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Tributaristas dizem que reforma de
Lula é tímida e beneficia os Estados
ROBERTO COSSO
DA REPORTAGEM LOCAL
A proposta de reforma tributária apresentada anteontem pelo
governo federal é tímida e os Estados são os maiores beneficiários
das mudanças, na opinião de especialistas em direito tributário
ouvidos pela Folha.
O advogado Roberto Quiroga
Mosqueira, professor da PUC-SP
e da FGV, afirma que a proposta
não atinge nenhum dos quatro
princípios que inicialmente norteavam a reforma tributária.
Para Quiroga Mosqueira, "não
há simplificação na cobrança dos
tributos, a reforma não insere o
Brasil na globalização [porque
não ocorre a transformação do
ICMS em IVA, imposto sobre valor agregado", não há redução na
carga tributária e não há deslocamento da tributação da produção
para o consumo".
O advogado Ives Gandra Martins, professor emérito das universidades Mackenzie e Paulista,
diz que o governo ganha e o contribuinte perde com a proposta.
Para ele, a reforma deverá aumentar a carga tributária brasileira.
O advogado Cândido Henrique
de Campos, de São Paulo, afirma
que a proposta de reforma do governo não ataca os dois principais
problemas do país: a altíssima
carga tributária e a péssima distribuição de renda.
"O projeto do governo é o projeto da reforma possível. As mudanças são muito pequenas, mas
positivas: o projeto simplifica a legislação do ICMS e consegue que
alguns ganhem, sem que haja
grandes perdedores", afirma o
advogado Marcelo da Silva Prado,
diretor do IPT (Instituto de Pesquisas Tributárias).
Os advogados são unânimes em
dizer que os Estados são os maiores beneficiários do projeto de reforma tributária, porque irão aumentar suas arrecadações.
Quiroga Mosqueira diz que "a
reforma tributária reforça o regime federativo". Campos afirma
que "os Estados reclamam de barriga cheia". Segundo o projeto, o
ITR (Imposto Territorial Rural)
deixaria de ser recolhido pela
União e passaria a ser cobrado pelos Estados. Os municípios ficariam com 50% do valor total arrecadado, como ocorre hoje.
"O ITR é um imposto que gera
pouca arrecadação para a União,
é difícil de ser cobrado e há graves
problemas na fiscalização", diz
Silva Prado, que espera maior eficiência dos Estados na cobrança.
Gandra Martins, por outro lado,
diz temer que, por causa da situação financeira dos Estados, o ITR
deixe de ser um instrumento de
política fundiária para se tornar
um imposto de arrecadação.
A proposta de criação de alíquotas progressivas para o imposto
sobre herança e doações é outro
ponto que pode favorecer a arrecadação dos Estados. Hoje, há
apenas uma alíquota de 4%. Com
a progressividade, poderá haver
alíquotas muito maiores.
O terceiro item da proposta de
reforma tributária que beneficia
os Estados, na opinião dos tributaristas, é a adoção de uma legislação única para o ICMS, com apenas cinco alíquotas. Isso significa
o fim do maior instrumento para
a promoção da guerra fiscal.
Governadores
Entre os governadores, a reforma acordada com Lula também
não é a mudança ideal. Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) minimizou
ontem a importância da concessão do ITR aos Estados.
"Para a Paraíba é absolutamente desprezível. Temos 2/3 do Estado em uma região semi-árida, onde as terras valem muito pouco.
Uma coisa é ter 20 ha em Campos
do Jordão [SP], que valem mais
do que 2.000 ha no semi-árido da
Paraíba", disse Cunha Lima.
Simão Jatene (PSDB-PA), informou ontem, por meio de uma nota, que recebeu garantias de Lula e
do ministro Antonio Palocci Filho
(Fazenda) "de que os Estados exportadores serão contemplados
na proposta de reforma tributária
que será enviada ao Congresso".
Colaborou a Agência Folha
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