São Paulo, quarta-feira, 18 de fevereiro de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Senadores petistas sugerem que investigação do caso Waldomiro também inclua campanhas anteriores; PMDB e oposição reagem

PT fala em ampliar CPI e gera crise na base

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os senadores do PT sugeriram ontem uma investigação ampla de suspeitas de contribuições ilegais de campanha no governo passado e acabaram provocando uma crise na base aliada.
O objetivo dos senadores do PT era tentar acuar a oposição e impedir a instalação de uma CPI no Congresso para investigar a suposta cobrança de propina pelo ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil Waldomiro Diniz. A idéia, porém, causou reações contrárias e críticas dos partidos aliados e da oposição.
Os presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), criticaram a proposta. Até dentro do Planalto ela foi mal recebida.
Em reunião da bancada petista no Senado, ontem de manhã, os 13 senadores apoiaram a decisão de uma CPI ampla. O partido ressalta, no entanto, que não tomará a iniciativa de pedir a instalação da CPI "ampla, geral e irrestrita". Ela só ocorrerá se a comissão para investigar o caso Waldomiro Diniz for inevitável. Nesse caso, a CPI não trataria só desse tema.
A decisão do PT desagradou até ao seu principal aliado, o PMDB, que possui a maior bancada na Casa, com 23 senadores. A avaliação do PMDB é que a estratégia petista está errada e só tumultuará mais o Congresso.
O PSDB, responsável por colher as assinaturas de apoio à comissão parlamentar de inquérito, e setores do PFL que apóiam as investigações dizem que concordam com uma CPI mais ampla, desde que sejam criadas duas: uma do caso Waldomiro e outra para tratar de casos anteriores.
"Se vamos olhar para trás, para esse episódio de 2002, vamos olhar com coragem e investigar tudo. Se vamos voltar dois anos, que voltemos oito", disse o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), referindo-se aos oito anos da gestão Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
"Há R$ 10 milhões de uma planilha da campanha do Fernando Henrique que não foram explicados, há indício de um caixa dois do [José] Serra de R$ 24 milhões. Vamos investigar o Ricardo Sérgio [ex-diretor do Banco do Brasil ligado a Serra], o Luiz Carlos Mendonça de Barros, a privatização das teles", disse ele.
Questionado se na lista também entraria o caso Lunus, de financiamento da campanha presidencial de Roseana Sarney (PFL-MA), aliada do Palácio do Planalto, Mercadante disse que sim.

Tiro no pé
Em um primeiro momento, a estratégia petista serviu para unificar a oposição pela abertura da CPI. "Isso atiça porque fica com cara de ameaça, de metralhadora giratória. Leva as pessoas a assinar o requerimento porque, se você fez parte do governo passado e não assinar, parece que tem medo de ser investigado", afirmou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que é aliado do governo, mas assinou o pedido de CPI.
"Agora é que eu assino mesmo. Assino uma CPI restrita, uma CPI ampla, qualquer CPI, porque eles [petistas] querem nos acuar e não vão conseguir. Querem insinuar que aqui [Senado] só tem lama e não admitimos isso", disse o líder do PFL, José Agripino Maia (RN).
Procurado em seu gabinete no meio da tarde por Mercadante, Agripino reagiu dizendo a ele que o partido governista estava "cooptando" os senadores e que isso teria um efeito bumerangue.
"Ao dizer que querem investigar tudo, querem que nada seja investigado. Estão dizendo que tem uma quadrilha aqui, mas tem outra ali", disse o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), que está recolhendo as assinaturas.
Além do requerimento da CPI do caso Waldomiro, Paes de Barros começou a circular ontem um pedido para a instalação da CPI ampla para desmontar o argumento do governo. A senadora Heloísa Helena (sem partido-AL) assinou os dois dizendo que "quem é podre que se quebre".
O PSDB alega que já tem 25 das 27 assinaturas necessárias para investigar o caso Waldomiro. O PDT, que possui cinco senadores, fechou questão de apoio à CPI.
No início da noite, Mercadante recuou um pouco na tribuna da Casa. "Faço um apelo. Pedimos um voto de confiança para a Polícia Federal investigar o caso, para o Ministério Público fiscalizar."


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