.
O cenário poderia ser pior se os movimentos sociais não pressionassem o governo para que mais famílias fossem assentadas, avalia Welch.
"Falamos que a reforma agrária nunca houve e, sem os movimentos, não teria nem 20% das pessoas assentadas como estão hoje. Muito do que foi conseguido em termos de criação de assentamentos é devido a mobilização dos movimentos sociais, como o MST", afirma o pesquisador.
Nos últimos 30 anos, 7.841 assentamentos foram criados, conforme os dados do Dataluta. Em média, o governo federal instituiu 261 projetos por ano no período.
No entanto, entre 1979 e 1984, ano em que surgiu o MST, a quantidade de assentados era bem menor. Durante esse período, foram instituídos 528 novos projetos rurais para pequenos agricultores, uma média anual de 105.


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