São Paulo, quinta-feira, 18 de março de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS

Contra os golpistas miúdos


Sem a guerra movida por Cabral, vítimas da usurpação dos royalties do pré-sal talvez nada conseguissem


A CHUVA, muito impertinente, algum boicote e o temor de confundir seu apoio à causa com apoio ao governador Sérgio Cabral prejudicaram a manifestação pública, no centro do Rio, contra a usurpação dos royalties hoje recebidos e a receber, com o pré-sal, pelos Estados produtores de petróleo -dos quais o Estado do Rio proporciona mais de 85% da produção brasileira. Com circunstâncias tão desfavoráveis, a que não faltou a concepção de show musical fora do lugar, não há como atribuir insucesso ou êxito à manifestação. A iniciativa passa a ser, por si mesma, o valor a considerar-se.
E a iniciativa foi de Sérgio Cabral. Como o ponto mais incisivo, até aqui, da energia de sua reação surpreendente ao projeto aprovado pela Câmara. Mas nisso não esteve sozinho, apesar da importância dada a aspectos políticos a ponto de não se interessar pela adesão, nas reações em nome do Estado do Rio, de adversários (ou nem tanto).
Os prefeitos do norte fluminense, onde se localiza a grande exploração petrolífera, uniram-se e mobilizaram-se com rapidez para reagir, com ações políticas e com numerosas providências judiciais, ao menos sete delas no Supremo Tribunal Federal. Mas a repercussão de seus atos não ultrapassa a barragem constituída pela muito escassa cobertura do interior estadual nos meios de comunicação maiores; pelo fato de que a ex-governadora Rosinha Matheus, prefeita de Campos, é a presidente da associação daqueles prefeitos, o que leva a boicotes; e pela exclusividade de liderança conveniente a Sérgio Cabral.
Apesar disso tudo, a ação do grupo de prefeitos teve vários efeitos positivos no governo e no Congresso. E a iniciativa da manifestação de ontem não ficou, por ser de Cabral, sem o apoio presente do grupo.
Nesse conjunto de fatores favoráveis e contrários ao Estado do Rio e a seu parceiro Espírito Santo, será injusto não reconhecer que à tempestuosa reação de Sérgio Cabral deve-se a insurgência do clima que, depressa, se alastrou e incinerou a sobrevivência do projeto do deputado Ibsen Pinheiro tão logo aprovado.
Sem a guerra movida por Cabral, as vítimas da usurpação talvez nada conseguissem. E, no entanto, não há como a fórmula de Ibsen Pinheiro possa se recuperar, se o próprio Ibsen, que em má hora ressurgiu do sumiço a que suas leviandades o condenaram, sujeita-se a propor remendos à sua criação teratológica até no Senado, onde não é chamado.
Ainda que cada hipótese aventada de solução inclua alguma dificuldade, e mal se possa presumir qual delas teria trânsito melhor, certo é que mesmo a ordem interna está invocada: o governo já tem a advertência de que a contraposição exaltada de Estados, entre si, contém um perigo potencial. Logo, o encaminhamento é todo a favor da reposição de direitos a quem a Constituição os concede explicitamente, e que golpistas de quinta categoria quiseram abolir.


Texto Anterior: Senado chama tesoureiro do PT para depor
Próximo Texto: Lista de suspeitos no mensalão do DF cresce
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.