São Paulo, domingo, 18 de março de 2007

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Acusado, Balbinotti desiste de se tornar ministro de Lula

Série de denúncias após convite do presidente fez PMDB rever apoio a deputado

Agricultor, que se diz perseguido, havia sido indicado pelo presidente e tomaria posse quinta, mas não resistiu às suspeitas

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O deputado federal Odílio Balbinotti (PR) telefonou no início da tarde de ontem para o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), e desistiu da indicação para o Ministério da Agricultura. Sua posse estava marcada para quinta-feira.
Quatro dias depois de ser indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, jogou a toalha em razão do noticiário dos últimos três dias com reportagens que questionaram a lisura do seu patrimônio. Há suspeita de que tenha usado laranjas para obter empréstimo no Banco do Brasil. Ele nega.
Balbinotti disse a Temer que estava sendo pressionado pela família a desistir, que não pedira para ser ministro e que desejava se aconselhar. Maior produtor de semente de soja do país, afirmou que desejava "sair por cima". Temia esperar a reunião de amanhã entre Temer e Lula, quando ambos reavaliariam sua indicação, como combinado na sexta-feira, à luz do noticiário do fim de semana.
Balbinotti disse que consultara familiares e colegas de bancada e que ouvira que seria conveniente se antecipar à reunião entre Lula e Temer. Temer avaliou que seria uma solução, mas que a decisão sobre desistência era só dele.
Balbinotti disse que achava melhor desistir. Pediu, então, que Temer redigisse uma nota. "Foi uma decisão pessoal", diz Temer, que ligou em seguida para o Palácio do Planalto e deixou recado para Lula, a fim de lhe avisar da desistência.

Inquérito no STF
Tramita no STF (Superior Tribunal Federal) um inquérito sigiloso que investiga a suspeita de falsidade ideológica e de crime contra a fé pública.
A suspeita é que Balbinotti teria forjado documentação para obter empréstimo do Banco do Brasil.
Na atual fase, o inquérito aguarda a documentação oficial do empréstimo para perícia técnica. Ou seja, confirmação da falsificação.
Depois, o Ministério Público Federal decidiria se oferecerá denúncia ao Supremo. Se feita a denúncia, caberia ao tribunal rejeitá-la ou aceitá-la.
Balbinotti argumenta que não há, portanto, uma acusação formal contra ele, mas suspeitas em apuração e sobre as quais se diz tranqüilo. Segundo deputado federal mais rico, declarou à Justiça Eleitoral em 2006 ter bens no valor de R$ 123,8 milhões.

"Jeitão"
Na conversa em que foi apresentado a Lula, na manhã de quinta-feira, Balbinotti se disse um "pé-vermelho".
Contou que começara aos 10 anos a trajetória de menino pobre para homem rico. Mais tarde, o presidente comentou com ministros que gostara do "jeitão" de Balbinotti.
Na sexta, Temer procurou Lula, para deixá-lo à vontade a respeito de eventual substituição. Balbinotti pediu ao peemedebista que dissesse ao presidente que, se ele desejasse, poderia trocá-lo.
Temer e Lula conversarão amanhã para tentar achar um entre os 91 deputados federais do PMDB. Com a resistência de Lula a Waldemir Moka (MS), cresceu a cotação de Reinhold Stephanes (PR), mas pesa contra ele ter sido ministro do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Os peemedebistas terão cinco ministérios no segundo mandato de Lula.


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